O fim de semana é de introspecção, reflexão, resgate da fé e renascimento. A Páscoa traz uma série de pensamentos e rituais que vão muito além do coelhinho, dos ovos de chocolate e do consumo de peixe. Esses são, digamos, os símbolos mais comerciais associados ao período. Mas, para aqueles que entregam esse momento ao sentido religioso que ele guarda, há uma série de pequenas e grandes práticas que costumam ser realizadas. No Interior, observamos tradições bem comuns, como o jejum e a participação nos ritos católicos, entre eles, o Tríduo Pascal, que marca a paixão, morte e ressureição de Jesus Cristo.
No Cariri, há também os ritos populares, que unem a fé católica às tradições da cultura local. Entre as expressões mais fortes estão os grupos de penitentes, homens simples e abnegados que se reúnem em longas caminhadas rezando e cantando benditos. No passado, grupos mais radicais chegavam a “castigar” o próprio corpo como forma de penitência. Hoje, eles vestem roupas em estilo medieval e carregam nas mãos o “cacho”, chicotes com lâminas de ferro, apenas como simbologia. Os penitentes pedem esmolas, rezam na frente das casas e abençoam as famílias. Os grupos de “karetas” também são encontrados com frequência nas cidades do Cariri.
Eles cantam e dançam ao som de sanfona, triângulo e zabumba, enquanto pedem donativos para a malhação do judas, outro momento bem tradicional do período. Mas o centro da programação da Semana Santa no Cariri continua sendo Juazeiro do Norte. Os romeiros do Padre Cícero costumam visitar a cidade nesse período para cumprir seus rituais de fé. Depois de uma pausa de dois anos, devido a pandemia, os fiéis experimentam o retorno à terra que consideram santa. Em Juazeiro, há tradições bem peculiares, como a de cobrir as imagens de santos com pano, o chamado véu quaresmal. A tradição, que é cumprida dentro das igrejas, se replicou em muitas casas, principalmente na subida da Colina do Horto.
As famílias costumam ter pequenos altares em um espaço da casa onde reúnem as imagens e realizam suas orações. Entre os significados desse ritual está o luto pela morte de Jesus. Em meio às tradições e rituais, a Semana Santa carrega em sua essência um momento de profunda reflexão sobre o individual e o coletivo. Que encontremos o caminho para atitudes mais nobres e dias melhores.