Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), de Mossoró, no Rio Grande do Norte, está em busca de uma solução para o reúso da água resultante da produção do efluente oleoso da produção de petróleo. A equipe realiza o trabalho na Fazenda Belém, situada no município de Icapuí, no Litoral Leste cearense. O terreno é de propriedade da empresa 3R Petroleum. A Superintendência Estadual do Meio Ambiente do Ceará (Semace), do Governo do Estado, acompanha o progresso do Projeto. Na semana passada, o técnico Alexandre Pinto marcou sua presença. A meta do órgão estadual é de que o projeto, uma vez bem sucedido, incentive outras empresas.
A pesquisa, coordenada pelos professores Frederico Ribeiro do Carmo e Daniel Valadão Silva, tem como intuito analisar o reúso da água para a irrigação e matérias-primas energéticas. O objetivo é gerar créditos de carbono – certificado emitido para uma pessoa ou empresa que reduziu a emissão dos gases do efeito estufa.
Conforme o técnico da Semace, no trabalho de extração do petróleo, a substância vem junto de água. Em alguns poços, segundo ele, a presença de água pode chegar a uma média de 90% a 95% do total. “Eles precisam separar o petróleo da água, e a água que sobra é o principal resíduo líquido da extração do petróleo. Essa água precisa ser destinada para algum fim”, disse. “A primeira função desse efluente será para irrigação de plantas, eucaliptos e forrageiras”, explicou.
Dessa forma, o projeto não visa apenas a irrigação. “Ele precisa ter outra função, uma função social”. Assim, o “material lenhoso” advindo de todo o processo deve ser usado tanto para a geração de biomassa, no uso do eucalipto depois de quatro a cinco anos; como para servir de matéria-prima para substituir o desmatamento, no uso das forrageiras – plantas usadas como fonte de alimento para os animais – após seis a sete meses.
“Então, você cria duas funções. Uma, você está usando o efluente e no produto final você está gerando um material que pode ser usado como biomassa”, destacou o técnico da Semace.
Como ressaltou Pinto, os projetos da área ambiental realizados no Ceará precisam ter licença da Semace. “Precisamos estar bem informados sobre o projeto, para saber se o projeto é economicamente viável”. O trabalho, para tal, precisa ser “socialmente viável”, “ambientalmente viável” e “ambientalmente correto”. “Por isso que envolvemos a universidade, porque vamos realizar esse projeto, apesar de ser uma água de reuso, de uma fonte ligada ao petróleo, será uma água tratada e será recolocada para que não contamine o solo, nem contamine o ar”, finalizou.
IMPORTÂNCIA DA VISITA DA SEMACE
De acordo com o professor Frederico do Carmo, a visita da Semace representou um “dia muito importante e de muito otimismo”, já que se trata de uma fase em que o financiador e o órgão ambiental que autoriza a implementação do projeto conhecem o trabalho realizado pelos pesquisadores da Universidade. O pesquisador revela que os resultados obtidos até o momento, dentro do cronograma proposto, são satisfatórios à equipe.
A 3R Petroleum assumiu a operação do Polo Fazenda Belém, um dos cinco polos sob concessão da companhia na Bacia Potiguar. Durante a visita da Superintendência cearense, o gerente executivo da empresa, José Luiz Marcusso, reconheceu a importância do trabalho de pesquisa. Ele destacou os números alcançados pela companhia na fazenda, que teve seu início de operação em agosto de 2022, após ser adquirida da Petrobras. “Na época, produzia 570 barris por dia, atualmente produz cerca de 800 barris por dia. Temos condições de chegar a mais de dois mil diários. A água produzida é uma realidade, porém, com a reutilização na irrigação será a melhor alternativa da Companhia para a sociedade, as comunidades do entorno, além de também gerar benefícios para a 3R Petroleum”.
“O projeto tem uma importância muito grande e esses experimentos que estão sendo realizados na Ufersa, que estou tendo a oportunidade de ver, nos deixam muito animados. Acho que estamos no caminho certo, é claro que temos que continuar com as pesquisas, mas os resultados até agora são os melhores possíveis”, concluiu.