Priscila Baima
priscila.baima@opiniaoce.com.br
Capacitar jovens ociosos, ampliar políticas públicas para a agricultura familiar e favorecer o microcrédito para empreendedores locais fazem parte da argamassa do “bolo de propostas” dos três principais candidatos ao Palácio da Abolição nas eleições de 2022.
A receita certa, todavia, não existe e tampouco traz ineditismo em se tratando dos planos de governo dos candidatos Roberto Cláudio (PDT), Elmano de Freitas (PT) e Capitão Wagner (União Brasil). A cereja do bolo só será posta, portanto, em janeiro de 2023. Especialistas ouvidos pelo OPINIÃO CE trazem visões otimistas e também realistas sobre o que cada candidato tem a oferecer para os cearenses a partir do próximo ano.
Edemilson Paraná, professor de Sociologia Econômica e do Trabalho da Universidade Federal do Ceará (UFC), avaliou que as propostas dos planos de governo dos três candidatos parecem importantes, pois trazem questões que qualquer governo deve dar à devida atenção, principalmente se tratando de empregabilidade.
No entanto, o que foi sugerido como plano de governo não é novo e nem dá detalhes mais específicos sobre o que cada um pretende.
“As propostas envolvem uma ação coordenada de distintas esferas da Administração Pública, mas é preciso ter um maior grau de detalhamento. É preciso conhecer como esses programas, essas ideias e essas implementações vão ser realizadas na prática, por meio de quais modelos, com quais parcerias, com quais fontes de gasto de investimento e assim por diante”, avalia.
Dentre as propostas do Capitão Wagner, por exemplo, é citada a ideia de capacitar 700 mil jovens que não conseguem trabalhar e estudar no Ceará a partir de parcerias entre instituições de ensino e entidades. O candidato, entretanto, não diz como. “Tratam-se mais de planos de intenções do que propriamente planos de governo. Nenhum desses candidatos apresentam, por exemplo, a previsão do crescimento do PIB e quanto eles irão gerar de emprego e renda também”, detalha o economista e conselheiro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Eldair Melo.
Ainda segundo este economista, outro ponto importante é que nenhum dos três trata do equilíbrio orçamentário do Governo do Estado. “Atualmente, nós temos a Lei da Responsabilidade Fiscal [LRF] que já está disparada pela Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2022. A folha de pagamento disparou o primeiro alerta com o limite alcançado em 49% por exemplo. Esse é o contexto de que o Ceará está partindo”, critica.
Em seu plano de governo Wagner também escreveu que pretende capacitar mulheres e torná-las financeiramente independentes a partir do desenvolvimento e da ampliação do programa de planejamento familiar, fortalecendo o vínculo familiar das gestantes e ofertando atendimento a esse público.
Em outra linha de sua proposta, Capitão Wagner diz que quer fomentar junto ao setor privado a instalação de novos equipamentos turísticos – hotéis, resorts, parques aquáticos etc – ao longo dos corredores costeiros do litoral do Estado, preservando o Meio Ambiente e gerando empregos diretos e indiretos. Ainda assim, não há muitos detalhes, o que prejudica a avaliação até do eleitor que entende um pouco de economia, defendem os dois especialistas. O documento registrado pelo candidato do União Brasil tem 11 páginas e é o mais enxuto de todos os planos. Ao todo, o plano tem 44 propostas, sendo o eixo social o que soma o maior número de proposições, com 19 ações prioritárias.
HERDARÁ FEITOS, MAS TERÁ QUE INCREMENTAR
Em seu plano de governo, Elmano de Freitas traz 25 ações para tratar de economia, emprego e renda. Uma delas é incentivar a oferta de serviços de tecnologia da informação, call centers, segurança, eventos e produção de aplicativos.
Além disso, dentro de suas propostas, promete aprofundar as políticas públicas voltadas para qualificação profissional, especialmente em parceria com o Sistema S (Senac, Sesc, Senai, etc) e fortalecer o Sistema Público Estadual de Trabalho, Emprego e Renda, em parceria com as esferas federal e municipal, com foco na intermediação da ocupação e emprego, apoio à comercialização de serviços profissionais autônomos e mecanismos de troca de serviços profissionais.
