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11 de maio de 2024

Fotógrafo cearense concorre a prêmio nacional de arte contemporânea

Nesta 10ª edição, o Prêmio PIPA anunciou os artistas indicados no final de fevereiro. Samuel Macêdo, que é caririense, participa pela primeira vez
Ensaio com os Caretas de Potengi, Sitio Sassaré na Lagoa. Foto: Divulgação/Samuel Macêdo

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O primeiro contato de Samuel Macêdo com uma câmera foi ainda criança, na oficina do seu avô Assis. Lá, entre outras bugigangas, o pequeno se apaixonou por uma caixa escura com espelho, que reproduzia a câmara escura, um princípio que serviu de base para a invenção da fotografia.

Sem perceber, a imagem já o fascinava. Prestes a completar 40 anos, Samuel se tornou fotógrafo de bagagem, apesar da pouca idade. Seu trabalho o levou a ser um dos indicados ao Prêmio PIPA, um dos mais importantes sobre arte contemporânea brasileira.

A trajetória dele até o reconhecimento envolve persistência e oportunidade. Profissionalmente, inicia-se na Fundação Casa Grande – Memorial do Homem Kariri, organização não-governamental, cultural e filantrópica criada em 1992, em Nova Olinda. Ali, Samuel e outras crianças puderam desenvolver talentos que vão desde a música à produção audiovisual.

A entidade criou a TV Casa Grande, desenvolvida com programação própria pelas crianças e adolescentes, que se dividiam entre edição, iluminação, produção e reportagem. Samuel, aos 13 anos, era o operador de câmera. “Sempre tive a ideia de filmar e fotografar até chegar a TV Casa Grande, em 1997”, recorda.

O grande ‘start’ na profissão ocorreu com a visita do cineasta e diretor Roberto Berliner, que viajou até o Cariri para gravar um programa com a fundação. Todo aquele equipamento e estrutura o encantou ainda mais. “Ele me entregou uma câmera para fazer o making off e aí viajei naquilo de filmar”, lembra Samuel. O audiovisual ainda esteve muito presente nos anos seguintes. Mais uma vez, ele seria responsável por gravar os bastidores de outra produção, dessa vez do professor, pesquisador e diretor Henri Arraes Gervaiseau. “Tive a oportunidade de, logo cedo, aprender com gente muito grande”, exalta.

Mas a fotografia era seu grande objetivo. Era o que realmente o apaixonava. A guinada até ela começou a partir de um trabalho sobre a paleontologia na região do Cariri. Na época, Samuel era diretor da TV Casa Grande e participou deste trabalho fotografando. “A Fundação conseguiu comprar uma câmera. Era uma Sony Mavica, daquelas de disquete”. Dali, sua vida profissional não teria mais volta.

Após mudar-se para o Crato, onde trabalhou cinco anos com produção cultural, Samuel voltou a se dedicar diuturnamente à fotografia. “Não sei se foi uma coisa consciente”, admite. O primeiro grande trabalho foi o livro de 20 anos da Fundação Casa Grande, onde suas fotografias ilustram a publicação ao lado de outro fotógrafo experiente, o paraibano Augusto Pessoa.

Depois de algum tempo, recebeu o convite para participar do trainee do jornal Folha de S. Paulo. Foi lá que surgiu a ideia do Projeto Infâncias, criado pelas jornalistas Gabriela Romeu e Marlene Peret, que percorreu distintas realidades socioculturais brasileiras, registrando a vida de meninos e meninas do Brasil. “Acho que houve o interesse de ver como uma pessoa que fotografa desde criança trabalha fotografando crianças”, acredita Samuel.

Outros trabalhos importantes foram as turnês, dentre elas o projeto Mestre Navegantes, idealizado pelo músico, produtor e diretor Betão Aguiar, que registra manifestações musicais da cultura popular do Brasil na produção de discos, filmes, fotografias e textos. “Foram coisas interessantes que me botaram em outro lugar na fotografia, num lugar de respeito”, explica o fotógrafo. Os registros por trás das lentes fizeram ele percorrer quase todos os estados do Brasil e países como Espanha, Portugal, Itália, Canadá, Estados Unidos e Peru.

Reconhecimento
Foi através dessa rica trajetória, que Samuel foi selecionado pelo grupo de curadores do Prêmio PIPA, criado em 2010 para ser o de maior destaque nas Artes Visuais brasileiras. Ao todo, são 63 indicados de todo o país. Destes, quatro serão premiados a partir da escolha de um conselho e irão expor no Paço Imperial, no Rio de Janeiro. Outros dois serão agraciados a partir de votação on-line.

Todos os artistas indicados terão direito a ter uma página no site, inclusão no catálogo bilíngue, vídeo-entrevista e divulgação em sites e mídias sociais. A ideia de Samuel é mostrar seus registros da cultura popular do Cariri, como o reisado. “Só a visibilidade é muito grande. Nesse meio é a primeira vez que estou aparecendo. Sei que tem muita gente que merece, mas isso faz meu trabalho repercutir mais, chegar em mais locais”, celebra o fotógrafo.

Nesta 10ª edição, o Prêmio PIPA anunciou os artistas indicados no final de fevereiro. A expectativa é que os quatro premiados sejam anunciados no dia 31 de maio. Até lá, o portfólio será estruturado no site da premiação. Já a votação on-line ocorrerá a partir de 1º de julho. A expectativa é que o anúncio saia até o dia 22 daquele mesmo mês. A exposição está prevista para agosto e finalizada em novembro, com lançamento de catálogo com o trabalho de todos os concorrentes.

Antonio Rodrigues

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