Deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Evandro Leitão (PDT) está no seu terceiro mandato consecutivo. O pedetista é servidor público, auditor adjunto da Secretaria da Fazenda do Estado do Ceará (Sefaz). É bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade de Fortaleza (Unifor) e em Direito pela Faculdade Integrada do Ceará (FIC). Possui pós-graduação em Gestão Pública pela Secretaria da Administração do Ceará, e em Marketing pela Bolsa de Valores Regional.
Como gestor, trabalhou no Governo do Ceará como Secretário do Trabalho e Desenvolvimento Social do Estado do Ceará de 2011 a 2013, durante o segundo mandato do ex-governador Cid Ferreira Gomes (PDT). Eleito deputado estadual pela primeira vez em 2014, Evandro foi o 12º candidato mais bem votado entre os 46 eleitos. Um dos destaques do deputado política cearense foi como líder do Governo Camilo Santana (PT) na Alece, de 2014 a 2018.
Eleito presidente da Assembleia Legislativa do Estado para o biênio de 2023-2024, em entrevista exclusiva ao OPINIÃO CE, Leitão fala sobre seu destino político e o futuro do PDT no Ceará.
OPINIÃO CE: Qual a sua opinião em relação à decisão da cassação da chapa do PL? Isso prejudica a imagem do parlamento? Apesar de respeitar, você é contrário à decisão do TRE?
EVANDRO LEITÃO: Não vejo que desgasta a imagem do parlamento. Não conheço os autos do processo, mas, eu acredito que um deputado não pode ser penalizado em detrimento de qualquer tipo de comportamento atípico de um dirigente partidário, de uma situação do partido. Fiquei, de alguma forma, um pouco abatido, pois são representantes do povo, mas quero ressaltar que não gosto de falar daquilo que não tenho propriedade. A questão é que fica difícil eu dar um depoimento sobre uma coisa que eu não conheço. Em tese, nessa perspectiva, eu sou contrário.
OPINIÃO CE: O que está sendo feito de concreto para retomar uma possível aliança entre o PT e o PDT, ou chegar a um entendimento dentro do PDT?
EVANDRO LEITÃO: Existe uma divisão muito clara dentro do partido. Uma parte majoritária concorda em ficar na base do governo, que são a maioria dos deputados estaduais e federais, e dos prefeitos. E tem uma minoria que não quer ficar com o governador Elmano. É isso que vemos muito claramente. Falando da Assembleia Legislativa, somos 13 parlamentares. Desses, 10 querem ficar e 3 não querem.
Hoje, pelo menos, desconheço se está sendo feito alguma coisa. Ao meu ver, o primeiro gesto que o partido teria que tomar é colocar o Cid como presidente do diretório estadual do partido. Porém, não estamos tendo diálogo para deliberar sobre quem quer fazer parte do governo, quem quer ser oposição ou até mesmo quem quer liberar bancada. Não se pode dar o silêncio como resposta, e é isso que estou vendo hoje. Faço essa ponderação de forma muito respeitosa, até porque tenho uma relação de muita proximidade com o presidente do partido, André Figueiredo.
OPINIÃO CE: Segundo o presidente André Figueiredo, não haverá disputa para a presidência do diretório. Há clima para que Cid realmente assuma a presidência do partido?
EVANDRO LEITÃO: Dentre os deputados, a maioria deseja o Cid como presidente, como aquele que tem a real condição de reconstruir a aliança entre PT e PDT. Cid já demonstrou isso através da sua liderança, onde diversos prefeitos e deputados o respeitam. Então, ele tem essa capacidade de liderar, não que o André não tenha, mas acredito que, no momento, o partido está precisando de uma liderança como a do Cid.
OPINIÃO CE: O seu nome está sendo indicado como um candidato para a prefeitura e você tem um candidato posto para a reeleição, que é o Sarto. Como você vê uma pacificação do partido em relação ao cenário de Fortaleza?
