O Conselho Universitário (CONSUNI), da Universidade Federal do Ceará (UFC), aprovou, na última sexta-feira (1º), a concessão de título de Doutor Honoris Causa para Maria da Pena Maia Fernandes e Rodolfo Marcos Teófilo, dois farmacêuticos que marcaram na luta contra opressões. As nomeações para essas personalidades são representativas em suas causas, já que é a primeira vez que a UFC concede o título para uma ativista dos direitos das mulheres e faz o reconhecimento de forma póstuma para uma pessoa já falecida. Além dessas homenagens, o conselho ainda solicitou a denominação da Concha Acústica da Reitoria a UFC como “Concha Acústica Bergson Gurjão Farias”, em alusão ao aluno de química da UFC assassinado durante o Regime Militar. 

O farmacêutico Rodolfo Teófilo, que veio com os pais para o Ceará com apenas um mês de vida, é considerado uma das principais personalidades da literatura naturalista. No começo do século XX, ele atuou no combate à varíola, desenvolvendo em sua casa a vacina contra a doença. Apesar das ações contrárias do governo Accioly, Teófilo comandou uma campanha de vacinação que auxiliou na erradicação da varíola no Ceará. 

“Vale destacar que o Campus do Porangabuçu está no coração do bairro Rodolfo Teófilo e, ainda, a relação com o momento que a gente viveu, com negacionismos contra a ciência e contra a vacina que foram inaugurados lá atrás. Então não podemos perder essa memória e é importante jogar luzes sobre as valentias que fizeram o estado do Ceará ser o que é hoje”, destacou o reitor Custódio Almeida. 

Considerada um símbolo do combate à violência doméstica, Maria da Penha é farmacêutica bioquímica formada pela UFC. Sua trajetória é marcada pela luta para a condenação do seu ex-companheiro, pois ela sofreu diversas agressões físicas e dupla tentativa de feminicídio ao longo do casamento. Maria da Penha deu nome a lei que estabelece medidas de proteção às mulheres vítimas de violência. 

“Essa é a primeira vez que uma ativista dos Direitos das Mulheres é indicada ao título de Doutora Honoris Causa na UFC. A titularidade, ao ser concedida à Maria da Penha Maia Fernandes, permite também que a universidade e a sociedade reflitam sobre as causas, formas e consequências de todas as formas de violência contra mulheres, assim como se motivem a se envolverem em mais ações voltadas à prevenção e punição dessa violência”, afirmou a vice-reitora da UFC, professora Diana Azevedo. 

LUTA PELA DEMOCRACIA

A Concha Acústica da UFC deverá receber a nomeação em homenagem ao aluno de química da instituição entre os anos de 1967 e 1972, Bergson Gurjão Farias, que foi assassinado pelo regime militar. Símbolo do luta pela democracia, os restos mortais de Bergson foram encontrados nos anos de 1990 após exames de DNA. Seu sepultamento ocorreu em 2009, em Fortaleza, encerrando quase quatro décadas de buscas por respostas pela família do estudante. O Conselho de sexta-feira (1º) também aprovou o Termo de Reconciliação Histórica com a Democracia e os Direitos Humanos. 

“A Concha Acústica é um local marcante, onde acontecem as colações de grau. Então, essa homenagem é essencial para que a gente entenda o que aconteceu no passado e saiba identificar as ameaças no presente. Dar o nome à Concha de alguém que dedicou sua vida para lutar contra a opressão é um símbolo de compromisso da Universidade”, disse o diretor da Faculdade de Direito, professor Gustavo Cabral.