Para a presidente do Corecon-CE, Silvana Parente, as propostas econômicas do candidato voltadas à empregabilidade têm como base duas grandes estratégias. Uma é aprofundar as políticas já em curso pelo Governo Camilo e Izolda – que é de fortalecer as cadeias de energias renováveis, da saúde, da infraestrutura e da capacitação profissional.
A outra estratégia, segundo a economista, aponta para “novos caminhos na geração de trabalho e renda que é ativar as economias locais, não só as cadeias agroalimentares da agricultura familiar, mas também cita economia popular e solidária, além do microcrédito e os arranjos produtivos locais que é a base da economia dos municípios”, explica.
O candidato do PT reforça, em outro ponto do seu plano de governo, o estímulo aos negócios da agricultura familiar sustentável a partir da inovação, organização, produção, comercialização, agroindústria, utilizando tecnologias apropriadas, novo modelo de comercialização e agregação de valor nos territórios. Uma política que já existe no governo atual.
Na avaliação do professor Paraná, Elmano fez bem em destacar o elemento da agricultura familiar, mas está vago em seu objetivo final. “Essa proposta precisa de um maior grau de detalhamento e de uma organização estratégica em relação a uma política mais ampla para o setor agropecuário no estado do Ceará e que se conecte com uma estratégia econômica maior com a formação de recurso humanos”, sugere. O plano do candidato do PT tem 20 páginas e 166 propostas.
FOMENTAR SEGMENTOS
O ex-prefeito de Fortaleza e candidato a governador, Roberto Cláudio, dentre suas propostas para emprego e renda, quer fomentar o desenvolvimento do Estado para assumir o protagonismo nas novas economias baseadas nas sustentabilidades social, econômica e ambiental, potencializando as oportunidades da transição global para a chamada economia de baixo carbono.
Em outro ponto de seu plano de governo, o ex-prefeito de Fortaleza quer promover políticas públicas que estimulem o potencial do Estado na economia sustentável com foco especial na transição energética para fontes sustentáveis e renováveis como energia solar, eólica e hidrogênio verde.
O economista e professor Wandemberg Almeida acredita que esse ponto no plano de governo do ex-prefeito da Capital é positivo, porém também bate na tecla da especificidade da proposta.
“A indústria no Estado precisa se fortalecer por meio de uma nova matriz energética sustentável, mas para isso é preciso mudar um pouco da mentalidade dos cearenses. É preciso dar condições para que as pessoas possam fazer seus investimentos. Para a economia cearense, é algo positivo e que vai contribuir para a geração de emprego e procurar qualificar essas pessoas. Todavia, é preciso criar políticas públicas e programas específicos e mais claros e começar a produzir esse incentivo.”
Outra proposta de RC visa a estimular o desenvolvimento orientado pelas diversas vocações regionais do Ceará, tais como a Economia do Mar, agronegócio, turismo, desenvolvimento da indústria e infraestruturas logísticas. Além disso, o pedetista pretende priorizar a geração de oportunidades, emprego e renda, inclusive apoiando o segmento de pequenos e médios empreendedores, de forma a estimular o desenvolvimento econômico do Estado e o orientado pelas diversas vocações regionais locais.
Almeida afirma que a proposta de RC é algo que a população busca mais, principalmente depois da pandemia. “A população busca duas coisas praticamente: qualificação e oportunidade. Quando há parcerias público-privadas, se consegue muito. Então, é muito importante que o Estado saiba qualificar, principalmente para população mais carente”, conclui.
No documento apresentado pelo candidato do PDT, as 94 propostas estão divididas em 14 eixos. O plano tem 25 páginas. Os eixos são os seguintes: saúde; desenvolvimento, emprego, renda e empreendedorismo; segurança; inovação, ciência e tecnologia; meio ambiente; infraestrutura; mobilidade; turismo; proteção social; habitação; governança e gestão pública; agronegócio; primeira infância e; esporte e cultura. O eixo com mais propostas é o “desenvolvimento, emprego, renda e empreendedorismo”, com 13 proposições.