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8 de outubro de 2024

O percurso que nos separa de um carro elétrico

Repórter do OPINIÃO CE conta os benefícios vividos por quem dirige um carro elétrico e traça os desafios para que um veículo do tipo chegue à garagem do brasileiro comum

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Priscila Baima
priscila.baima@opiniaoce.com.br

Repórter do OPINIÃO CE, Priscila Baima experenciou dirigir um carro elétrico (Foto: Natinho Rodrigues)

Em tempos de preço da gasolina nas alturas, que outrora ultrapassou os R$ 8 em postos de gasolina da Capital cearense, experimentei o que seria uma alternativa para o bolso de muitos cearenses nesse momento: um carro elétrico.

No entanto, com somente seis vendas ao ano tendo como exemplo a marca Nissan, a possibilidade segue distante da realidade. Estacionado ao lado de outros carros convencionais, o carro elétrico da Nissan – o Leaf, aparentemente, não é um veículo que chama atenção de primeira, apesar do seu design arrojado e geométrico.

Com autonomia de até 272 km com 100% de carga, destravei o carro e procurei onde colocaria a chave, mas logo percebi que não precisava de chave para ligar: era um botão. Apertei-o e, em seguida, não percebi que o carro já estava ligado e pronto para sair.

A marcha do veículo é digitalizada, além de automática. Nunca tinha dirigido um carro automático e elétrico. Apertei o botão de ré e, tirando o pé do freio, tirei o carro da vaga para começar a seguir viagem. Num primeiro momento, peguei uma ladeira na av. Santos Dumont, mas não tive nenhuma dificuldade nem para sinalizar e, tampouco, acelerar. A resposta do motor é rápida, leve e, ao mesmo tempo, potente. Ele chega de 0 a 100 km/h em menos de 8 segundos. Para mim, o Leaf não brinca de expectativa: ele cumpre.

Com seis airbags, o veículo dá uma geração a mais de segurança. Além disso, ele tem mais de 15 itens de proteção com o sistema Safety Shield. Ao todo, percorri cerca de 1 km com o Leaf. A sensação é de flutuar sob o asfalto quente. No meu trajeto, pude observar que o veículo possui quase que uma inteligência artificial que consegue entender a hora de parar e de frear de forma quase que imediata. Não é preciso fazer muito esforço como eu comumente faço com meu carro – um Palio 2008 Flex 1.4 que trabalha a combustão desde a sua criação.

Apesar de todo o conforto e novidade de um motor completamente silencioso, o valor do modelo elétrico da Nissan – a partir de R$ 293 mil – não é atrativo, principalmente na atual conjuntura do País. Fiquei pensando o quanto eu teria que abdicar para ter um carro como ele, mesmo dando uma boa entrada e parcelado.

Por outro lado, imaginei um Brasil tendo em sua cultura capitalista a inserção de carros elétricos, tornando-os mais baratos. Atualmente, por exemplo, não existem impostos convencionais para esse tipo de veículo. Um exemplo: carros elétricos no País ainda não pagam IPVA.

Mas há um impasse: de fato, quando conversei com o gerente Walber Filho de uma das lojas da marca em Fortaleza, o maior problema de conseguir baratear não só esse modelo, mas todos os outros, é cultural. As pessoas e, principalmente, o mercado ainda estão movidos pelo petróleo. Além disso, a economia mundial gira em todo dos encargos em cima do preço dos combustíveis.

Questionei a questão dos impostos em cima do material de um carro elétrico, já que ele praticamente não tem motor, segundo os vendedores. Tanto a matéria-prima como a tecnologia avançada desses modelos tornam o produto final mais caro. E mais uma vez voltamos à cultura. A economia e a lógica de mercado também são culturais e merecem uma reavaliação como um todo, não só dentro de modelos da Nissan.

