A história de Midas conta que tudo que ele tocava virava ouro, riqueza. Aqui na realidade acontece assim também. Mas precisamos primeiro pensar no que é a riqueza para nós adultos. Para uns, muito dinheiro ao ponto de não ter nada material que se deseja que não seja alcançável. Para outros, dormir em paz. Para uns, um final de semana com comidas e bons vinhos, para outros, um sorriso de gratidão. Para uns, dias extraordinários, para outros, um dia a mais de vida. Riqueza é relativo para nós adultos, e pode sim ser tudo isso. Mas na infância, não existe relativização, existe o absoluto. O que é, é. Não é opcional o que se entende, a criança simplesmente recebe e… vive. Internaliza impressões puras, sem filtros ou escolhas. E na infância não existe espaço para o desejo ardente pelo mundo material. Não existe! Então eu posso dizer aqui sem pestanejar que riqueza para uma criança é estar viva. É existir. Ter vida em abundância.

E quando um bebê nasce, ele se torna um conquistador desta vida. Ele está sedento por conquistar. E veja bem: tudo que ele tocar, virará ouro. Sim, ouro! Mas não o ouro que a gente reconhece pela cor e temperatura. Ouro daqueles invisíveis aos olhos, daqueles que formam conexões cerebrais e sentimentos, daqueles que preparam para o futuro em silêncio. Tudo que passa pelas mãos da criança vira ouro porque tudo que passa por suas mãos aumenta o repertório de sinapses, conexões neurais. Ou seja: quanto mais experiências sensoriais (aquelas onde a criança SENTE, como: tocar no alimento, tocar um instrumento, pegar em um elemento natural), quanto mais experiências como estas, mais inteligência.

Quanto mais inteligência, mais virtudes. Quanto mais virtudes, mais vida. E se queremos ajudar verdadeiramente as nossas crianças, precisamos começar a pensar no que está passando por suas mãozinhas e virando história. Mais que isso: no que elas veem, escutam, sentem. No que elas tem internalizado através das nossas propostas. A infância é passageira, mas tudo que toca vira ouro.