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24 de abril de 2025

“Sei que tenho minha parcela de contribuição na vitória de Lula”

Aos 48 anos, Juliano Maderada conquistou posição no Spotify Brasil com “Tá na Hora do Jair já ir embora”, que compôs com Tiago Doidão
Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

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As Eleições 2022 mostraram que ocupar um espaço de fala nunca foi tão relevante diante de um pleito. De ambos os lados, Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), outrora candidatos à Presidência da República, construíram suas histórias para serem contadas nos aproximados 60 dias em que disputaram o posto mais importante do Brasil. Lateralmente, o presidente eleito, Lula, e o presidente derrotado, Bolsonaro, contaram com ajudas não tão convencionais. Em prol do petista, quem estourou, como se diz no mundo da música, foi Juliano Maderada, 48, forma como é conhecido o artista nascido em Goiás e criado na Bahia.

Admirador do petista há anos, o cantor e compositor que é casado e pai de dois filhos escreveu sua primeira letra dedicada a Lula em 8 de novembro de 2019, quando o também ex-presidente deixou a sede da Superintendência da Polícia Federal, onde ficou preso por cerca de 580 dias. Nas linhas de sua escrita, falava reiteradamente do caráter de inocência que acredita que Lula tem.

Quase quatro anos depois, Juliano Maderada, ao lado de Tiago Doidão, ocuparam o top 1 do Spotify Brasil, com “Tá na Hora do Jair já ir embora.” Em conversa telefônica de cerca de 40 minutos com o OPINIÃO CE no último dia 2, o dono da voz de “Tô com Saudade do Tempo de Lula” fala os motivos que o fizeram deixar a carreira de professor para se dedicar à música, pontua sua visão política nacional e diz que acredita ter tido peso para que Lula vencesse nas urnas, entre outros temas.

OPINIÃO CE: Conta um pouco sobre sua história.

JULIANO MADERADA: Eu morava no interior, no meio rural. Trabalhei na roça. Já plantei hortaliça, tomate, tirei leite de gado. Trabalhei com tudo. Meu pai tinha o interesse que eu estudasse, e eu tinha uma facilidade em aprender. Terminei o segundo grau com 16 anos. Com 17, já passei em uma universidade pública para Agronomia. Fiz um ano de curso e depois tranquei. Não voltei mais. Comecei a trabalhar. Trabalhei de balconista, em farmácia, na prefeitura da minha cidade e comecei a dar aula de matemática, mas sempre tocando instrumento, cantando, fazendo alguma coisa. Também fiz licenciatura em Matemática. Estava trabalhando, focando e administrando essas questões de produzir música, compor, viajar com a banda e não deu pra conseguir conciliar o horário. Os dias de dar aula e viajar com a banda. Tive que optar. Fiquei só com a música. Além da banda, no período eleitoral, eu gravava jingles.

OPINIÃO CE: E como você começou a se envolver com apoio a Lula?

JULIANO MADERADA: Quando Lula foi inocentado das acusações e se tornou elegível. Eu fiz a música “Volta, meu Guerreiro.” Tinha um canal, o canal Maderada Brasil, mas não tinha notoriedade nenhuma. As músicas que eu postava no canal davam 100 visualizações diárias. Aí, quando postei essa volta do Lula, deu 7.500 visualizações em 24 horas. Vi que esse assunto era uma coisa que o povo mostrou ter interesse. E eu também tinha. Eu gosto do Lula. Aí, comecei a fazer essas músicas, porém eu não gostava tanto da minha voz. Não achava que a minha voz pudesse fazer sucesso. Mas, depois que postei uma, o povo gostou. Foi tanto elogio, político postando. Eu falei ‘Ué. Então, eu posso cantar, né?’ Comecei a fazer umas músicas bonitas e sensibilizar as pessoa pela importância. Depois, entrei nessa linha de pisadinha, piseiro, e fiz música com coreografia, sugerindo uma dancinha. No TikTok, é muito essa onda. As pessoas gostam de fazer um uma brincadeira, uma dancinha.

