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15 de janeiro de 2025

Quando vamos poder voltar a comer pão com ovo novamente?

Segundo IBGE, preços do pão e do ovo registraram a maior alta no IPCA desde 2008 e 2015. No ano de 2022, tradicional pão carioquinha acumulou o acréscimo de 18,03%, ao passo que o ovo aumentou 18,45%
Foto: Beatriz Boblitz

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Conhecido por ser um lanche rápido e que serve a todos os gostos, o estimado pão com ovo tem passado por consideráveis alterações de preço. Em pesquisa divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os preços do pão e do ovo registraram a maior alta no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) desde 2008 (19,35%) e 2015 (18,55%), respectivamente. No ano de 2022, o tradicional pão carioquinha acumulou o acréscimo de 18,03%, ao passo que o ovo aumentou 18,45%.

Segundo pesquisa feita entre os dias 9 e 20 de janeiro de 2023 pelo Departamento Municipal de Proteção e Defesa dos Direitos do Consumidor (Procon Fortaleza), na capital cearense, o quilo do carioquinha está custando, em média, R$ 14,49 – o equivalente a uma alta de 8,1% ante o mesmo período em 2022, quando a média do quilo custou R$ 13,40. Quanto ao ovo, uma caixa de 30 unidades de ovos brancos estão custando, em média, R$ 21,74. O valor apresentado está 20,84% acima do registrado um ano atrás – R$ 17,99 – de acordo com a mesma análise do Procon Fortaleza.

Como explicação para os aumentos significativos nos preços dos alimentos, economistas dizem que as principais tensões sobre os valores são consequências tanto da guerra envolvendo a Rússia e a Ucrânia, quanto do crescimento das demandas de tais produtos. Além desses motivos, especialistas também citam alguns fatores extraordinários nesse ano, como o novo governo federal e as indefinições de políticas econômicas, bem como as políticas cambiais.

Ao OPINIÃO CE, o economista Roberto Pontes, conselheiro Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), pontua que, em geral, as padarias trabalham com um insumo básico: o trigo, produto que chega ao Brasil fundamentado no dólar. “Em todo o ano de 2022, o dólar sofreu influências muito sérias em função, ainda, da pandemia, mas, principalmente, da guerra Ucrânia e Rússia. Então, tudo isso causou o “repique” do dólar e, consequentemente, como o trigo é um produto muito importado, inclusive dos dois países citados acima, o aumento da inflação”, diz.

O economista Ricardo Coimbra avalia que os ovos ficaram mais caros devido ao crescimento da demanda mundial e da elevação de custo de cereais como o milho – usado como ração em granjas. “Além da elevação do custo da produção, visto que os cereais subiram, o milho também subiu em função da guerra, gerando a elevação do custo de produção do ovo. É um crescimento da demanda do ovo no mercado internacional”, esclarece ele sobre tal fator não tem atingido somente os preços do Ceará e do Brasil.

A boleira, de 33 anos, Karolina de Oliveira tem a renda dependente da produção de bolos e compartilha como o ovo é essencial na sua vida: “É um dos ingredientes essenciais nas minhas compras. Não só por causa dos bolos que eu faço, mas também porque é um alimento fácil de ser utilizado e vai na receita de várias outras comidas”. Como consumidora assídua do produto, Karolina relata sentir a diferença nos preços do ovo desde meados do ano passado. “Sempre costumei comprar em supermercados maiores, até por prezar pela qualidade dos meus bolos, mas, ultimamente, tem sido preciso procurar opções com um custo menor. Agora, dou preferência aos mercadinhos de bairro ou a vendedores de ‘carros de ovo’ que passam na rua”, fala ela sobre qual alternativa tem buscado para que os preços altos não abalem o seu negócio.

De acordo com a economista Desirée Mota, todo o aumento registrado no IPCA do pão e do ovo implicará diretamente no bolso do consumidor. “O preço da aquisição do cereal, do trigo, fica elevado, e tanto quem produz o pão quanto o ovo, acaba fazendo o repasse do valor ao preço final de consumação”.

