Peguei a estrada, quer dizer, peguei a trilha no rumo da Capital. Olhei porta, olhei porca, olhei a gasolina e a bagagem; amarrei tudo. Fiz um feixe pra não cair na barragem. Não são versos: é uma rima pobre de um cidadão que tem feito o que pode e o que não pode pra ver os outros com a vida melhorzinha que seja.
E, quando peguei a trilha, a memória passada a brasso, brilhosa e copiosa de entendimentos, deram nos versos de Casa de Caboclo, moda da dupla Rick e Renner: “Tem um ditado aqui em nosso recanto que o pouco com Deus é muito e o muito sem Deus é nada/Não repare minha estrada esburacada ela é trilha de boiada ela é rota de tropeiro/Quando chove é uma lama grudadera quando é sol vira poeira parecendo um fumaceiro.”
Nesse rebolado, cai aqui, cai acolá, vou indo de buraco em buraco, que estrada não há mais pelas BRs. Acabou. Um amigo frasista, outro de quem vou me aproveitar, diz quando a coisa tá difícil: “A vida é um galo pelado cheio de mondrongo. Se a vida está na estrada, o galo tá pelado e cheio de buracos.”
Fomos largados ao pó, sem direito a nada. O que temos, fazemos nós. O que somos, fazemos nós. Quem andar pelos becos poeirentos e lamacentos dos caminhos, só vê buracos. No Ceará, eternamente homens nas pistas fazendo de conta que estão tapando buracos.
Não dura uma semana o suposto conserto, seja na chuva, seja no sol. Enquanto isso, aqui pertinho, na Paraíba, as mesmas BRs são verdadeiros tapetes bem engomados. A gente faz da vida uma canção, tira um dó do peito e toca sem medo de quebrar o canjirão, o pote onde carregamos o vinho pra Santa Semana.
A estrada, a grande, um dia metida a bonita, asfalto e meio fio, no sentido mais amplo da palavra é um salto no escuro, um susto, uma quebrada, uma ladeira abaixo na civilização, um elo perdido por estas bandas nordestinas onde tentam nos fazer de bobos anunciando jogos de educação na TV, como se educação fosse.
Tá ficando insuportável. Tá ficando difícil. Tá ficando parecido com aquilo que ouvi um dia das bocas malsinadas dos negacionistas da época, dos escravagistas, dos que botaram cobras em buracos fechados com grávidas nuas que lhes negaram palmas, ôbas e tapinhas às costas.
Brasil, ame-o ou deixe-o. Eu amo minha terra, jamais vou deixá-la às mãos de mentes dolorosamente vazias do bem. Pena que vocês aí, que voam em suas máquinas brancas, olhem do céu o tapete que nos espeta a alma quando tentamos sair de casa. Um dia, volta o cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar.