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13 de outubro de 2024

Os desafios da Década dos Oceanos para uma produção sustentável

Presentes em mais de 70% da superfície da Terra, os mares sofrem com constantes ameaças, principalmente humanas. O OPINIÃO CE embarcou, junto com especialistas, para descobrir quais os principais desafios e como o Ceará está contribuindo com o debate.
Espigão da Beira Mar, em Fortaleza. Foto: Natinho Rodrigues

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Presentes em cerca de 71% da superfície terrestre, os oceanos são essenciais para o equilíbrio da vida no planeta, seja para absorção das emissões de CO2, regulação da temperatura, transporte náutico de mercadorias entre os continentes, como impulsionador da economia por meio do turismo – vejam a orla de Fortaleza – ou mesmo para inspirar canções, poemas e outras produções artísticas típicas da natureza humana. Ainda assim, especialistas e entidades ligadas ao meio ambiente alertam para o esvaziamento dos mares de vida e o preenchimento com plástico, colocando em risco inúmeras espécies.

Em uma série especial, o OPINIÃO CE aborda quais os principais desafios neste contexto e como o Ceará está contribuindo com o debate. A segunda reportagem mostra detalhes de uma expedição inédita pelo oceano Atlântico e mar Mediterrâneo na qual a Universidade Federal do Ceará (UFC) representou o Brasil. O OPINIÃO CE também apresenta 5 municípios cearenses que já incluíram a “Cultura Oceânica” em seus respectivos currículos escolares.

A Organização das Nações Unidas (ONU) declarou, em 2017, a Década das Nações Unidas de Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável, conhecida como Década dos Oceanos (2021- 2030). O objetivo é promover o debate sobre os desafios da produção sustentável e manutenção da vida marinha tendo como foco o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14, previsto na Agenda 2030, acordo internacional firmado pelos estados-membros da ONU – incluindo o Brasil. Na última semana, aconteceu a 2ª edição da Conferência do Oceano em Lisboa, em Portugal, reunindo importantes autoridades no assunto e líderes mundiais.

Na terça-feira, 28, o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, defendeu, no evento, a criação de dois acordos internacionais em prol da vida marinha. “O lixo no mar, especialmente o plástico, é um grave problema ambiental que a comunidade internacional finalmente começou a reconhecer e a estabelecer mecanismos para enfrentá-lo de forma coordenada”, disse. O ministro destacou que o Brasil “tem uma área marinha de 5,7 milhões km², sendo 27% da área protegida”, além de outras ações, como o “Lixão Zero”, que, segundo ele, já encerrou 20% dos lixões a céu aberto no País desde 2019.

Para entender como o debate pode, de fato, impactar na realidade prática, o professor Marcelo Soares, docente do Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da UFC, e coordenador brasileiro do Projeto Internacional I-plastics, listou, a pedido da reportagem, os sete principais pontos a serem observados.

A orla de Fortaleza concentra um dos principais pontos do turismo cearense. Foto: Natinho Rodrigues

Oceano limpo

Segundo o professor, o primeiro grande problema está na poluição dos mares. Ele defende que precisamos “ter um oceano onde as fontes de poluição são identificadas, combatidas e minimizadas”. “Infelizmente, temos graves problemas neste sentido, desde esgotos que entram sem tratamento, microplásticos, lixo marinho e a questão do derrame do óleo. Temos uma série de fontes de poluição para o ambiente marinho”, aponta. Recentemente, segundo o professor, também foram identificados medicamentos mal descartados.

Conforme a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), mais de 25 milhões de toneladas de resíduos produzidos pelo homem vão parar nos oceanos todo ano. A estimativa é que, destes, 80% resultem de atividades no continente, em áreas urbanas, seja no litoral ou em regiões onde correm rios que desaguam em ambientes marinhos. O Brasil sozinho contribui com cerca de 2 milhões de toneladas de resíduos sólidos que vazam para o mar anualmente.

Arte: OPINIÃO DATA

Oceano saudável, resiliente e produtivo

O segundo ponto destacado por Soares é a necessidade de um oceano saudável e resiliente. “Temos tido problemas com a degradação dos ecossistemas marinhos e isso inclui os manguezais, as praias, os recipientes de corais, os bancos de gramas marinhas, os bancos de algas”. Na sequência, o especialista defende a necessidade de um oceano produtivo de forma sustentável, que continue fornecendo proteína animal para a humanidade.

“Temos por exemplo a pesca, que é uma atividade extremamente importante, além da aquicultura, utilizada nos ambientes costeiros, atividades que são ponto de segurança alimentar para comunidades pobres e vulneráveis”.

O quarto ponto destacado é conhecido como “oceano previsível”, quando é possível “prever e entender melhor suas mudanças”. “Isso envolve, por exemplo, o monitoramento da temperatura do mar, que é muito utilizado na meteorologia para previsão do tempo”.

O microplástico é um dos principais entraves para a garantia de um oceano mais saudável. Foto: Natinho Rodrigues

Praias do Ceará impactadas

“O ponto cinco é um oceano seguro. Ele está, hoje, em uma profunda modificação, o que leva a uma série de fenômenos, como furacões, tornados, inundações, o aumento do nível do mar, que tem levado ao processo de erosão costeira muito intenso. Quase 50% das praias do Ceará estão sob erosão”, destaca. Neste ano, por exemplo, a cidade de Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza, anunciou a construção de 11 espigões em sua orla para barrar o avanço do mar. Só os três primeiros, no Icaraí, estão orçados em R$ 44 milhões, com recursos da Prefeitura e do Governo do Estado.

Como últimos pontos, Soares destaca a necessidade de consolidar um “oceano transparente e acessível”, para que as pessoas possam entender seus dados e importância; e um oceano inspirador e envolvente. “Que possa inspirar a humanidade a produzir música, a ter uma recreação, que contribua nos esportes náuticos. Que possa continuar oferecendo essa gama de bens e serviços”, finaliza.

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