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21 de março de 2025

O preço que se paga por uma alimentação saudável

Uma alimentação saudável se dá por meio do consumo equilibrado de nutrientes. O OPINIÃO CE conversou com especialistas, que avaliam quais alimentos são necessários para uma dieta balanceada e como a população cearense consegue acessá-los
Foto: Natinho Rodrigues

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Entre questões econômicas e sociais, o cenário do Ceará apresenta fatores que levantam questionamentos sobre o valor nutricional dos alimentos no prato da população. Daí vem a necessidade de identificar quais alimentos são saudáveis, considerando sua quantidade, e quais devem ser evitados na dieta da população. É preciso considerar os impactos negativos que uma alimentação não balanceada pode trazer para a saúde, ocasionando doenças cardiovasculares, obesidade, hipertensão, entre outros males. Assim como os fatores comportamentais, com rotinas que exigem uma alimentação mais rápida, fatores econômicos também contribuem para a falta de uma refeição adequada na vida de pessoas com um menor poder de compra.

Uma alimentação saudável se dá por meio do consumo equilibrado de nutrientes. Entre vitaminas, minerais, proteínas, carboidratos e gorduras saudáveis, existe uma pirâmide alimentar que organiza esses alimentos em grupos, indicando o que deve ser priorizado e em quais quantidades e frequências. A nutricionista Isadora Meneses, em entrevista ao OPINIÃO CE, explica que comer saudável envolve uma série de fatores, que estão interligados com o valor nutricional do que está sendo ingerido e até mesmo com questões emocionais.

“O comer saudável envolve desde fatores nutricionais a fatores emocionais, ou seja, comer saudável implica comer alimentos ricos em macro e micronutrientes, limitar alimentos processados e evitar alimentos ultraprocessados. Uma alimentação saudável também implica nos alimentarmos, em momentos pontuais, de alimentos que nos trazem bons sentimentos e nos alimentarmos em confraternizações com amigos, família, em um ambiente saudável”, pontua a nutricionista.

A profissional destaca, ainda, que as pessoas devem estar atentas aos sinais do corpo, como a fome e a saciedade, além de seguir as quantidades de alimentos recomendadas conforme a faixa etária de cada indivíduo. Avaliando a sociedade atual, ela afirma que existe uma perda nutricional decorrente do estilo de vida moderno. “O ritmo de vida acelerado tem sido um dos principais fatores para que a população aumente consideravelmente o consumo de fast foods. Aliado a isso, o crescimento da indústria alimentícia, fornecendo alimentos ultraprocessados e de alta palatabilidade, tem incentivado ainda mais o consumo destes”, afirma a especialista.

Foto: Natinho Rodrigues

Em uma série de reportagens especiais, o OPINIÃO CE destaca as ações desenvolvidas no Estado para o combate à fome. Entre as iniciativas estão o Ceará Sem Fome, o Cartão Mais Infância, além de projetos sociais produzidos no Interior do Ceará voltados à população mais carente.

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ALIMENTAÇÃO DOS BRASILEIROS

Pesquisa divulgada em maio deste ano pela Universidade Estadual do Ceará (Uece) e pela Universidade do Rio de Janeiro (Uerj) revela que, de 2008 a 2018, houve uma expressiva mudança de hábitos entre os brasileiros. O levantamento aponta o aumento do consumo de fast foods e a diminuição de alimentos considerados saudáveis, como frutas, café, chá e peixes, além do arroz e do feijão – dois dos principais alimentos nutritivos.

O psiquiatra e coordenador do Centro de Tratamento de Transtornos Alimentares e Obesidade (Cetrata), Fábio Gomes, afirma que existe uma realidade, que vem crescendo, em que as pessoas preferem alimentos ultraprocessados, como refrigerantes e doces. Ele aponta que as consequências desse hábito são o surgimento de doenças como obesidade, doenças cardiovasculares, hipertensão, diabete, hemiplegia, desnutrição proteica calórica, síndrome metabólica, inflamações gastrointestinais e alguns tipos de câncer. Conforme o especialista, o ideal é manter o peso dentro da eutrofia, ou seja, em um estado nutricional adequado, e se alimentar das comidas presentes na pirâmide alimentar, evitando alimentos que não são nutritivos.

Foto: Natinho Rodrigues

“Evitar essas comidas muito salgadas, evitar essas coisas empacotadas, essas coisas que estejam nas prateleiras do supermercado. Isso vai fazer você ter uma alimentação saudável a um preço que seja razoável. Então, fazer essas substituições tem um custo para a saúde. A gente deve, cada vez mais, valorizar as comidas não processadas, as comidas locais, frutas e verduras, as proteínas que a gente tem disponíveis, que são o frango, o peixe e o ovo, por exemplo”, indica o psiquiatra Fábio Gomes.

QUANTO CUSTA UMA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL?

Além de fatores comportamentais, existe um alto índice de pessoas no Estado que ainda vivem em extrema pobreza e, por isso, não conseguem ter acesso a alimentos saudáveis de forma adequada. A situação vem apresentando relativa melhora, mas ainda requer atenção. Entre 2021 e 2023, por exemplo, 600 mil pessoas no Ceará saíram da condição de extrema pobreza. Mesmo com uma queda de 40,6% no índice entre os dois anos, o Estado registrou a menor baixa percentual entre as nove UFs do Nordeste. Os dados foram divulgados pela Diretoria de Estudos Sociais (Disoc) do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), com base nas informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (IBGE).

