Dois episódios momentos marcam uma presença da extrema direita em avanço: a vitória de Donald Trump, no dia 6 de novembro, em uma das apurações de votos mais acirradas dos Estados Unidos, e o atentado no dia 13 de novembro, na Praça dos Três Poderes, que resultou na morte do bolsonarista Tiu França, ex-candidato a vereador pelo partido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). O caso relembrou ainda a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, quando o prédio dos Três Poderes também sofreu ataques de golpistas apoiadores do ex-presidente.
Para o deputado federal Renato Roseno (PSOL-CE), em entrevista ao OPINIÃO CE, o debate sobre a presença de uma extrema direita violenta no Brasil é a principal pauta do poder público hoje.
“Eu acho que esse tema é o mais importante da esfera pública nos dias atuais. Tem-se um crescimento da extrema direita violenta em várias partes do mundo. Tem os resultados das eleições na Europa, das eleições na América do Norte, aqui também. Essa pauta é muito impulsionada no ambiente das redes sociais”, diz o deputado.
O parlamentar destaca ainda como os eventos de 13 de novembro e 8 de janeiro se relacionam com a formação de ideias conspiratórias e com os discursos de líderes políticos nas redes sociais em períodos de crise. Um exemplo é a primeira eleição de Donald Trump, fortalecida por grupos específicos das redes sociais, como os chamados “Incels” (sigla em inglês para “celibatários involuntários”).
“O que alimenta essas narrativas? Um presidente como ao Bolsonaro fazer reunião dentro do planalto, dentro de um equipamento público contra urna eletrônica, a desconfiança contra a vacina, o negacionismo. (…) No meio do caos alguém se apresenta como salvador da pátria, como foi o Bolsonaro. O caos ele gera, portanto, uma população vulnerável a esse discurso”, continua.
Roseno também destaca o parlamento como um exemplo de avanço da extrema direita no país. O Partido Liberal (PL), por exemplo, elegeu ao todo 99 do total de deputados, enquanto outras siglas do campo da direita, como o União Brasil, o PP e o MDB, somam juntas 148 parlamentares eleitos em 2022.
“A extrema direita quer tomar o Brasil de volta, e por isso ela tá minando, e ela mina por fora e por dentro, a partir do Congresso Nacional, com uma imposição de derrotas ao Governo. Esse é um problema do presidencialismo de coalizão. Você elege o presidente, sem deputados federais para uma determinada agência, agência eleita inclusive pela sociedade”, explica Roseno.