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20 de maio de 2024

Sindipostos vê mudança da Petrobras como “remar contra a maré” do mercado; economistas discordam

A Petrobras destaca que o valor cobrado ao consumidor final nos postos é afetado por outros fatores como impostos, mistura de biocombustíveis e margens de lucro da distribuição e da revenda
Foto: José Cruz/Agência Brasil

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A Petrobras anunciou nesta terça-feira, 16, a redução em R$ 0,44 por litro do preço médio do diesel para as distribuidoras, que passará de R$ 3,46 para R$ 3,02. Já o preço médio da gasolina será reduzido em R$ 0,40 por litro, passando de R$ 3,18 para R$ 2,78 – valor pago pelas distribuidoras. O consultor de economia do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Estado do Ceará (Sindipostos), Antônio José, vê a medida como incerta para o bolso do consumidor final e julga a estatal remando contra a maré do mercado internacional.

Em entrevista ao OPINIÃO CE, o especialista avalia como incerta a nova política da empresa, uma vez que, segundo ele, a Petrobras não é a única distribuidora de combustível do mercado.

“A empresa representa na faixa de 65% a 70%, mas existem outros fornecedores, como a refinaria localizada na Bahia, no Rio Grande do Norte, em Manaus e em outros países. Os postos aqui da Capital recebem também de outras distribuidoras, que tanto importam direto ou compram de terceiros como compram da Petrobras. A estatal está garantindo a condição dela, mas não garante a dos outros. Na nossa avaliação, a Petrobras está indo contra a maré porque, na realidade, a maioria do nosso petróleo vem do estrangeiro”, revela Antônio José.

Ainda conforme o economista, no momento em que a Petrobras tabela sem considerar a política externa, “os demais players vão continuar comprando de fora e, se subir demais, a Petrobras não vai ter condições de atender e o mercado externo não vai querer vender perdendo dinheiro”, complementa.

Em nota, a Petrobras destaca que o valor cobrado ao consumidor final nos postos é afetado por outros fatores como impostos, mistura de biocombustíveis e margens de lucro da distribuição e da revenda.

“A Petrobras recupera sua liberdade de estabelecer preços. Nos alforriamos de um único e exclusivo fator, que era a paridade”, afirmou o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates à imprensa, em Brasília.

A estatal anunciou também uma redução de 21,3% no preço médio de venda do gás liquefeito de petróleo (GLP). A partir desta quarta-feira, 17, a empresa venderá o botijão de 13 quilos de GLP às distribuidoras por um valor, em média, R$ 8,97 inferior ao atual. Se as distribuidoras repassarem a economia integralmente ao consumidor final, o botijão poderá chegar às residências pelo preço médio de R$ 99,87.

“Esta é a melhor notícia. Baixamos [o preço do botijão] de R$ 100”, comentou Prates logo após se reunir com o ministro de Minas e Energia. Segundo o presidente da Petrobras, esta é a primeira vez, desde outubro de 2021, que o preço do botijão de gás vendido às distribuidoras cai abaixo dos R$ 100.

ESTABILIDADE NA INFLAÇÃO

O professor universitário e economista, Fábio Sobral, avalia a iniciativa como positiva para a inflação brasileira. O valor do IPCA hoje está em 0,61%, de acordo com dados divulgados em 12 de maio pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) referente ao mês de abril de 2023. A inflação ficou acima do previsto, puxada pelo aumento do preço dos remédios, autorizado pelo governo.

“Os preços combustíveis são uma parte importante da inflação porque eles não mudam sozinhos. Quando se aumenta a gasolina e o diesel, o preço de produtos e de certos serviços são empurrados para cima pelo aumento dos combustíveis, como as passagens aéreas. Se eles começam a cair, por sua vez, devido à implementação de uma nova política baseada nos custos internos e não no preço internacional, a inflação fica sob controle“, avalia o especialista.

Na prática, segundo Fábio, isso trará um alívio para os brasileiros, uma vez que os preços dos alimentos que chegam ao consumidor, por exemplo, também podem ser afetados com a queda de preços porque os produtos vão chegar às prateleiras de supermercados com um custo mais barato em seus fretes.

Já a política externa da Petrobras não muda nada: “[a estatal] continuará vendendo os seus barris de petróleo no mercado internacional pela média do preço internacional. Os lucros estavam sendo abusivos. O consumidor brasileiro estava pagando por esse combustível mais caro e esse dinheiro ia parar diretamente no bolso dos acionistas. Era, de fato, um programa de transferência dos pequenos consumidores para grandes acionistas”, defende o economista.

Para o economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Ricardo Coimbra, a medida anunciada hoje é uma conjunção de variáveis que serão trabalhadas, ainda não tão explícitas, de uma composição média do preço que será praticado, ou seja, ele terá o componente de importação e de custo de produção no mercado local e de uma precificação vinculada com o custo logístico.

“É evidente que não se terá uma volatilidade em função das alterações do preço internacional. Isso pode ser positivo principalmente para o consumidor final, mas de alguma forma, haverá a diminuição da perspectiva de lucratividade da companhia, mesmo que as ações venham subindo. Haverá uma redução significativa na inflação nos próximos meses”, projeta Ricardo.

Assim como o professor de economia Fábio, Ricardo conclui que na política externa não haverá nenhum “tipo de mudança visto que já se esperava por isso”.

A nova estratégia promete por um ponto final no Preço de Paridade de Internacional (PPI), a política de preços que, desde 2016, atrelava os preços médios dos combustíveis que a Petrobras vende às distribuidoras às variações dos produtos no mercado internacional, entre outros fatores, para proteger a empresa quanto aos riscos operacionais do setor. Segundo a petrolífera, a nova política de preços terá efeitos práticos que serão sentidos nos próximos dias.

Priscila Baima

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