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8 de dezembro de 2024

Rio Salgado, no Cariri, apresenta cheia e esperança de recarga para o Açude Castanhão

O curso d'água que nasce no Cariri é o principal afluente do Rio Jaguaribe. As chuvas na região chegam a ser responsáveis por 60% do aporte do maior reservatório do Estado
Cachoeira de Missão Velha. Foto: Antonio Rodrigues

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As fortes chuvas na região do Cariri nos últimos dias fizeram o Rio Salgado, principal afluente do Rio Jaguaribe, apresentar uma cheia no município de Aurora, nesta terça-feira, 28. Seu curso é um dos mais importantes para o aporte do Açude Castanhão, o maior do Estado, que atingiu um volume de 22,52%, quase o dobro do registrado em igual período de 2022 (14,99%). Os dados foram consultados pelo OPINIÃO CE no Portal Hidrológico gerido pela Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh).

As principais precipitações no Cariri que contribuíram para este nível no Rio Salgado ocorreram entre às 7h de domingo e às 7h de segunda, 27. A cidade do Crato teve o maior volume com 127 milímetros, seguido por Jucás (126 mm), Milagres (121 mm), por onde passa o Riacho do Rosário, afluente do Salgado, e Porteiras (116 mm). Neste mês, o Açude Rosário voltou a sangrar e chegou a liberar mais de 1,4 mil litros de água por segundo ao Castanhão.

Entre segunda e esta terça-feira, 28, a chuva voltou a cair no Sul do Estado, mas em menor volume, atingindo pelo menos 11 municípios. As cidades mais beneficiadas foram Barro, que alcançou 55 milímetros, a própria cidade de Aurora, que é cortada pelo Rio Salgado, onde foram registrados 36,1 milímetros e Milagres com 21,5 milímetros. Restando ainda quatro dias para o fim de março, o volume apresentado no Cariri supera em 28,1% a sua normal climatológica para o mês, que é de 218,4 milímetros. Até agora, foram observados 279,8 milímetros naquela região.

Neste período, Porteiras (425 mm) e Barro (378) aparecem com as maiores precipitações.

Rio Salgado, em Aurora. Foto: Divulgação

TRANSTORNOS

Apesar da boa notícia motivada pelas recargas nos principais reservatórios cearenses, as chuvas têm gerado uma série de transtornos a alguns municípios. Com o aumento do nível do Rio Salgado, a água invadiu ruas, imóveis e vias públicas, provocando o isolamento de algumas regiões. Algumas das comunidades isoladas são Sítio Boqueirão, Patos I, Pato II, Lagoa Seca, Pacheco, Amaniutuba e a região do Riacho do Rosário.

Além disso, pelo menos 15 municípios cearenses decretaram estado de emergência ou de alerta devidos às precipitações dos últimos dias. Confira aqui a lista.

CAMINHO DAS ÁGUAS

Com 308 km de extensão, o Rio Salgado surge da confluência do riacho dos Porcos e do Rio Batateiras, que nascem no sopé da Chapada do Araripe, o primeiro em Porteiras e o segundo no Crato. Encravado em um território com vários afluentes, sua bacia hidrográfica tem uma característica interessante: 20% dela são formadas pela Bacia Sedimentar do Araripe. Composta por vários aquíferos, as fontes naturais geram os primeiros riachos numa drenagem que começa a 750 metros de altitude.

No Crato, o Rio Batateiras se une aos rios Granjeiro e Saco-Lobo. Mais adiante, já em Juazeiro do Norte, se encontra com o Rio Carás, que também nasce no Crato, no distrito de Santa Fé e recebe água de outros riachos. Na terra do Padre Cícero, sob o nome de Rio Salgadinho, recebe água do Rio Salamanca, principal curso d’água de Barbalha. De lá, segue em direção à Cachoeira de Missão Velha, no município homônimo, se encontrando com outros riachos.

Do chamado Cariri Leste, o Salgado recebe água do Riacho dos Porcos, que tem como principal afluente o Riacho São Miguel, que nasce em Mauriti, tendo outros braços menores, como Jenipapeiro, que nasce na Paraíba e deságua no Ceará. Por isso, as chuvas em Porteiras, Brejo Santo, Barro, Jati, Penaforte e Abaiara são fundamentais para a recarga do Castanhão.

O Riacho dos Porcos deságua no Rio Salgado no distrito de Ingazeiras, em Aurora. Naquele município, num percurso de aproximadamente 42 quilômetros, é abastecido em sua margem direita pelos riachos dos Cavalos, das Antas, os rios Cuncás, Pendência, Areia e Titi. Na Serra da Várzea Grande, os riachos do Pau Brando e Bordão de Velho descem até ele. Já pela margem esquerda, recebe águas do Rio Carás, Rio Jenipapeiro I e dos riachos do Meio, do Juiz, São João, dos Mocós, da Caiçara e Jenipapeiro II.

Em sua maior forma, o rio segue até o município de Orós, onde se encontra com o Jaguaribe. De lá, são aproximadamente 125 quilômetros até o maior reservatório do nosso Estado. “Sem dúvida, mais de 60% da água acumulada do Castanhão são da bacia do Salgado. Aproximadamente, 20% do médio Jaguaribe e o restante do Alto Jaguaribe, mas só quando o Orós sangra. E isso nunca mais aconteceu“, explica o geólogo Yarley Brito.

RECARGA HÍDRICA

Atualmente, o Ceará tem 39 reservatórios sangrando e outros 13 acima dos 90%, com recarga geral nos 157 açudes monitorados em 37,5%. Em igual período do ano passado, para ter ideia, eram 15 reservatórios sangrando, 6 acima dos 90% e uma reserva geral de 27,7%. Além disso, o Estado apresenta uma melhora significativa na recarga dos maiores açudes cearenses. O Orós, segundo maior do Ceará, tem atuais 50,14% (frente a 34,42% em 2022). O Araras, quarto maior, está com 79,74% (77,81% em 2022).

As situações mais preocupantes são do Banabuiú (terceiro maior), com 16,66%, e do Figueiredo, que soma 8,22% – ele é o quinto maior açude cearense. Ainda assim, o quadro é melhor que em 28 de março de 2022, quando apresentavam 8,23% e 6,17%, respectivamente. Há pouco mais de uma semana, em 20 de março último, o Figueiredo estava com 5,35%, o que mostra o aporte dos últimos dias.

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