Iniciadas no final de 2018, na gestão Camilo Santana (PT), as obras da Linha Leste do Metrô de Fortaleza ainda geram caos nas ruas da Cidade, principalmente no bairro Aldeota, onde estão as obras da estação Rua Nunes Valente, local com grande concentração residencial.
Inicialmente prevista para 2022, por conta de atrasos ocasionados pela pandemia, a finalização da construção das estações que compõem a linha deve ocorrer somente em 2024. Enquanto isso, moradores e trabalhadores da região seguem insatisfeitos com os transtornos causados pela interdição do cruzamento entre a Avenida Santos Dumont e a Rua Nunes Valente.
Ao OPINIÃO CE, que esteve no local na última semana do ano passado, moradores e trabalhadores próximos ao cruzamento relataram que, na semana entre o Natal e o Réveillon, não houve movimentação de trabalhadores nas obras da linha metroviária. Além disso, essas pessoas também afirmaram que, em horários de grande fluxo de carros, como às 18 horas, trafegar pela avenida no sentido Aldeota é complicado, visto que o cruzamento entre a av. Santos Dumont e a rua Nunes Valente está interditado por conta das obras.
Elias Vieira, orientador de estacionamento nas proximidades, diz que trabalha há mais de dois anos no local e não viu mudanças nem evoluções na construção da estação desde que passou a ser colaborador do estabelecimento, em 2020. “É ruim. Não muda nada. Além disso, os carros têm que ficar passando por cima da calçada, o que incomoda bastante, principalmente quando o fluxo está grande.”
Adriano Rocha, morador do condomínio que também fica em uma das esquinas próximas à obra da estação, afirma que, às 18 horas, horário conhecido como “hora do rush”, por conta do grande fluxo de veículos, o cruzamento fica intransitável. “Acaba que a rua Torres Câmara, paralela à Nunes Valente, fica sobrecarregada também, porque você não consegue sair daqui seguindo o fluxo normal da avenida Santos Dumont, já que ela está totalmente interditada nesse trecho. Sair de casa nesse horário é quase impossível”, disse acrescentando não ter percebido mudanças desde o início das obras.
Outra moradora, Denise Lima, aponta para outro fato ocasionado pelo bloqueio da avenida Santos Dumont. Segundo ela, por conta da interdição, motoristas de aplicativo solicitados por pessoas que estão no local, precisam dar voltas para chegar ao destino ou ao ponto de embarque, o que torna as viagens mais caras e desgastantes tanto para os passageiros, quanto para os motoristas, que, além de atravessar um percurso maior, também enfrentam o grande fluxo de veículos automotivos que passam no cruzamento onde a obra da estação da Linha Leste está localizada.
INVESTIMENTOS INTEGRADOS
Com conclusão prevista inicialmente para dezembro do ano passado, a Linha Leste, que ligará o Centro ao Papicu em um tempo de viagem de 15 minutos, deverá ser inaugurada somente em 2024. A ordem de serviço para o início das obras da linha metroviária foi assinada em novembro de 2018 por Camilo Santana e pelo titular da Secretaria da Infraestrutura do Ceará (Seinfra), Lucio Gomes. Quando concluído, o trecho comportará, diariamente, 150 mil pessoas e terá 7,3 km de extensão ligando o Centro ao Papicu, com uma estação de superfície (Tirol-Moura Brasil) e outras quatro subterrâneas (Chico da Silva, Colégio Militar, Nunes Valente e Papicu). Todas seguem em ritmo lento de construção.
De acordo com o site oficial do Governo do Estado, o investimento previsto no início das obras foi de R$ 1,86 bilhão. Do total, a Linha Leste do Metrô de Fortaleza disponibiliza de investimento na ordem de R$ 1 bilhão financiado pelo Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), além de R$ 673 milhões do Governo Federal e R$ 186 milhões do Tesouro Estadual. O repasse de verbas do Governo Federal acontece por meio do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). À reportagem, o MDR informou que repassou R$ 703.6 milhões ao Estado para a realização de obras do Metrô de Fortaleza. Os recursos foram utilizados, acrescenta a pasta, para a implantação da Linha Leste e estações, linha Parangaba/Mucuripe do VLT, além das estações Padre Cícero e Juscelino Kubitschek.