Conforme o Ipece, na comparação entre áreas geográficas do Ceará, foi possível verificar uma tendência de crescimento quase contínuo da extrema pobreza na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Entre 2021 e 2023, o número de pessoas nessa situação cresceu 14,6% na RMF, enquanto caiu 53,3% no Interior do Estado, com reduções de 55,1% no interior rural e 50,9% no interior urbano. Somente em 2023, o número de extremamente pobres na RMF cresceu 23,4%, significando um aumento de quase 60 mil pessoas.

Foto: Natinho Rodrigues

A economista e professora do Departamento de Economia no campus Sobral da Universidade Federal do Ceará (UFC), Lilian Lopes, relaciona a queda de pessoas em extrema pobreza aos programas de assistência do Governo, como o Bolsa Família, resgatado pelo presidente Lula (PT) em março de 2023. Isso possibilita a transferência de renda a pessoas que não possuem poder de compra. Citando também o Programa de Aquisição de Alimentos e as Cozinhas Comunitárias, a especialista afirma que as medidas de garantia de alimentação voltadas a pessoas em vulnerabilidade econômica auxiliam no acesso aos alimentos saudáveis com baixo custo ou nenhum. Somando a intervenção governamental, Lilian defende a criação de políticas de geração de renda que possibilitem à pessoa custear uma alimentação adequada.

“O Programa de Aquisição de Alimentos do Governo Federal parece ser uma boa medida para que os brasileiros em situação de vulnerabilidade econômica possam acessar alimentos saudáveis a baixo ou a nenhum custo. Esse programa, além de garantir alimentos à população de baixa renda, garante renda ao pequeno produtor. Outras medidas já vêm sendo executadas, como o caso das Cozinhas Comunitárias do Governo do Ceará. Concomitante a isso, políticas de geração de trabalho e renda são imprescindíveis para que os mais pobres possam custear, eles mesmos, uma alimentação saudável, além de suprirem necessidades básicas da vida cotidiana”, destaca a economista.

CESTA BÁSICA

A Cesta Básica do Ceará, que atualmente está custando R$ 663,22, registrou uma queda de 1,38% no Índice de Preços da Ceasa Ceará (IPCE), no comparativo entre julho de 2023 e o sétimo mês deste ano, como mostram os estudos elaborados pelo Núcleo de Economia e Estatística (Nuece) e pelo Sistema de Informação de Mercado Agrícola (Sima). A pesquisa calculou a variação de preços nos cinco principais setores de comercialização da central de abastecimento do Estado, incluindo cerca de 70 alimentos. Apesar de apresentar menores preços, conforme a avaliação da economista, o valor da cesta ainda não é acessível para pessoas mais pobres, já que é necessário dividir os gastos com outras necessidades.

“É um valor alto dada a renda média do cearense. Considerando que, em média, o cearense recebe cerca de R$ 1.800 por mês, mais de um terço dessa renda é destinada à aquisição de alimentos básicos, o que é um valor elevado porque outras necessidades básicas também precisam ser atendidas, como vestuário, transporte, saúde e habitação. Se considerarmos as famílias pobres que dependem exclusivamente do Bolsa Família, o valor da cesta básica é claramente inacessível”, pondera a especialista.

Arte: OPINIÃO CE

COMIDA SAUDÁVEL

Uma das principais bandeiras do Governo do Estado na atual gestão, o programa Ceará Sem Fome oferece uma alimentação de qualidade a pessoas em situação de vulnerabilidade social. A política pública reúne 15 secretarias do Estado, formando o Comitê Intersetorial de Governança do Ceará Sem Fome, que conta com a liderança da primeira-dama, Lia de Freitas. Atualmente, cerca de 100 mil pessoas recebem, diariamente, refeições gratuitas, preparadas nas Cozinhas Comunitárias. Segundo Lia de Freitas, existe uma série de órgãos que orientam o preparo das quentinhas, garantindo que sejam servidos alimentos saudáveis aos beneficiários. A primeira-dama ainda destaca que não foi registrado nenhum caso de contaminação entre as pessoas contempladas pelo programa.

“Tem um grupo de trabalho, de alimento seguro, do Conselho Regional de Nutrição, da Nossa Nutrição da Seduc, que é a Educação, da SPS, que é a proteção social, da sociedade civil e de universidades onde a gente prepara todo o cardápio e a ficha técnica e também capacita com boas práticas. Todas essas mulheres e esses homens fazem um trabalho lindíssimo nas cozinhas a partir desse processo de orientação. Já foram entregues mais de 13 milhões de refeições e não houve nenhum caso de contaminação”, destacou a primeira-dama do Estado em entrevista ao podcast Questão de Opinião, do OPINIÃO CE.

Confira a entrevista completa:

A nutricionista Isadora Meneses está entre as profissionais que trabalham no Programa Ceará Sem Fome, contribuindo na elaboração dos cardápios dos alimentos a serem distribuídos. Ela revela que o preparo das quentinhas segue as orientações do guia alimentar para a população brasileira, utilizando temperos naturais, óleo e sal em quantidades suficientes, além de evitar o uso de temperos ultraprocessados. Ela ainda acrescenta que o programa busca colocar em prática a cultura alimentar de cada região do Estado, contando com a parceria da agricultura familiar para garantir que seja servida uma alimentação saudável.

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