Frevo, bonecos gigantes e desfile de escolas de samba. Estes elementos carnavalescos podem ser associados a lugares distintos, como Recife, Olinda e Rio de Janeiro. Na verdade, tudo isso pode ser encontrado no Sul do Ceará, mais precisamente em Barbalha. Além de sediar um dos mais tradicionais eventos do País, a Festa do Pau da Bandeira — patrimônio reconhecido pelo Iphan —, a terra de Santo Antônio possui o mais pujante e diverso carnaval da região do Cariri.
Longe dos holofotes de cidades cearenses como Aracati e Fortaleza, Barbalha anualmente leva dezenas de blocos às ruas e possui competição entre escolas de samba, que anima sua população e atrai moradores de cidades vizinhas. A Liga Independente das Escolas de Samba de Barbalha (Liesba) é responsável por organizar os desfiles que, neste ano, terá três escolas no páreo — outras duas sairão de forma independente.
HISTÓRIA
A tradição do carnaval com desfile de escolas de samba ultrapassa o meio século. Há 61 anos, surgiu o Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos do Morro, a mais antiga agremiação da região do Cariri. Nas cores verde e brando, a Unidos do Morro nasce num território que ainda é tido como um dos maiores berços do samba do Cariri, o bairro do Rosário.
Seu precursor, contudo, foi Francisco Pereira de Oliveira, o Fanequim, que após passar uma temporada no Rio de Janeiro e retornar à Barbalha, em 1961, notou a segregação da sociedade local. De família humilde, enxergou que havia um único clube da cidade, o Cetama, que era frequentado pela elite. Com alguns amigos, em 1962 alugou um prédio e fundou o Clube Maguary, que também possuía um bloco homônimo.
A brincadeira cresceu e, em outubro daquele ano, ao lado de figuras marcantes como Rolinha e Chico Gurema, Fanequim deu início ao projeto de escola de samba. Com dois tarol, dois surdos e um bumbo o grupo iniciou os ensaios. O trabalho foi crescendo e, em fevereiro de 1963, já agregava 20 ritmistas e um casal de passistas.
Como pioneira no carnaval, a Unidos do Morro se tornou um ícone para toda a região. Outras escolas foram surgindo em Barbalha e, em 1991, foi criada a Liga Independente das Escolas de Samba de Barbalha que, entre idas e vindas, já chegou a ter seis agremiações filiadas. A Verde e Branca é a maior campeã com sete títulos.

Neste ano, ainda em celebração aos seus 60 anos, a Unidos do Morro decidiu revisitar um dos seus mais icônicos sambas, que em 2000 homenageou o escritor José de Alencar e foi vencedor da disputa naquele ano. “Foi um desfile nostálgico, que traz emoção. Pessoas que na época eram crianças e, hoje, choram lembrando”, justifica o presidente da agremiação Kleber Fidelis. Os preparativos para o desfile começaram em abril do ano passado e, no último mês de setembro, culminou na apresentação do samba-enredo de 2024. Com a aproximação do carnaval, a preparação ganha outro ritmo. Para ser ideia, a comissão carnavalesca é composta por 30 pessoas. O barracão, nos últimos dias, chega a ter de 15 a 30 pessoas. No desfile, terão cerca de 250 integrantes.
PROOGRAMAÇÃO
O desfile da Unidos do Morro ocorre neste sábado (10), a partir das 20h30. Antes dela, entra a Acadêmicos do Cirolândia, às 19h, que traz para a avenida a história do rádio no Cariri e uma homenagem ao radialista Antonio Félix, um dos fundadores da escola. Quem fecha as apresentações é a Águia de Ouro, tricampeã do carnaval barbalhense, que vai tratar o tema da sustentabilidade e a defesa da natureza na sua apresentação, que começa a partir das 22h.
“A gente sente uma estabilidade, nos últimos anos, e um crescimento gradativo no carnaval de Barbalha, onde há estrutura montada, alambrado. Ainda há uma certa resistência na juventude em participar. Há muito envolvimento familiar, da comunidade. Alguns vestem a camisa, outros não. Mas todos os dias, todas as escolas estão incentivando, mostrando a importância”, enxerga Kleber.
BONECOS GIGANTES
Há 28 anos, as ruas Padre Antônio Jatahy e Padre Correia, no bairro do Rosário, em Barbalha, concentram o bloco de rua mais popular do Cariri: os Goteiras. A ideia surgiu em 1996, quando um grupo de jovens se via na terça-feira ociosa de carnaval, aguardando o desfile das escolas de samba campeãs do município, atração do último dia de festa, mas que acontece só à noite. Para preencher essa lacuna, se vestiram com sacola de açúcar e desceram as ladeiras de Barbalha sem nenhuma pretensão, cantando marchinhas tradicionais.

Com marchinhas originais, muitas que já caíram na boca do povo, o Goteiras fará, em 2024, seu 27º desfile — tradição interrompida apenas por causa da pandemia. Segundo seu presidente e um dos fundadores do bloco, Israel Wagner, a expectativa é que o desfile, que acontece na tarde da próxima terça-feira (13), atraia cerca de 1.500 pessoas em todo o seu trajeto. “Todo ano a gente vem notando que os filões vão aumentando”, reforça.
Em 2024, o bloco vai homenagear cinco personalidades do bairro do Rosário, todas em bonecos gigantes. Os adereços já estão prontos. O tema será “Deixe de arrodeio de guaxinim”, que reproduz o bordão de Pereca, uma figura emblemática da comunidade. A concentração começa a partir das 14h e a saída pelas ruas de Barbalha está prevista para às 16h. O retorno ao cruzamento das ruas Padre Antônio Jatahy e Padre Correia está previsto para às 19h.