A primeira e mais importante finalidade dos açudes que cortam o sertão nordestino é abastecimento. Os reservatórios são projetados e estrategicamente instalados para receber e armazenar água. A reserva hídrica garante os abastecimentos humano e animal nos períodos de estiagem.
Mas como todo grande projeto, os programas de açudagem evoluíram e foi preciso inseri-los em outras frentes de ações para suprir demandas importantes, como a segurança alimentar. Era possível e necessário ir além do abastecimento. Uma das atividades viáveis foi a piscicultura. Surgiram então os programas de peixamento, ou seja, transporte de alevinos para povoar os açudes. Os peixes garantem alimento e renda.
No Ceará, os açudes públicos, além de rios e lagoas, são povoados através de um programa da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), que concluiu a edição 2021/2022. O projeto, executado pela Coordenadoria de Desenvolvimento da Pesca e Aquicultura Familiar (Copea) da SDA, distribuiu 5,5 milhões de alevinos, gerando mais de R$ 6 milhões em negócios rurais. O programa atinge, hoje, mais de 10 mil pescadores e pescadoras artesanais, alcançando cerca de 51 mil famílias.
A ação garante produção de 1,1 toneladas de peixe por ano. É um número considerável, uma vez que estamos falando de um alimento extremamente comercial, saudável, nutritivo e saboroso, que faz parte do cardápio sertanejo. Trata-se de uma ação com impacto direto na segurança alimentar, que abre também uma frente de oportunidade de renda.
Ações como essas precisam ser replicadas e devem servir como base para outros programas, com outros produtos que possam aproveitar estruturas já existentes, com grande poder de alcance e resultados expressivos. Isso é política pública de convivência com o semiárido.