Segundo a Polícia Federal, os irmãos Amarildo da Costa Oliveira, mais conhecido como Pelado, e Oseney da Costa de Oliveira, conhecido como Dos Santos, confessaram hoje (15), o assassinato do indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips.
O indigenista e o jornalista, colaborador do jornal “The Guardian”, faziam um trabalho de investigação na Amazônia, na Terra Indígena Vale do Javari, quando desapareceram. Os dois foram vistos pela última vez no dia 5 de junho, quando passavam pela comunidade do Amazonas de São Rafael.
Depois disso, os dois partiram para uma viagem de barco de cerca de duas horas e não foram mais vistos. Depois de uma semana, na manhã de segunda (13), a mulher do jornalista, Alessandra Sampaio, informou que foi avisada pelo cunhado de que a embaixada brasileira em Londres havia dito que dois corpos foram encontrados. No entanto, Alessandra recebeu uma ligação da PF negando a localização.
O “The Guardian” informou à família do jornalista, por meio do embaixador brasileiro no Reino Unido, sobre a localização de dois corpos. “Ele não descreveu a localização e disse que foi na floresta e que estavam amarrados a uma árvore e ainda não haviam sido identificados”, disse Paul Sherwood, cunhado de Phillips, ao jornal britânico.
Mesmo ainda sem confirmações, a justiça brasileira determinou a prisão temporária por 30 dias de “Pelado”. De acordo com os ribeirinhos locais, o homem foi avistado passando no rio logo atrás da embarcação de Bruno e Dom, no trajeto entre a comunidade de São Rafael e a cidade de Atalaia do Norte. Inicialmente, durante as investigações sobre o desaparecimento, Amarildo foi preso depois de a polícia encontrar com ele uma porção de droga e munição de uso restrito.
Depois disso, na apreensão da lancha usada por “Pelado”, a polícia informou ter encontrado vários vestígios de sangue, mas ainda não se sabe se tratava-se de sangue humano ou de animais. “Dos Santos” indagou que, ao ser preso, Amarildo foi torturado, com afogamento e uso de spray de pimenta pela polícia. Familiares também disseram que ele é inocente e estaria sendo forçado a confessar o crime.
No último domingo (12), as equipes de buscas encontraram vários itens que pertenciam a Dom e Bruno. Na lista divulgada pelos bombeiros e polícia, constava notebook, cartão de saúde em nome de Bruno Pereira, calça preta de Bruno, chinelo preto de Bruno, par de botas de Bruno, par de botas de Dom Phillips e uma mochila de Dom contendo roupas pessoais.
Na tarde de ontem, a PF e a União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), que denunciou o desaparecimento dos dois, negaram que os corpos de Bruno e Dom tenham sido encontrados.
QUEM SÃO BRUNO E DOM
Além de indigenista, Bruno Pereira é servidor federal licenciado da Funai. Ele também dava suporte à associação indígena em ações e projetos locais. Segundo a nota da Univaja, Bruno era “experiente e profundo conhecedor da região, pois foi Coordenador Regional da Funai de Atalaia do Norte por anos”.
Já Dom Philips morava em Salvador e fazia freelas de reportagens sobre o Brasil há mais de 15 anos para veículos como “Washington Post”, “New York Times” e “Financial Times”, além do “The Guardian”. Além disso, o jornalista estava trabalhando em um livro sobre meio ambiente com apoio da Fundação Alicia Patterson. Dom e Bruno faziam expedições juntos na região desde 2018, de acordo com o “The Guardian”.
O LOCAL DO DESAPARECIMENTO
Vale do Javari, localidade onde Bruno Pereira e Dom Phillips desapareceram, é a segunda maior terra indígena do país. A região é marcada por invasão de terras por garimpeiros ilegais, roubo de madeira e tráfico de drogas. Fica na fronteira do Brasil com o Peru e a Colômbia, e está localizada no estado do Amazonas.