A vida me obrigou a uma nova pausa. Na verdade, nem foi a vida, mas a covid. Depois de muitos meses correndo, dormindo pouco e me equilibrando entre os amores e os trabalhos, fui obrigada a ficar na cama porque simplesmente a dor não me deixava continuar.
Não era uma dor qualquer. O corpo parecia ter sido moído numa máquina. A cabeça pulsava mais rápido que o coração. O nariz pegava fogo e a voz saia rouca. Além disso, uma espécie de enjôo, um fastio e um leve destempero no intestino.
Então, tive que desmarcar todos os compromissos da semana, tirei licença do trabalho e fiquei de molho por longos cinco dias.
Assim como eu, logo meus filhos começaram a apresentar os mesmos sintomas e ficamos os três internados em casa e obrigados a uma convivência intensa, como em uma mini quarentena dos tempos da pandemia.
Quando a febre e as dores davam uma trégua, geralmente no fim da tarde, eu ia assistir a mais um capítulo de Tieta que, inclusive é o livro que estou lendo no momento. Depois, voltava para os lençóis e continuava quieta. Aqui, acolá, eu lia mais um bocadinho. Não deu para avançar tanto nas leituras porque além da dor no corpo, a dor de cabeça também era quase constante.
No entanto, ao contrário da outra vez, na pandemia de verdade, em que tivemos momentos muito difíceis, de nervos à flor da pele, agora o carinho foi multiplicado. Eu amanhecia o dia cheia de dores, com febre e meio ofegante. Logo, algum dos filhos trazia remédio, água, comida e as coisas iam melhorando. O amor deles e o meu pareciam ter um poder de cura.
Depois, voltei a fazer as coisas que eles mais gostavam, que era servir o café da manhã e lermos juntos. Era eu voltando aos tempos em que eu tinha mais tempo livre. Estava com tanta saudade desses momentos de harmonia e carinho, que agradeci a Deus pela doença. Bendita virose que me trouxe para casa por mais tempo, para assumir meu lugar de liderança como mãe, que me fez distribuir mais afeto com quem mais importa.
Pensando nisso, percebi que nos tempos do isolamento, muita gente que foi obrigada a viver perto da família, terminou por escolher ficar longe. A convivência faz isso e nem sempre ela é agradável. Muita gente vai para os extremos. Ou une mais ou separa de vez.
No meu caso, os dias doente me fizeram compreender de forma ainda mais intensa a dádiva de ter uma família, de ter a quem abraçar no fim de um dia de trabalho. Isso é tão precioso. Que a gente lembre sempre disso quanto os dias ficarem mais escuros.