Francisco José Pereira de Lima é um empreendedor, produtor artístico e musical, escritor e ativista brasileiro, atualmente presidente global da Central Única das Favelas, com sede em Nova Iorque. Este é o Preto Zezé.
Aos 48 anos, Preto Zezé é um dos maiores ativistas no debate sobre o racismo no Brasil. Ele é filho de um casal de retirantes. A mãe, doméstica e pai, pintor da construção civil. Foi criado na favela das Quadras, em Fortaleza. Preto Zezé perdeu um filho para as facções.
Cito esse exemplo, mas poderiam ser centenas de outros bons exemplos de superação. Preto Zezé é um vencedor, tem algo que ele não esquece, seu povo. Promove esporte, cultura, campanhas de donativos para comunidades, expressão melhor para valorizar lugares antes esquecidos e, agora, em processo de urbanização.
As facções dominaram áreas com o tráfico porque o poder público é ausente, mas há pessoas que resistem e se fazem presentes, se fazem capazes.
Mês junino, triste São João!
Talvez essa semana seja a mais importante para o Nordeste. Para mim é lembrar de meu pai. Seu João Saraiva de Oliveira, como chamavam os amigos e admiradores. Papai leu toda a obra dos escritores da literatura nordestina e guardou os livros nas suas estantes. Na sua época não existia biblioteca em casa. As músicas juninas o encantavam. A fogueira na calçada ou no meio fio nas noites entre São João e São Pedro, o milho assado e a animação no nosso casarão, uma espécie de sítio na cidade. A casa tinha ante-sala, a sala, oito quartos, um corredor enorme, cozinha e sala de jantar, além de um grande alpendre ao redor. Papai morreu aos 94 anos, usava tecidos em linho e caqui nas roupas. Se vivo fosse seria um homem triste vendo o estrago que fizeram com as festas juninas e com o mês junino. Ao invés de “olha pro céu meu amor veja como eje está lindo”, de “a figueira está queimando em homenagem a São João”, as músicas são um horror do tipo “traição é traição”, “liga o celular para te encontrar com o negão”. Pior, canções de artistas que não são sertanejos do Nordeste. Uma pobre MPB.
Política no São João não tem mais só o povo da cidade
A classe política buscava no São João o reencontro com as comunidades. Ajudava as quadrilhas, as prefeituras a contratar sanfoneiros e cantores de forró. Hoje, deputados e senadores esqueceram o povão. Utilizam emendas parlamentares para financiar grandes shows que custam milhões. Os prefeitos levam os municípios a falência gastando com palcos gigantes, luzes e sons. Nos shows, não cumprimentam o povo, ficam em camarotes luxuosos, consumindo bebidas caríssimas. Ao invés de bolo de milho, pé-de-moleque, baião-de-dois e milho assado, tem picanha e filé de salmão porque não engorda.
Governo do Estado faz bem em não entrar no São João dos milionários
A secretaria de Cultura do Ceará de forma acertada patrocinou festivais de quadrilha e não shows gigantes. A política pública, que mantém viva a tradução do São João, precisa ser estimulada. As quadrilhas juninas impressionam por conta do vestuário, da animação e alegria dos brincantes. Não aparece um prefeito, deputado, senador ou vereador nos festivais de quadrilha. Estão todos no show do Alok.
Ao invés de fogos, bala
Nas festonas ou grandes shows que querem chamar de festejos juninos, os prefeitos perderam o controle. Com as praças lotadas para ver shows e não se divertir, as pessoas ficam se acotovelando, espremidas. Bebida alcoólica a vontade, meninos enchendo a cara e as brigas constantes são a marca do exagero. Membros de facção atirando para o alto trocaram fogos por bala de verdade. É preciso conter essas festas.
Exemplos bons
Em Pernambuco, na Paraíba e na Bahia, artistas de fora no período junino só se forem sertanejos. Os artistas se reuniram e foram aos governadores e prefeitos. Geraldo Azevedo, Flávio José, Waldonys, Vicente Nery, Nattan, Zé Vaqueiro, Safadão, jovens cantores revelados. O Nordeste precisa preservar o São João, sua maior tradição.