A televisão é uma smart de 55 polegadas. Procuro, em um canal do YouTube da vida, rever os lances que resultaram nos gols e vou clicando nas setas e nos botões de acordo com a necessidade, como se fossem play, pause e rew do antigo videocassete. Clico nas thumbs e deixo rolar.
O artista é Saulo Mineiro. Até anteontem, era considerado um jogador de muita garra, caracterizado por uma imprevisibilidade que o levava a se atrapalhar em jogadas aparentemente fáceis e, ao mesmo tempo, capaz de fazer a torcida vibrar com suas arrancadas.
O primeiro gol foi de pênalti. A bola chega ao seu domínio. De posse dela, invade a área pelo lado direito e dá um drible para dentro em Bernardo Shapo que o derruba. Em cima do lance, o árbitro marca a infração. Richardson pega na bola como se fosse bater e entrega para Saulo.
Saulo, batedor de pênalti do Ceará, coloca a bola na marca penal e calcula a distância que julga ideal, dando umas cinco passadas para trás. O juiz autoriza. Parte em direção à bola e chuta com a parte interna do pé direito. A bola toca na trave e entra no canto esquerdo do goleiro.
O segundo gol foi uma pintura. Recebeu um passe de David Ricardo e partiu para cima, passando ora o pé direito, ora o pé esquerdo por cima da bola. Esse saracoteio termina com um toque de pé esquerdo e a finalização com o mesmo pé no canto direito do goleiro.
O terceiro gol resulta de um esforço do próprio Saulo retomando a bola de um zagueiro em cima da linha de fundo, invade a área pelo lado esquerdo e cruza com o pé direito. O passe chega a Erick Pulga fechando pelo meio que toca com o pé direito no contra pé do goleiro.
O quarto nasce de um passe do Richardson, que o encontra livre e em movimento, penetrando pelo lado esquerdo. Mesmo perseguido por um zagueiro, corre com a bola dominada no pé direito e, ante a saída do goleiro, coloca a bola por cima dos braços no canto esquerdo.
O famoso hat-trick! Três gols e ainda um passe para o quarto gol. E pensar que, vez por outra, Saulo tentava e conseguia realizar parte disso. Saulo, em hebraico, significa rezar. Sua atuação inesquecível ficará para a história. Os deuses do futebol reconheceram sua dedicação e seu esforço.