O presidente da Federação Cearense de Futebol (FCF), Mauro Carmélio, falou, em entrevista nesta segunda-feira, 29, sobre as ações de combate ao racismo no futebol por parte de torcedores que assistem aos jogos dos times cearenses que disputam no momento o Campeonato Brasileiro. Para ele, trata-se de uma mudança de consciência que precisa acontecer urgentemente. Carmélio adiantou, ainda, que a Federação prepara um conjunto de ações para debater o tema.
“Temos que mostrar que não só o futebol, mas a sociedade não tem lugar para o racismo. Hoje, o torcedor brasileiro sabe que o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ednaldo Rodrigues, é negro e vai continuar esse trabalho forte de combate. E sim, falta punição e faltam posicionamentos mais firmes por parte de presidentes de clube, mas até nisso está havendo uma atualização para penalizações mais radicais”, afirmou.
A declaração foi feita durante o programa Conexão Assembleia, da FM Assembleia, à jornalista Kézya Diniz.
Por parte da FCF, Mauro Carmélio salientou que a entidade lançará cartilha contra o racismo, e outros tipos de preconceito, que será distribuída de forma virtual e presencial durante os jogos. “Além da cartilha, teremos seminários sobre o assunto, pois é preciso mudar esse pensamento e a torcida é fundamental nessa iniciativa. E o comportamento dentro dos estádios precisa mudar não só em relação ao racismo, mas tudo que remeta à ofensa ou violência. Muitas vezes, a torcida passa o tempo todo cantando músicas com palavrões dirigidas ao adversário, mesmo não sendo o que está jogando naquela partida“, ressaltou.
Mauro Carmélio acha inadmissível essas manifestações preconceituosas em pleno Século XXI, principalmente porque, perante a lei, isso é crime. O presidente defende que os autores não podem ter a benevolência por parte de quem que seja, principalmente das autoridades.
CASO VINI JR.
No último dia 21, o atacante do Real Madrid, Vini Jr., foi alvo de ataques racistas em jogo válido pela LaLiga contra o Valencia. Após isso, o Ministério da Igualdade Racial (MIR) disse que acionaria as autoridades da Espanha para tomar providências. “Repudiamos mais uma agressão racista contra o Vini Jr. Notificaremos as autoridades espanholas e a La Liga [Liga de futebol da Espanha]. O Governo brasileiro não tolerará racismo nem aqui nem fora do Brasil! Trabalharemos para que todo atleta brasileiro negro possa exercer o seu esporte sem passar por violências”, disse, em nota, logo após os ataques.
Durante a derrota da equipe dele para o Valencia por 1 a 0, Vini escutou insultos racistas e gritos de “macaco” vindos das arquibancadas, gritados por milhares de torcedores. O jogo foi paralisado por cerca de oito minutos e, posteriormente, o jogador foi expulso ao se envolver em uma confusão. Nas imagens, ele chegou a ser contido por jogador adversário com um golpe de enforcamento.
Os dois maiores clubes cearenses também se solidarizaram com o atacante brasileiro. Em suas redes sociais, Ceará e Fortaleza publicaram mensagens de apoio ao atleta e repúdio ao acontecimento. “O Ceará Sporting Club vem, por meio desta nota, se solidarizar com o atacante Vinicius Júnior, vítima de mais um episódio de racismo na Espanha. Um dos melhores jogadores do mundo na atualidade, Vini Jr tem sido obrigado a conviver com repetidos crimes contra si“, disse o Alvinegro.
O Tricolor do Pici também se manifestou sobre o ocorrido. Tanto no Twitter como no Instagram, o Fortaleza postou a mensagem de apoio a Vinícius Júnior. “O sentimento de revolta resume mais um caso de racismo com nosso astro brasileiro, @vinijr! O Fortaleza Esporte Clube e sua torcida repudiam mais uma vez os atos covardes que ocorreram”, disse.
*Reportagem de Fernando Barbosa.