A disputa no bloco governista se acirra cada vez mais em torno dos nomes da governadora Izolda Cela (PDT) e do ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT) para as eleições deste ano ao Governo do Estado. Os dois têm apoios relevantes desde o início deste ano, fato que dita as dinâmicas internas e de aliados.
Para Monalisa Torres, pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem/UFC), isso se explica pelo fato de os dois terem trajetórias no Executivo bem sucedidas e de grande visibilidade: Izolda como vice do elogiado duplo mandato de Camilo Santana (PT) no Palácio da Abolição – e agora governadora – e RC como prefeito de Fortaleza por duas vezes seguidas, construindo uma base sólida de apoio de correligionários.
Monalisa aponta também que ambos têm grandes figuras do bloco empurrando seus nomes para a chapa. “O Ciro [Gomes, do PDT, que concorre ao Planalto] tem o Roberto Cláudio por questões de estratégia nacional. Entendo que isso para ele seria a consolidação de um palanque fiel à sua candidatura no Ceará.”
A docente acrescenta que “Izolda tem a caneta na mão e ocupa uma função que lhe permite dialogar, negociar, construir alianças com prefeitos, que são cabos eleitorais importantes, além de ela ter como aliado forte o próprio Camilo.” O ex-governador evitava demonstrar apoio claro a algum nome cotado pelo PDT para a disputa, postura que mudou nesta sexta-feira, 8.
Na quinta-feira, 7, PT, PV, PP, MDB e PCdoB assinaram nota conjunta em defesa da escolha de Izolda para a chapa do PDT e do diálogo com aliados. O PSDB também fez coro pelo diálogo, reforçando que quer participar do processo de definição.
Por outro lado, RC também tem fortes, fiéis e relevantes apoiadores, como também Carlos Lupi, presidente nacional do PDT. Outros, como o vice-presidente da Câmara Municipal de Fortaleza (CMFOR), Adail Jr., até ameaçam não apoiar Izolda caso o ex-prefeito seja descartado. Para amenizar o clima com aliados, o presidente estadual do PDT, André Figueiredo, emitiu nota na manhã desta sexta, sinalizando união no bloco. “[…] Unidos, autodeterminados, leais, competentes, não haverá chances para o atraso”, disse.
CAPITÃO WAGNER
Na pesquisa eleitoral encomendada pelo PDT ao Quaest, o deputado federal licenciado Capitão Wagner (União Brasil) lidera a disputa contra todos os pré-candidatos do PDT – que são, ainda, Mauro Filho e Evandro Leitão. Contra este, inclusive, há a maior vantagem do nome da oposição, com 42 pontos percentuais a mais que o pedetista. Isso o consolida como a figura mais forte na corrida até aqui.
“O Wagner é um político já conhecido no Estado há muito tempo, é carismático. Ele já concorreu a diferentes eleições, inclusive, a última para prefeito. Ele usou essas eleições como vitrine de forma eficiente. No pleito de 2020, ele foi derrotado por uma margem muito pequena”, diz Monalisa, destacando também o fato de o parlamentar não ser apadrinhado e ter trajetória independente.
A professora diz, ainda, que Wagner é beneficiado pela demora em o PDT escolher quem encabeçará a chapa. Durante todo esse tempo de pré-campanha, ele reuniu a oposição e angariou apoio concentrado ao seu nome.
A opinião é compartilhada por Felipe Braga, professor de Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Para o jurista, “quando as convenções homologarem os nomes, a definição dos eleitores deve sair nas primeiras semanas” de campanha. Aliado a isso, Braga alerta para o “histórico de forte largada e falta de fôlego político no decorrer da campanha” de Wagner.
“O resultado pode ser invertido logo após as primeiras semanas da divulgação do nome dos candidatos do PDT/PT”, afirma. Para ele, se a disputa for a segundo turno, há um cenário menos favorável para Wagner, “que quer se descolar da imagem do presidente Jair Bolsonaro (PL), mas dificilmente o eleitor fará tal distinção.”