A volta do Cruzeiro para a série A do Brasileirão não marcou apenas o retorno de um gigante à elite do futebol nacional, mas o primeiro grande resultado após a regulamentação da SAF (Sociedade Anônima de Futebol) no Brasil.
Se nas duas temporadas anteriores a equipe mineira fez campanhas pífias na Segundona ainda padecendo sob influência do caos financeiros deixado por gestões irresponsáveis e corruptas, em 2022 o cenário foi de muita consistência e acabou coroado com o consequente acesso com rodadas de antecedência.
O Cruzeiro foi comprado por um grupo encabeçado pelo ex-jogador e agora cartola do futebol Ronaldo, que chegou pelas bandas da Toca da Raposa com a planilha de custos embaixo do braço. Logo antes do começo da temporada, decisões impopulares foram tomadas, como a saída do técnico Vanderlei Luxemburgo e do goleiro Fábio, ídolo da torcida celeste.

Houve reclamações, protestos e notas de lamentação dos personagens envolvidos mas, ao fim do ano, as decisões se mostraram acertadas.
Diferente da forma tradicional da gestão do futebol brasileiro, que é sem fins lucrativos e com eleições para o comando dos clubes, uma gestão empresarial preza, primordialmente, pela saúde financeira do negócio. Mesmo que o Cruzeiro eventualmente não tivesse conseguido o acesso nessa temporada, não teria como dizer que as decisões de Ronaldo foram equivocadas.
Sim, é preciso aceitar que o futebol é negócio, e todo negócio para ser sustentável precisa de responsabilidade financeira. Não há atalho. Não há milagre. E essa visão empresarial das SAF’s pode influenciar também os clubes que ainda possuem o modelo tradicional.
A chegada de um modelo não anula o outro, e um exemplo disso é o Flamengo, que, após a gestão de Eduardo Bandeira de Melo, como entidade sem fins lucrativos, conseguiu consertar os rumos de um clube quase quebrado que se tornou a maior potência financeira das américas.
Há de se observar como serão as administrações de outros clubes que agora também são SAF’s, como Botafogo e Vasco, afinal também há irresponsáveis e incompetentes na iniciativa privada, mas torço para que deem certo e que marquem um novo momento do futebol nacional, servindo de inspiração para os demais clubes e o fortalecimento do esporte mais popular do país.
Ganham os clubes, os torcedores e a economia do Brasil, que precisa ver o futebol como agente importante no mercado nacional, e não apenas como uma alegoria cultural.