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25 de março de 2025

“Ou encaramos o monstro ou a democracia estará morta na próxima eleição”, diz Ciro em Fortaleza

Ex-governador do Ceará diz que modelo de gerir a economia do País é antiga e comprovadamente ineficaz
Foto: Divulgação

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O ex-governador do Ceará e ex-ministro da Fazenda, Ciro Gomes (PDT), proferiu palestra, nesta quinta-feira, 15, na sede da Câmara dos Diretores Lojistas (CDL) com o tema A Perspectiva da Economia Brasileira. Durante a palestra, Ciro alertou sobre a “gravidade da [atual] situação” do país, principalmente levando em consideração a atual composição do Congresso Nacional. “Ou nós encaramos o monstro que estamos criando, ou a democracia estará morta na próxima eleição”, sentenciou.

Ele iniciou fazendo brincadeira de que um amigo imaginário, de Marte, o advertiu para não se candidatar a presidente da República, pois a política continuava polarizada e o eleitor não estava interessado em modernização e em meios eficazes de salvar a economia. “Ele estava certo, vocês viram o resultado”, ironizou.

“Posso falar com a liberdade de quem não precisa agradar mais ninguém porque o meu ciclo eleitoral, meu apetite eleitoral, acabou. Antes, eu me sentia obrigado a representar uma espécie de corrente de opinião que tirava 10%, 12%, e agora praticamente me deixaram falando só. Então, eu tô agora falando só por mim, o que me dá uma liberdade muito grande”, disse Ciro.

Derrotado nas eleições presidenciais em 2022, o pedetista alertou sobre a importância da criação de um fórum de governadores e prefeitos para a relação com o Congresso. Apesar da crise com o PT, refletindo inclusive no Ceará, Ciro apoiou a candidatura de Lula no segundo turno contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Depois disso, o ex-governador abriu um período de meses de silêncio sobre suas posições políticas. Para ele, esses governantes precisam reunir, mobilizar, qualificar, propor e, caso necessário, chamar o povo, para não permitir que o achaque continue acontecendo. Ciro Gomes frisa que o Centrão não tem responsabilidade com o Brasil.

ECONOMIA

Ciro destaca que ninguém quer investir num país com uma indústria que não cresce há mais de 20 anos, tendo uma produção de 20% a 25% menor que a capacidade. Voltou a criticar a política de juros do Banco Central, lembrando que nada justifica juros de 13,75% ao ano, com a previsão de inflação de 4%. Ele exemplifica mostrando que nos Estados Unidos a inflação é de 8% e os juros estão em 2,5% anuais. Na Zona do Euro e Inglaterra, que não integra mais a União Europeia, a inflação varia de 8 a 10 por cento, com juros de 3,5%.

Citou ainda que a cidade de São Paulo arrecada de IPTU, por mês, mais que o imposto de propriedade rural (IPTR) pago pelos grandes do agronegócio pagam em um ano, em todo o País. “Só em renúncia fiscal, o valor é de R$600 bilhões, até o final do ano”, frisou. “Ou muda o modelo, ou vai ficar como está”, concluiu.

Ciro Gomes chamou a política de juros de infame, pois não permite, por exemplo, o aquecimento do mercado de trabalho, além de salientar que outro passo importante para o crescimento da economia é uma reforma tributária justa. Destacou ainda que o modelo de crescimento de 12, 14 e por cento ao ano, que prevaleceu por décadas, colapsou, entretanto nada foi feito para reverter a situação, visto que os atores são os mesmos há mais de meio século.

O ex-ministro acrescentou que quando a política monetária brasileira degringolou, nos 1980, a população e os políticos preocuparam-se em culpar a ditadura, visto o País buscava a redemocratização.

REVERSÃO

Lembrou que, em 1980, por exemplo, a produção industrial brasileira era seis vezes maior que a da China. “Hoje, a China tem uma produção industrial 20 vezes maior que nossa”, afirmou. “E isso não tem nada a ver com regime político”, enfatizou. Há 40 anos, a indústria era responsável por um terço do produto interno bruto (PIB), de 33 a 34 por cento. Nos últimos anos, a produção industrial do Brasil não passa de 10%.

Na avaliação de Ciro Gomes, o Brasil continua fracassando e o principal fator é que a política, em todos os sentidos, é gerida pelas mesmas pessoas e elas insistem em querer manter o modelo que, na opinião dele, não é eficaz. Acrescentou que as desculpas pelo fracasso são as mesmas, mudando somente os que levam a culpa. “O Bolsonaro dizia que não governava porque o STF não deixava. Agora, o Lula culpa o Banco Central”, criticou.

AUTONOMIA DO BANCO CENTRAL

Sobre a autonomia do Banco Central, Ciro Gomes lembrou que foi dada de maneira criminosa, quando o então presidente Jair Bolsonaro aproveitou a pandemia para enviar o projeto ao Congresso Nacional. “Era um governo que fazia apologia da morte, era contra a vacina e isso na fase mais grave da doença e ele fazendo pouco caso”, frisou.

Ciro Gomes, no entanto ressalta que a lei que instituiu a autonomia do BC permite que o presidente seja demitido. Para tanto, basta o Conselho Monetário Nacional (CMN) recomende. “Eu já presidi o Conselho Monetário Nacional. O presidente do CMN é o ministro da Fazenda”, esclareceu.

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