O teatro, uma das expressões artísticas mais antigas da humanidade, surgiu na Grécia Antiga, no século IX a.C. De lá, a arte da representação prosperou e encantou pessoas em locais como Índia, Egito, China e em igrejas da Idade Média, até chegar ao Brasil, onde foi comemorado nesta segunda-feira, 19, com o Dia Nacional do Teatro.
Em Fortaleza, companhias teatrais retornam à normalidade após a pandemia e citam os desafios de exercer a atividade das Artes Cênicas na Capital, além de destacarem a importância do teatro para a sociedade. Almeida Júnior, diretor-presidente da Cia. Teatral Acontece, de Fortaleza, fala ao OPINIÃO CE sobre a importância dessa arte milenar.
“A principal importância do teatro para a sociedade é que ele trabalha o ser humano por inteiro, o corpo, a mente e o espírito. Uma pessoa que trabalha esses três aspectos na sua vida está preparada para viver e conviver em sociedade.”
Júnior também pontua o afastamento que há entre as atividades culturais, como o teatro, e a sociedade. “O não conhecimento sobre o teatro afasta as pessoas. Achar que aquilo é uma coisa feita só para a elite e achar que é algo inalcançável e distante de mim. Eu posso até chamar isso de preconceito. A partir do momento em que conhecem de perto e experimentam o teatro, elas têm uma nova visão. E essa é a minha missão enquanto educador. Trazer pessoas para conhecerem e trabalharem o teatro e perceberem o benefício da arte na vida delas.”
Para o artista, há efeito da pandemia na adesão ao teatro e em como se encontra a atividade teatral hoje, num contexto pós-pandemia. “Durante a pandemia, teve um certo afastamento das pessoas, que estavam com medo de contato e convívio social. Logo no início, foi difícil, mas agora as pessoas estão voltando. Gente gosta de estar perto e de socializar. Gosta de sentir o cheiro do outro. E hoje no cenário pós-pandemia a gente está se reerguendo, né?”
Nelson Albuquerque, ator e produtor do grupo Pavilhão da Magnólia, comenta o valor do teatro. “É uma linguagem cultural. Então, a partir do momento que algo está inserido na cultura, a importância já se coloca aí. Você está refletindo sobre o seu tempo e dialogando. O teatro é a arte do encontro. O ato de ter alguém assistindo é uma potência muito forte. Traz discussões temáticas, sensitivas, dialéticas, estéticas. Portanto o teatro é um elo importante dentro do cardápio das artes.”
Sobre as apresentações durante a pandemia, o ator afirma que o teatro passou por dificuldades, mas conseguiu, ainda assim, se reinventar e se manter como importante expressão dentro da cultura. “Existe sempre a crítica de que o teatro vai acabar. Até mesmo na pandemia, ele conseguiu se reinventar de alguma maneira, dialogando pelas telas e trazendo temáticas que só o teatro consegue abordar.”
O artista também fala sobre o distanciamento entre a população e o teatro e destaca que há faltas de incentivo e de infraestrutura para as pessoas acessarem a atividade.
“Tem uma coisa de política pública. Nós, enquanto sociedade, não temos o hábito de ir a peças teatrais e de consumir cultura e nem temos o incentivo do governo. Se desde criança você passa a ter o contato com o teatro, com a música, você aos poucos cria esse costume quando se torna adulto. Na nossa cidade, os bens culturais se concentram no Centro, onde não há vida noturna e a questão do transporte é uma dificuldade. Então, as pessoas, mesmo que queiram, não conseguem chegar. O que reforça a ideia que o teatro é uma coisa da classe média, inacessível para a população”, adensa o ator e produtos.
O integrante do Pavilhão lamenta o desmonte cultural que aconteceu no Brasil. “A partir do momento que a cultura sai desse campo de Ministério, o Governo dá uma sinalização para os estados e os municípios que essa não é mais uma pasta tão importante. Nós do teatro sofremos como todo mundo. No Ceará, a gente continuou um pouco com projetos de formação, fomento à cultura e editais. Nós ficamos com o sentimento de para onde ir e o que fazer. Mas a própria mobilização, como a Lei Aldir Blanc, conseguiu colocar as coisas no canto. E nós estamos justamente nesse momento, de retomada e ver ainda o que vai acontecer”, concluiu, afirmando ainda que acredita que o teatro vem tentando se reerguer como linguagem artística e como categoria cultural dentro da sociedade.