Questionado sobre a projeção de declínio desses preços para o ano de 2023, Pontes afirma que é muito difícil se prever. “Temos alguns fatores diferentes nesse ano: o novo governo, as indefinições das políticas econômicas, políticas cambiais, reforma tributária sendo estudada. Então, isso não tem como se prever. Uma coisa é certa: haverá, com certeza, aumento. Já se prevê um novo repique de inflação”, assegura.

Em março de 2022, revelado por um estudo do Procon Fortaleza, os preços de alimentos e produtos nos supermercados da Capital sofreram alta de até 817,35%. A alta foi a maior desde outubro de 2017, quando a mesma pesquisa registrou aumento de até 70% dos produtos em supermercados de Fortaleza. O órgão comparou os menores preços dos produtos, em fevereiro de 2021, com os maiores preços registrados em março de 2022. O levantamento que relaciona os preços de 2023 com os do ano passado ainda não foi divulgado.

FOME NO CEARÁ

Dados divulgados, em setembro de 2022 – o mais recente sobre o assunto, pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Penssan), registraram que, no Ceará, cerca de 2,4 milhões de pessoas são atingidas pela fome. O número equivale a 26,3% da população, colocando o Estado em quarto lugar no ranking de onde há mais pessoas passando fome no Brasil. De acordo com o levantamento, essa situação impacta especialmente os domicílios com crianças de até 10 anos e/ou com renda familiar per capita de até meio salário mínimo.

Para  Ana Miranda, de 51 anos, a realidade não é tão diferente. Moradora do bairro Jacarecanga, a dona de casa e diarista vive com seus dois filhos e conta como o pão com ovo já se tornou a alimentação do dia por inúmeras vezes.
“Pra gente, isso é quase luxo! O ‘pãozinho’ do início do dia aqui é indispensável, mas nem todo tempo a gente consegue ter ele na mesa. Com o ovo, é a mesma coisa: pra gente, é a nossa carne do almoço e da janta. Graças a Deus, não falta porque temos uma vizinha que compartilha os ovos com a gente”, narra a dona de casa.

Com relação ao impacto do recente aumento dos valores, o economista Pontes sinaliza que a questão do preço do ovo não impacta somente as famílias de baixa renda, mas sim toda a população: “O ovo está presente em, praticamente, todos os alimentos. É uma situação muito delicada pois a cesta básica vai ter uma tendência de alta em 2023”.

HÁ CAMINHOS?

Em reunião com gestores dos estados nordestinos, no último dia 20 de janeiro, o governador Elmano de Freitas propôs e discutiu projetos prioritários para o desenvolvimento regional do Ceará. O encontro marcou a primeira assembleia do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste em 2023, onde foram decididas pautas conversadas nesta sexta-feira (27) com o presidente Lula (PT).

No dia 20, Elmano defendeu que projetar o desenvolvimento regional passa, prioritariamente, pela justiça social, com foco no combate à fome, saúde e segurança para a população. “O tema da fome é muito importante para o Nordeste colocar na reunião. No Ceará, temos discutido que vamos agregar várias experiências, possibilidades e caminhos no combate à fome. O importante é que nosso povo não tenha esse sofrimento”, afirmou.

Ainda em janeiro, no início de seu mandato, Elmano também se reuniu com o grupo de trabalho que irá atuar no combate à fome no Estado. Durante o encontro, foi apresentado relatório em que aponta medidas emergenciais para tirar os cearenses que estão em condição de vulnerabilidade da situação de insegurança alimentar. A campanha prevê, entre outras iniciativas: ação de captação de itens de alimentação e limpeza; preparo e distribuição de refeições; e distribuição de kits de alimentação.

Em seu discurso de posse, o governador afirmou que “a busca será incessante por justiça social, porque ninguém quer ver pessoas mendigando, sofrendo, clamando por emprego ou chorando de fome”, apontando o combate à fome como uma das principais bandeiras de sua gestão.

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