OPINIÃO CE: E aí você estourou…

JULIANO MADERADA: Quando a política foi para a rua, a gente começou a fazer uma coisa mais lambada, axé, paredão. Uma batida mais eletrizada. O paredão não toca uma música de campanha tradicional. Eu precisava fazer um conteúdo assim. Chamei o Tiago Doidão, mas pela maneira como estávamos compondo não conseguíamos convencer as distribuidoras, por conta da conotação política. Citávamos o Eduardo Cunha na versão original. Aí, usamos o nome Jair, porque poderia ser qualquer um, mas claro que as pessoas sabiam que se tratava de Jair Bolsonaro. As distribuidoras tiveram que aceitar. Aí, foi jogada a música para tudo que é plataforma.

OPINIÃO CE: Você sempre foi envolvido com política?

JULIANO MADERADA: Sempre tive o envolvimento de apoiar as coisas em que acreditava. Tenho uma cultura política de esquerda, e Bolsonaro acho que nunca enganou alguém. Nunca teve uma proposta e nada que eu entendesse que pudesse ser bom para a economia, a educação, a saúde. Bolsonaro conseguiu aflorar nas pessoas a coragem de se manifestar com aquilo que democraticamente não era permitido.

OPINIÃO CE: E, dentro de sua trajetória de fazer músicas para Lula, o que mais fez?

JULIANO MADERADA: A primeira músiva que fez sucesso politicamente, de maneira mais efetiva, foi “Tô com Saudade do Tempo de Lula.” Foi feita para aquele eleitor de Lula que votou em Lula pelo que ele era. O nome da música é muito forte e refletiu o que esava acontecendo naquele momento, quando o povo estava trocando carne por ovo e pé de galinha e o preço da gasolina explodiu. Na época de Lula, não era assim. A gente vivia melhor. A música fala em comer picanha e tomar cerveja. Levei a música de Lula aonde ele não ia conseguir chegar. A uma galera que não sabe bem quem é Lula, não viveu o tempo dele. Cheguei em jovens e pessoas que não têm interesse em ver campanha eleitoral e já nem acreditam mais em política.

OPINIÃO CE: Você se sente também responsável pela vitória de Lula?

JULIANO MADERADA: Sei que tenho minha parcela de contribuição na vitória de Lula. Só não posso dizer o tamanho. O próprio Lula, nas vezes em que me ligou, falou que a gente levou alegria para campanha dele. Posso até não ter dado votos, mas dei energia para as pessoas estarem nas ruas, falando o nome de Lula e pulando atrás de um carro de som. Propaguei conteúdo a uma esfera a que ele e o marqueteiro da campanha não conseguiriam chegar.

OPINIÃO CE: E, nas ligações, o que o presidente eleito disse a você?

JULIANO MADERADA: Lula ligou para mim duas vezes, uma na pré-campanha e outra na campanha. Falamos de política. No dia da eleição, meio-dia, quando ele me ligou, eu estava tenso, preocupado. Não conseguia ligar para ninguém. Eu contei a ele, e ele me disse para eu não ficar preocupado. Que estava confiante de que ele venceria a eleição.

OPINIÃO CE: Qual é então o seu sentimento, como músico e cidadão, de ter contribuído para a vitória de Lula?

JULIANO MADERADA: Muita gente fala da música como realização pessoal na vitória de Lula. A mais importante para mim foi Lula ter vencido, e eu ter contribuído para isso. A ficha do sucesso está caindo agora, com a imprensa me ligando. E que me fez sentir que eu estava pensando certo foi quando, na Avenida Paulista, no dia da comemoração, vi as pessoas vibrando e chorando. Sabia que não estavam vencendo só uma eleição. Era isso e muito mais. Estavam vencendo o preconceito, a barbárie, uma ameaça à democracia e uma tentativa de implantar uma ditadura. O bolsonatismo estava se impondo de tal forma que a gente não podia se manifestar, sair na rua caracterizado, que estava sob risco. Cada um tinha, na Avenida Paulista, a sua vitória associada à de Lula. Não era o meu motivo o mais importante: era o de todos.

OPINIÃO CE: O que você espera do presidente eleito a partir de 2023 para a cultura?

JULIANO MADERADA: Lula sempre deu atenção e teve pessoas à frente do Ministério da Cultura que respiram cultura, que já passaram pelo que passei. Lula está falando em abrir outros leques. Temos que acreditar, porque Bolsonaro nunca nem isso falou.

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