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7 de dezembro de 2023

Rádio opinião

Primeiro depoimento do Motim foca em possíveis nomes do Legislativo

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Custeio de atividades ligadas a motim, finanças de entidade policial e relação com políticos que apoiaram o movimento marcam primeiro depoimento na comissão

Ingrid Campos
ingrid.campos@opiniaoce.com.br

Mesa da CPI, que espera Sargento Reginauro, vereador, hoje (5), para oitiva (Junior Pio/ALCE)

A Comissão Parlamentar de Inquérito do Motim (CPI do Motim) colheu o primeiro depoimento do ano, na Assembleia Legislativa do Ceará (ALCE) desta terça-feira, 5. Trata-se de Cleyber Barbosa Araújo, atual presidente da Associação dos Profissionais de Segurança (APS).

A oitiva girou em torno de três pontos principais: o custeio de atividades ligadas ao motim, a relação com políticos que apoiaram o movimento e as finanças da entidade policial. Sobre o primeiro tópico, a testemunha admitiu que a associação fretou veículos para levar associados, incluindo os do Interior do Estado, a Casa.

À época do objeto do colegiado, Araújo era vice-gestor na entidade, após anos à frente da sua administração financeira. Segundo o gestor o objetivo era “acompanhar a leitura da legislação sobre a reestruturação salarial”, como diz uma postagem da própria APS de convocação no Instagram, e estabelecer diálogo com os parlamentares sobre as condições de trabalho da categoria.

Para o relator Elmano Freitas (PT), no entanto, aquela mobilização desencadeou o motim e, por isso, o financiamento de transporte na ocasião devia ser analisado pela Casa. O posicionamento é o mesmo da deputada Augusta Brito (PT), que acredita que esse tipo de patrocínio é ilegal por se relacionar, de alguma forma, com o motim. A parlamentar ainda apresentou imagens de alguns outdoors de estímulo aos protestos, que teriam sido pagos pela APS. Araújo admitiu que a associação investiu em alguns desses materiais.

“LIGAÇÃO COM DEPUTADOS”
O segundo tópico, por sua vez, foi marcado por questionamentos ligados ao deputado federal licenciado Capitão Wagner, ao vereador Sargento Reginauro e ao deputado estadual Soldado Noélio, os três do União Brasil, sendo o primeiro presidente estadual da sigla e este último também membro da CPI.

Postagens na página do Instagram da APS (@apseguranca) à época embasaram a inquirição. Pelo menos duas publicações usavam as imagens dos parlamentares em convocação para mobilização na ALCE. Além disso, Elmano citou o fato da ex-esposa e da prima de segundo grau do presidente da APS já terem trabalhado diretamente com Wagner.

Araújo assumiu que sabia da ex-companheira, mas negou ter conhecimento da admissão da parente sanguínea. Apesar de Cleyber Araújo negar que a associação tenha ligação direta com os nomes mencionados, essa não é a mesma avaliação do relator.

“Não tenho nenhuma dúvida em afirmar que a APS é uma pessoa jurídica que é braço político de um grupo político partidário que integra (Capitão) Wagner, Noélio e Reginauro”, concluiu Elmano. A reportagem procurou o presidente estadual do União, mas até o fechamento desta edição, não obteve posicionamento do parlamentar sobre as declarações feitas na CPI.

ACUSAÇÕES
Uma questão que ocupou boa parte das discussões de ontem na comissão foram as transações bancárias da APS. Como mostrou Elmano, nos últimos cinco anos, foram sacados R$ 2,3 milhões da conta da associação. Entram nesse montante R$ 55 mil e R$ 89 mil retirados em janeiro e em fevereiro de 2020, enquanto acontecia o motim.

Essa prática de tirar dinheiro “na boca do caixa” assemelha-se à lavagem de dinheiro, pois “não se sabe para onde o dinheiro vai”, disse o relator. Os valores também causaram estranhamento por Araújo ter dito, antes, que a APS precisa, hoje, de cerca de R$ 5 mil mensais para cobrir as despesas cotidianas com associados.

Elmano também questionou a abertura de uma empresa no valor de aproximadamente R$ 300 mil em sociedade com a atual esposa, já que o policial ganha pouco mais de R$ 3 mil de salário da corporação. Ele justificou esse valor é fruto de empréstimo bancário e que, além disso, tem rendas lícitas por fora.

PEDIU CAUTELA
Essas questões levaram o deputado Soldado Noélio a pedir cautela no andamento da CPI, citando, sobretudo, as falas de Elmano sobre movimentações financeiras. “Para construir a reputação de uma pessoa leva anos, mas para destruí-la, isso pode ser feito em alguns minutos”, pontuou, chamando atenção para a abordagem do relator.

O advogado de Araújo, Valmir Medeiros, apontou que a comissão estava inquirindo-o como acusado, e não como testemunha, citando parâmetros nacionais de classificação desses dois tipos no processo de coleta de depoimentos. “Testemunha vê e ouve, testemunha não saca, não atira, não mata.”

Noélio também fez uma média básica do valor de R$ 2,3 milhões apontado por Elmano que, nos seus cálculos, dariam R$ 7 mil por mês. Isto, na sua análise, seria razoável para uma entidade com 8 mil associados, como havia informado Araújo anteriormente.

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