Segundo o ministério, “esses investimentos se restringem aos realizados no âmbito do Departamento de Projetos de Mobilidade e Serviços Urbanos da Secretaria Nacional de Mobilidade e Desenvolvimento Regional e Urbano do MDR e não incluem outros investimentos que porventura possam ter sido realizados por outros órgãos e entidades vinculadas do Governo Federal.” O órgão conclui afirmando que parte do investimento federal no Metrô de Fortaleza foi feito com recursos da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU). Procurada, a CBTU não informou, até o fechamento deste conteúdo, quanto de verba foi repassada ao Governo do Ceará.
Até o momento, do total do empréstimo de R$ 1 bilhão que foi acordados entre BNDES e Governo do Estado em 2018, as liberações de crédito realizadas pelo banco para o projeto totalizam R$ 415 milhões, é o que informa a instituição ao OPINIÃO CE. Ainda segundo o BNDES, “os recursos são liberados à medida que as etapas do projeto vão sendo realizadas, em regime de pari passo.” Conforme também o banco, outras liberações foram feitas em anos anteriores. Para a Linha Sul, R$ 142,6 milhões entre os anos de 2008 a 2014. Entre 2013 e 2015, R$ 119 milhões foram destinados à aquisição de VLT´s, ao VLT Sobral, ao Shaft Linha Leste e à aquisição de sistema de bilhetagem da Linha Sul. Já, entre os anos de 2013 e 2021, R$ 121,5 milhões foram direcionados ao Governo do Ceará para a aquisição de tuneladoras.
Segundo informações da Seinfra de agosto do ano passado, o atraso na construção se deve à complexidade da obra e dos impactos causados pela pandemia. Ademais, as duas máquinas tuneladoras, utilizadas para escavar os túneis, estavam em manutenção na época, condensa.
A pasta também informou que as obras estavam em andamento com cinco frentes de serviços, que incluíam a construção de estações subterrâneas, no Centro e na Aldeota. Questionada sobre os motivos que levam ao atraso no avanço das obras atualmente, a Seinfra não respondeu até o momento da produção deste conteúdo. Além disso, o órgão não deu retorno sobre quais empresas já participaram das obras na Linha Leste e quais participam atualmente. Segundo a Seinfra, em agosto de 2022, 307 trabalhadores atuavam na obra. A ideia da construção é integrar a Linha Leste às outras linhas do Metrofor que já estão prontas e em funcionamento. A linha metroviária será interligada à Linha Sul do Metrô (Pacatuba-Centro) e ao VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) Parangaba- Mucuripe. Além disso, também há integração com a Linha Oeste, que sai do município de Caucaia no sentido Centro de Fortaleza.
OBRAS DE 1999
O Metrô de Fortaleza (Metrofor) iniciou suas obras em agosto de 1999. Segundo o Metrofor, cinco linhas estão previstas para existirem no projeto original. Destas, três já foram concluídas e estão em funcionamento, as quais são a Linha Sul, Linha Oeste e o VLT Parangaba-Mucuripe. A Linha Leste e o Ramal Maranguape ainda não tiveram suas obras finalizadas.
Ainda de acordo com o Metrofor, a Linha Sul do Metrô de Fortaleza é a maior linha metroviária em operação no Ceará, em extensão, quantidade de estações e de passageiros transportados. Por dia útil, cerca de 34 mil pessoas utilizam este sistema, que possui 20 estações em operação e seus 24,1 quilômetros de extensão, interligando Fortaleza e as cidades de Maracanaú e Pacatuba.
A Linha Oeste interliga o centro de Fortaleza ao município de Caucaia, na Região Metropolitana (RMF) da Capital. São 7,9 mil pessoas transportadas por dia, em média. De uma ponta a outra, são 19,5 km de extensão, passando por 10 estações.
O VLT Parangaba-Mucuripe percorre cerca de 13,2 km, passando por 10 estações. O VLT ainda se integra fisicamente ao sistema de ônibus de Fortaleza, com estações ao lado dos terminais de ônibus da Parangaba e do Papicu. Além disso, a linha é integrada à Linha Sul do Metrô de Fortaleza e será também integrada à futura Linha Leste.