A chamada quadra chuvosa, período onde cai o maior volume de chuvas no Ceará, acontece de fevereiro a maio. No entanto, no Sul do Estado, as precipitações chegam mais cedo e, por isso, antecipam uma expectativa nos trabalhadores do campo. A macrorregião do Cariri, por exemplo, tem uma média histórica de 148,3 milímetros, em janeiro, superando todas as outras regiões. No entanto, até agora, a água que tem caído do céu não tem animado os agricultores.
De acordo Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), a macrorregião do Cariri, até a manhã desta sexta-feira (13), tinha um volume observado de 60,4 milímetros, que estão 59,3% abaixo da sua normal climatológica. No ano passado, as chuvas foram muito fortes, com 220,3 milímetros observados, estando 48,5% acima da média.
Para além dos números, há uma desconfiança sentida na zona rural dos municípios do Cariri. Em Nova Olinda, por exemplo, o agricultor José Hildo Prudêncio, que mora no sítio Catolé, imaginava que neste período as precipitações seriam mais frequentes. “Está sendo bagunçado para as culturas de sequeiro. Tem plantio que necessita mais de chuva e acho que vão dar uma queda.”
Além da fava e do milho, Hildo plantou mandioca e feijão verde. O feijão andu tarda para ser introduzido, mas também é cultivado ali. Ano passado, as chuvas foram suficientes para a subsistência de sua família, composta por quatro pessoas e a venda no comércio local. Outra atividade, no entanto, tem se beneficiado com essa iregularidade: a apicultura.
“Com pouca chuva, a abelha tem condição de trabalho. Chovendo, ela não dá boa rentabilidade.” Na comunidade quilombola Serra dos Chagas, em Salitre, a mandioca é a grande esperança de renda para as famílias. Porém, as precipitações ainda não foram registradas no município, em janeiro, segundo a Funceme. “A gente quase não plantou nada. Até plantamos, mas tivemos que replantar por causa da estiagem. Mas esse período é sempre bom também para colher água para a cisterna, porque a gente vive de pegar água de carro-pipa”, detalha a agricultora Marineide Alencar.
PROGNÓSTICO
Apesar do pessimismo, o prognóstico da Funceme para sobre a quadra chuvosa no Ceará — período de fevereiro a maio — só será divulgado no próximo dia 20. Nele, é observada a atuação Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), que é o principal sistema indutor de precipitações no Estado nesta época do ano. Até lá, não é possível prever se as chuvas estarão dentro, abaixo ou acima da média histórica.
Já as precipitações que caem em janeiro são frutos de outros sistemas indutores. Neste final de semana, por exemplo, deve chover por causa da atuação do Vórtice Ciclônico de Altos Níveis (VCAN) localizado na faixa litorânea da Bahia, e áreas de instabilidades no oceano Atlântico.
Mesmo abaixo do esperado para os agricultores, a macrorregião do Cariri liderava com o maior volume acumulado nos primeiros 13 dias de janeiro, no Ceará, com 60,4 milímetros, seguida pelo Sertão Central e Inhamuns, com 15,1 milímetros e o Maciço do Baturité, que registrou 13,5 milímetros. Completam a lista as regiões Litoral Norte (12,3 mm), Litoral de Fortaleza (8,7 mm), Ibiapaba (8,4 mm); Litoral do Pecém (8,2 mm) e Jaguaribana (5,3 mm).