Levantamento divulgado neste mês pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) indica que 68% das famílias do Nordeste passam por situação de insegurança alimentar (IA). A região está atrás somente do Norte, com 71,6%. Além disso, o índice nordestino é maior que a média nacional, 58,7%. Os dados constam do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil.
A sondagem foi realizada pelo Instituto Vox Populi, com apoio e parceria de Ação da Cidadania, ActionAid Brasil, Fundação Friedrich Ebert Brasil, Ibirapitanga, Oxfam Brasil e Serviço Social do Comércio (Sesc).
De acordo com a pesquisa, que monitora os diferentes níveis de insegurança alimentar, na região Nordeste, residem 21% das famílias que passam por situação de IA grave, ou seja, convivem diariamente com a fome. Esse número representa uma parcela do Brasil, que possui atualmente 125,2 milhões de pessoas residentes em domicílios com IA e mais de 33 milhões em situação de fome. Em comparação com o 1° inquérito, publicado em abril de 2021 e com dados de 2020, ou seja, do início da pandemia, o número de novos brasileiros em situação de fome aumentou em 14 milhões em pouco mais de um ano.
Além do Nordeste, a pesquisa também abrange outras regiões brasileiras. Foram feitas entrevistas em 12.745 domicílios, em áreas urbanas e rurais de 577 municípios, distribuídos nos 26 estados e no Distrito Federal, entre novembro de 2021 e abril de 2022. Os resultados foram medidos pela Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (Ebia), utilizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
ESPECTRO NACIONAL
Segundo a pesquisa, o país retornou a um patamar equivalente ao da década de 1990. Na pesquisa feita no ano passado, a fome no Brasil tinha voltado para patamar equivalente ao de 2004. Essa situação é resultado do fato de mais da metade (58,7%) da população brasileira convive com a insegurança alimentar em algum grau – leve, moderado ou grave.
Para além da insegurança alimentar, o estudo também identificou que a desigualdade de renda é fator chave na atual situação do país. A fome quase desaparece nos lares com renda superior a um salário mínimo por pessoa. Em 67% dos domicílios com renda maior que um salário mínimo por pessoa, o acesso a alimentos (segurança alimentar) é pleno e garantido.
Contudo, nem mesmo possuir renda acima de um salário mínimo é garantia contra a privação do consumo de alimentos, uma consequência da crise econômica e dos reajustes do salário mínimo abaixo da inflação, como indica o levantamento. Agora, 3% dos lares nesta faixa de renda têm seus moradores em situação de fome, e 6% convivem com algum grau de restrição quantitativa de alimentos (insegurança alimentar moderada) e 24% não conseguem manter a qualidade adequada de sua alimentação (insegurança alimentar leve).
OUTROS FATORES
Além da renda, a pesquisa realizada pela Rede Penssan também identificou que outros fatores, como raça, gênero e baixa escolaridade. Enquanto a segurança alimentar está presente em 53,2% dos domicílios onde a pessoa de referência se autodeclara branca, nos lares com responsáveis de raça/cor preta ou parda ela cai para 35%. Em comparação entre os inquéritos, nas casas em que a mulher é a pessoa de referência, a fome passou de 11,2% para 19,3%. Nos lares que têm homens como responsáveis, a fome passou de 7,0% para 11,9%. Conforme o estudo, isso ocorre, entre outros fatores, pela desigualdade salarial entre os gêneros.
Já nos domicílios com responsáveis com baixa escolaridade, ou seja, quatros anos ou menos de estudos, a fome está presente em 22,3% deles. Em 2020 esse percentual era de 14,9%. O maior percentual de segurança alimentar é em domicílios cujos responsáveis têm mais de 8 anos de estudo: 50,6%.