EVANDRO LEITÃO: Acredito que tudo é uma questão de dialogar. Se nós sentássemos e conversássemos para ter um norte, eu tenho certeza que algumas especulações iriam cessar. A cada dia que passa, piora. Na medida que você não conversa, o tempo vai passando e vão se criando mais especulações e isso é ruim.
Uma relação partidária não é tão diferente de uma relação entre marido e mulher. Quando você tem um problema difícil de enfrentar e o tempo vai passando, a ferida aumenta. Isso é o que está ocorrendo no partido. Passamos por um momento difícil aqui no Ceará, no ano passado, onde tivemos uma situação extremamente atípica que ocasionou o estado atual do partido. Sinceramente, eu acreditava que, após as eleições do dia 2 de outubro, iríamos ter a condição de sentar e conversar para que as arestas fossem aparadas. Mas o que aconteceu foram situações internas de falta de respeito. Não podemos querer uma unidade partidária onde não existe o mínimo de respeito entre nós. Se não estamos tendo condições nem de nos entender internamente, quem dirá de entender externamente com outros partidos.
OPINIÃO CE: Pessoalmente, você tem esse desejo de ser prefeito de Fortaleza em 2024?
EVANDRO LEITÃO: Quem de nós não está na vida pública para alçar voos maiores? Isso é normal, é mais do que natural se colocar como representante da população e ter o desejo de gerir a sua cidade, seu estado. Sempre faço uma diferença entre a pessoa ser obstinada e ser obcecada. Eu sou obstinado. Quando você fica obcecado, você fica cego e não se lembra que tem lideranças por trás. Ninguém é candidato de si, mas sim de um projeto, de um grupo. E se você não tem um grupo para dar apoio, se não tem um projeto que acredite e confie em você, seu desejo não irá prosperar.
Se, porventura, o grupo que eu me coloco achar que meu nome é o que mais soma, para mim será um enorme prazer ser o candidato do nosso projeto. Se acharem que deva ser outra pessoa, que soma mais do que eu, irei trabalhar com o mesmo afinco. Para mim, seria uma honra poder representar o projeto que faço parte dentro do PDT e junto com as minhas lideranças, ou fora do PDT com as minhas lideranças.
OPINIÃO CE: De acordo com o cenário que você aponta, como um grupo tão minoritário está fazendo tanto barulho dentro do partido?
EVANDRO LEITÃO: Se você tem um grupo majoritário que tem um desejo e a direção não levar isso em consideração, eu entendo que a direção está tentando, de alguma forma, dar tempo ao tempo para a poeira baixar. Mas o que nós estamos vendo é que o tempo não está sendo algo positivo nesse processo.
OPINIÃO CE: Falando dessa direção, é mais sobre o silêncio ou distanciamento?
EVANDRO LEITÃO: Acho que mais o silêncio. Não vou dizer o distanciamento porque eu tenho uma relação de certa proximidade com a presidência. Existe um silêncio que, acredito eu, não é de forma para prejudicar A ou B, mas acho que é uma estratégia que não está sendo a mais adequada.
Quando se tem um problema, tenho a compreensão de que a gente tem que enfrentar. Se o tempo passar muito, você começa a dar margem a vários tipos de interpretações. Penso que já passamos do período de deliberarmos sobre o assunto.
OPINIÃO CE: Da parte do Cid, você tem visto o movimento de tentar uma deliberação para chegar a um entendimento?
EVANDRO LEITÃO: Tenho visto os movimentos dele e ele tem sempre feito nessa direção. Primeiro, manifestando desejo de ser presidente do diretório. Segundo, a manifestação que ele vem recebendo dos próprios prefeitos, que estão favoráveis a posição do Cid no diretório.
OPINIÃO CE: O que você acha do assédio do PT em relação a você?
EVANDRO LEITÃO: O PT é um partido que eu tenho muita proximidade com os dirigentes, com os integrantes. Eu tenho uma vertente muito progressista, tenho uma relação de proximidade com o ideal do partido. É mais do que normal essa questão pela relação de amizade que nós temos.