Na semana passada, a exposição repetida nas mídias levou-me a querer saber um pouco sobre quem são, de fato, Deolane Bezerra e Pablo Marçal. Após uma leitura apressada, fiquei pensando sobre a educação brasileira e a intenção em formar cidadãos éticos. De fato, uma preocupação bem antiga aqui do lado ocidental. Os gregos atenienses, em seu processo educativo, já se preocupavam com a educação integral do intelecto, do artístico e do físico na formação integral do futuro cidadão político e ético.
No medievo, monges letrados e tradutores. Mais tarde, os professores humanistas e intelectuais artistas renascentistas. No século XVIII, iluministas. Na modernidade, filósofos, pensadores e historiadores revisitam e estudam os valores do antropocentrismo e do racionalismo da cultura clássica. Reconheceram a sua importância, a preservaram e a questionaram, mas nunca a desprezaram como Marx, Nietzsche e Freud, dentre outros. Esses conhecimentos da racionalidade do cidadão político e da boa ética ainda são valores estudados em nossas escolas.
Lendo, com cautela, sobre o passado de Deolane Bezerra e de Pablo Marçal, candidato à Prefeitura de São Paulo, veio a preocupação com a nossa educação. Nos idos dos anos 90, um acontecimento fortuito em uma escola chamou-me muito atenção. Certo dia, ao final da aula, um aluno procurou-me e disse: “professor, eu vi quem pegou o celular do fulano. Ele o levou para casa e acho que não vai mais devolver”. “Deve ser uma brincadeira. Ele vai devolvê-lo na saída”, disse-lhe. O garoto, de forma enfática, falou-me: “Acho melhor, o senhor ligar para o pai dele”.
Diante do aviso, ligamos. Após o coordenador identificar-se e relatar o caso de forma sucinta, ouvimos do pai, que se identificou como advogado: “Ele já me relatou”. “Então, ele vai entregá-lo amanhã ao amigo”, disse-lhe o coordenador. Com a voz incisiva, respondeu o pai: “Quem perde se dá mal e quem acha se dá bem”. Pensei: “O pai foi ex-aluno da escola. Algo deu e está dando errado com a educação brasileira”. A coisa parece que só piora. Deolane Bezerra é influenciadora digital, empresária e advogada que vivia uma vida de luxuria. Ela foi presa na Operação Integration, suspeita por integrar uma quadrilha que movimenta bilhões com lavagem de dinheiro e jogos ilegais.
Ao deixar a prisão, uma multidão a aguardava e, no áudio, ouvem-se os gritos: “Deixa ela em paz. Liberdade de expressão!”. Pablo Marçal, segundo as mídias, em 2005, com apenas 18 anos, “foi réu em uma ação que investigava um grupo que teria desviado dinheiro de bancos” e, em 2010, foi “condenado a quatro anos e cinco meses de reclusão por furto qualificado pela Justiça Federal de Goiás”. Como se não bastasse, em 2023 foi alvo da PF por crimes eleitorais e falsidade ideológica. Mas os seus eleitores só crescem. Como diz um amigo e professor de História: “O que passa na cabeça dessas pessoas?!”. Afinal, o que dizem e qual a importância social de influenciadores? “Tantos relatos, tantas perguntas”.