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7 de setembro de 2024

Viva o rádio

Mesmo nesses tempos de audiovisual, o rádio sobrevive

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Quase não ouço rádio. Tinha um no carro que engasgou e não funciona mais. Outro dia, descendo a beira-mar em direção aos peixes, encontro um amigo das antigas e, para minha surpresa, de radinho de pilha colado no ouvido. Aproximo e ouço um noticiário rural. Fomos caminhando e conversando até o mercado, embalados pela voz sertaneja de um locutor que eu não conseguia identificar. Aos poucos, percebi do que se tratava. O Rio Jaguaribe tinha pegado muita água e a voz vibrante saudava o verde que se espalhava no sertão.

Conversamos sobre o momento do futebol do Fortaleza e nos despedimos. Fui em frente, pensando que, nesses tempos em que o audiovisual impera, o rádio permanece vivo. Refletindo sobre sua utilidade, percebo que é um veículo de comunicação diferente de todos os outros. Você pode fazer duas coisas ao mesmo tempo. Por exemplo: dirigir e ouvir música. A Sílvia, que dá uma força lá em casa, passa o dia com o rádio do seu celular ligado. Vai dando um jeito nas coisas, varre aqui, limpa ali, molha acolá e o som nos cantos da casa.

Uma partida de futebol pelo rádio tem seus encantos. O torcedor tem seu locutor predileto e ele vai narrando o jogo, aumentando a voz nos momentos de emoção: “a bola bateu na trave”, “passou raspando o travessão superior”, “foi pênalti”, “o jogador está na banheira”…

O repórter de pista interfere e, depois, o locutor retoma com “Meu cronômetro marca”, “O placar e o tempo contam a história da partida”, e finaliza com “E o tempo passou!”.  É um romance! As expressões acima criam as divisões temporais, como são os capítulos.

Apoiados nessas divisões, os locutores e suas equipes vão revezando e desenvolvendo narrativas, procurando dar um sentido e uma explicação para a irracionalidade do jogo. Necessitam de informações para desempenhar o papel que a história lhe reservou. A informação recebida e transmitida pelo locutor e sua equipe percorre um fio invisível, como se fosse um rastilho de pólvora, e atinge o coração do torcedor. O rádio é seu companheiro inseparável. Não basta ver o jogo. Um dia, um momento, algum lugar e ele dará seu testemunho.

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