Passado o enguiço no PDT cearense com a eleição de Roberto Cláudio como pré-candidato a governador do Ceará, sobrou para os insatisfeitos a saída de acusar o que chamam de misoginia – taxando assim a derrota da governadora Izolda Cela no processo interno da sigla. A palavra, muito em voga, significa ódio ou aversão a mulheres. Por estes dias, nem a gestão de Jair Bolsonaro tem recebido pressões tão enfáticas nesse sentido. Entre os “reclamões” estão petistas, novistas, eunicistas, lucistas, bolsonaristas e capitanistas – curiosamente irmanados, como numa rede social, para desgastar uma candidatura adversária.
Curiosamente, à exceção de Izolda, não se têm lido ou ouvido queixumes de filiados do PDT. Chega a ser irônico, mas o discurso que denuncia aversão a mulheres se dá num Estado que é justamente governado por uma mulher. Atribuir a misoginia a um grupo político seria, então, a solução final das alas insatisfeitas – nem todas pelas mesmas razões. Pode não ter efeito nenhum, mas é da política.
Números
O Diretório Estadual do PDT inclui, entre os 84 integrantes, 11 mulheres. Assim, a ala feminina representa 13,09% do total de votantes. Dessas, oito votaram em Roberto Cláudio e três (incluindo a governadora) votaram em Izolda. Os números são frios e demolidores de teses: mais de 72% das mulheres do Diretório pedetista foram “misóginas”.
É por aí
Existe na política uma tese frequentemente lembrada. É a de que há quem crie dificuldades para vender facilidades. Traduzindo: pessoas ou grupos erguem obstáculos para, em troca de espaços, ajudar depois a removê-los.
Fala sério
O vereador Ronivaldo Maia é acusado de tentar atropelar uma namorada. Por isso foi preso pela Polícia, acusado de tentativa de feminicídio, e expulso do PT. Acabou escapando da cassação na Câmara de Fortaleza. A acusação política de misoginia não pegou nele. Deu sorte.
Desconto camarada
Leva a assinatura do vereador Luciano Girão (Progressistas) projeto que garante matrícula e descontos em mensalidades para irmãos em escolas particulares de Fortaleza. A ideia é assegurar o direito para irmãos biológicos, consanguíneos e socioafetivos.
Abatimento é sempre bem-vindo
O projeto pode até parecer interessante para famílias – boa parte em dificuldades de caixa -, mas é cheio de notas baixas. 1) não aborda a situação econômica-financeira das empresas educacionais; 2) não explica se o setor está capacitado a dar descontos; 3) não prevê o impacto que reduções provocariam em investimentos, manutenção e qualificação das escolas.
De recuperação
A proposta, por fim, não considera um elemento básico: a legislação. O fato é que não há na Constituição Federal, na Lei Orgânica de Fortaleza nem na lei federal 8.078 (o Código de Defesa do Consumidor) trecho nenhum que diga que o Município pode se intrometer dessa forma em negócios privados.