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22 de março de 2025

Raimundo Fagner: Manera Fru-Fru, 50 anos

Foto: Beatriz Boblitz/Arquivo

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O “office boy” do estúdio avista aquele rapaz alto, magro de pernas finas e cabeludo caminhando pensativo no calçadão de Copacabana, para e o aborda: “Ei, rapaz! Por onde você anda, Fagner? A Elis está atrás de você faz dias. Ela quer gravar uma canção sua”. Aqueles dias difíceis e a saudade da família o haviam feito desistir da carreira de artista e voltar para casa. Diante da notícia do interesse de Elis Regina, a decisão de voltar foi abortada. Sensibilizados com a situação precária e as péssimas condições de moradia do jovem artista cearense, Elis e Ronaldo Boscolli decidiram levá-lo a morar com eles.

Com o apoio de Elis, parecia que aquele sonho de criança, despertado após assistir no cine São Luís as canções do prodígio menino, o cantor espanhol Joselito, e aos seis anos ter ganhado o primeiro lugar no concurso do Dia das Mães com a canção “Minha Mãezinha Querida”, poderia ter continuidade.

Tinha que fazer valer aqueles meados dos anos 60, no Colégio da Piedade, quando adolescente havia sido influenciado pelas guitarras, o iê-iê-iê da Jovem Guarda e as canções melódicas dos Beatles levando-o a perceber que o caminho para o sucesso passaria pelo rádio, a televisão e festivais de música. Em 1968, ainda secundarista, venceu o IV Festival da Música Popular do Ceará com a canção “Nada Sou”. Duas semanas depois, em dezembro, não apenas participou do I Festival de Música Aqui no Canto, idealizado na Rádio Assunção, mas teve a sua primeira música gravada, “Luzia do Algodão”.

Apesar de “Mucuripe”, parceria com Belchior, considerada por ele a sua melhor canção, não ter sido classificada para o II Festival Nordestino da Música Popular, posteriormente foi gravada por Elis e o rei Roberto. Em 1970, participou da fase regional em Fortaleza do III Festival Universitário da Música Popular Brasileira com a canção “Manera Fru-Fru”, parceria com Ricardo Bezerra. Na letra original do júri do festival, o título indicava “Música Estranha”, com o subtítulo mais estranho ainda, “Fru-Fru”.

Com certeza não deve ter causado boa impressão e, tampouco, boa sonoridade aos ouvidos dos jurados não preparados a ouvir novas harmonias e ritmos que aquela canção trazia. Resultado, “Fru-Fru” ficou em 2º lugar. Em 1º lugar, ficou “Gira Rola Mundo”, de Pretestato Melo, interpretada pelas Garotas 70 e classificada para a fase no Rio de Janeiro. Ano depois, no I Festival de Música Jovem CAC-CEUB em Brasília, Fagner é o grande vencedor com as canções “Mucuripe”, 1º lugar, “Cavalo Ferro” e “Manera Fru-Fru”.

Em 1973, a tal “música estranha” levará o artista a um mal-estar com a gravadora. Por insistência da Philips, de olho no mercado fonográfico, o disco foi nomeado de “O Último Pau-de-Arara” e não “Manera Fru-Fru” como Fagner pretendia, por ser a música mais estranha e confusa que ninguém entendia. Pois é, esse ano, o antológico disco de 73 faz aniversário de 50 anos. Raimundo Fagner, dia 10, volta ao Cine São Luís com os ingressos já esgotados e, no dia 13, o libriano comemora o seu natalício de 74 anos. Vida longa, irmão!

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