Antonio Rodrigues
CORRESPONDENTE NO INTERIOR
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Foi aprovado pela Assembleia Legislativa do Ceará (ALCE), na última quinta-feira, 30, um projeto de lei (PL) que institui no Calendário Oficial do Estado do Ceará a Romaria da Santa Cruz, que acontece na tradicional comunidade do Caldeirão do Beato José Lourenço, em Crato.
O evento é realizado anualmente no quarto domingo do mês de setembro e reúne cerca de 5 mil pessoas para relembrar a história daquele lugar, que recebeu centenas de flagelados da seca no início do século XX e que foi dizimado, em 1937, pelas Forças Armadas.
O PL inclui também a Semana Ecos do Caldeirão, de forma concomitante à romaria. A partir da inclusão da romaria e da Semana Ecos do Caldeirão, o poder público incentivará ações de promoção e visibilidade da história da comunidade do Caldeirão da Santa Cruz do Deserto e as práticas cultivadas pelos seus moradores. Renato Roseno é autor da proposta.
Desde setembro de 2000, a Romaria da Santa Cruz, ou Romaria da Terra, é organizada pela Diocese de Crato, entidades eclesiais de base e organizações da sociedade civil em defesa da agricultura familiar e do meio ambiente. “A ideia era resgatar a história de uma comunidade que foi invisibilizada por muitos anos”, explica o padre Vileci Vidal, um dos seus organizadores.
O evento hoje é organizado com apoio do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Crato, da Universidade Regional do Cariri (Urca), do Assentamento 10 de abril, da organização Caldeirão Vivo, da Associação Cristã de Base (ACB) e da Secretaria de Cultura de Crato.
A HISTÓRIA
O agricultor paraibano José Lourenço Gomes da Silva migrou até Juazeiro do Norte e se tornou um beato de confiança do Padre Cícero. Sob sua liderança, um grupo de flagelados se estabeleceu numa terra arrendada pelo sacerdote no Sítio Baixa Dantas, no Crato, trabalhando na agricultura de forma comunitária e sempre movidos por um espírito religioso até 1926, quando as terras foram vendidas.
Em seguida, Padre Cícero cedeu uma de suas propriedades na fazenda conhecida como Caldeirão dos Jesuítas. No novo local, Lourenço e seus agregados recomeçaram o trabalho de partilha da produção de forma igualitária, com o excedente sendo utilizado para a compra de outros produtos, como remédios e querosene.
A seca de 1932, uma das mais duras a atingir o Nordeste, impulsionou o crescimento do lugar, que chegou a receber 1.700 pessoas, segundo os historiadores. Temendo que a comunidade se tornasse um movimento messiânico, o Governo Federal ordenou, em 1936, a primeira invasão ao Caldeirão, dispersado por forças policiais. Oito meses depois, as Forças Armadas destruíram o lugar. Os sobreviventes fugiram. Vitimado pela peste bubônica, José Lourenço faleceu em Exu (PE), em 1946.