“Para falar do ano morto, é preciso coragem.Também morremos um pouco com ele e não ousamos contemplar nosso espectro em formação. No geral, ficamos mais sabidos, isto é, mais surrados, pelos acontecimentos”.
Carlos Drummond de Andrade
Lá no primeiro dia de janeiro, quando comecei esta coluna, iniciei com o que Drummond tinha dito, sobre merecer o ano que está por vir. Achei por bem fazer o mesmo para finalizar 2024.
Neste ano, colecionei algumas primeiras vezes. Vi Guilherme Arantes, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Rodger Rogério. Todos foram artistas que nunca em minha vida eu tinha visto no palco. Acompanhei o primeiro grande musical da minha vida, o de Elis Regina.
Fui à praia sozinha. Senti a delícia de ler um livro de frente pro mar escutando o barulho das ondas.
Sofri por inúmeros motivos. Por coisas que eu não tinha controle e outras que eram consequências da minha teimosia. Algumas, sigo teimando. Quero que o tempo resolva.
Eu fiquei mais sabida com os acontecimentos. Mas, a experiência que eu ganhei ainda não me deu a força necessária para que eu mude minha rota. Isso me incomoda.
O livro que eu me planejei para concluir, não consegui. Escrevi mais de 50 textos, mas ainda não organizei.
Meus filhos passaram por muitas transformações, tivemos problemas de saúde. Mas, agora, todos estamos bem. Passou.
Ganhei amigas maravilhosas. Com elas, desbravei alguns lugares desconhecidos, encontrei partes de mim perdidas e aprendi a realçar o que eu não sabia que tinha.
Festejei aniversários, meus e dos meus filhos, celebrei vitórias, chorei um bocado de tristezas. E um monte de alegrias também.
Provei vinhos, aprendi a fazer novos pratos, li menos do que gostaria, mas li. Me matriculei na academia, fiz um monte de caminhadas, lutei contra a ansiedade, voltei pra terapia. Aprendi a cuidar melhor de mim e a lidar de forma mais saudável com minhas emoções.
Trabalhei bastante, gastei bem o que ganhei, viajei pra ver meu pai e ainda ganhei de presente passar meu aniversário com ele. Foram três comemorações da vida.
Então, acho que posso dizer que fiz o que pude e até que pude bastante. Termino 2024 com o sabor de missão cumprida. Um doce sabor. Ainda melhor do que o começo. Então, até que estou corajosa sobre o ano morto. E estou vivíssima. Que venha 2025!