Na concorrência, observei que há o pequeno hatch elétrico da marca Chery que está em pré-venda e chegou às concessionárias com valor a partir de R$ 139.990, desbancando o Renault Kwid E-Tech, com preço de R$ 142.990 na pré-venda. Ainda assim, o carro elétrico no Brasil tem valores iniciais no valor de um apartamento popular novo em Fortaleza. Como classe média, o sonho de ter um carro 100% elétrico e que não polua o Meio Ambiente ainda continua no plano das ideias. Mais longe ainda, no plano de um país como o Brasil, que é praticamente refém do dólar e de um líquido preto que deixa mais rica a principal empresa do país – a Petrobras – e seus acionistas.

4.073 CARROS EMPLACADOS EM JUNHO
O Brasil emplacou 4.073 veículos leves eletrificados em junho, totalizando cerca de 20.427 no primeiro semestre de 2022. O destaque do semestre foi o expressivo aumento dos veículos 100% elétricos a bateria (BEV), que já superam o total de vendas do segmento de todo no ano de 2021. As informações são da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). O mercado de eletrificados (veículos 100% a bateria e híbridos leves) cresceu 47% no 1º semestre de 2022 sobre o mesmo período de 2021 (20.427, contra 13.899).

Manteve, assim, a curva de crescimento exponencial característica dos últimos dois anos, em contraste com a retração do conjunto do mercado doméstico. Com os números do mês passado, o total da frota nacional de leves eletrificados (HEV, PHEV e BEV) chega a 97.569 veículos.

Se o 2º semestre mantiver a atual tendência, o Brasil baterá novo recorde e emplacará este ano mais de 40 mil eletrificados, ou, no mínimo, 17% acima de 2021 (34.990).
Junho de 2022 foi o segundo melhor mês da série histórica da ABVE (iniciada em 2012), só superado pelos 4.545 emplacamentos de dezembro de 2021.

Em relação a junho do ano passado, o crescimento de eletrificados em junho deste ano foi 16% superior (4.073, contra 3.507). Em relação a maio de 2022, o aumento foi de 20% (4.073, contra 3.387). Dos 4.073 eletrificados vendidos em junho, 3.591 foram automóveis (incluindo SUVs) e 482 comerciais leves.

No primeiro semestre deste ano, o Brasil emplacou 3.395 veículos 100% elétricos, ou “puros”, 19% acima de todos os BEVs vendidos em 2021 (2.851). Em relação a 2020, o aumento dos BEVs no semestre foi de 324% (3.395 de janeiro a junho de 22, contra 801 de janeiro a dezembro de 20). Esse crescimento foi puxado em grande parte pelos veículos comerciais leves, como vans, picapes e furgões.

No total, foram 1.089 emplacamentos de BEVs só em junho, que representaram 27% do total de eletrificados vendidos no mês (4.073). Destes, 482 foram veículos comerciais leves 100% elétricos – 44% do total de BEVs comercializados no mês (1.089) ou 12% de todos os eletrificados (4.073).

Esses números confirmam a estimativa da ABVE de que o setor de cargas urbanas leves terá participação crescente na eletrificação do transporte no Brasil. Cada vez mais empresas de logística e grandes varejistas adotam a Agenda ESG (Environmental, Social and Corporate Governance), apoiando o transporte sustentável.

PARA INCENTIVAR
O Instituto de Engenharia e a Associação Brasileira do Veículo Elétrico promovem nos dias 28 e 29 deste mês um debate sobre a eletromobilidade no Brasil e no mundo. Durante os dois dias, especialistas e lideranças políticas discutirão os efeitos do transporte limpo e sustentável para o futuro da indústria brasileira, a geração de empregos, a qualidade de vida nas grandes cidades e a mitigação das mudanças climáticas globais.

Ao final, no dia 29, os organizadores divulgarão a Carta da Eletromobilidade no Brasil, documento-síntese sobre o tema, que será enviado aos principais candidatos a Presidente da República, Governos Estaduais e Congresso Nacional, nas eleições de outubro. O documento conterá um conjunto de propostas para os futuros governantes sintonizarem as políticas públicas no Brasil às estratégias já em curso nos principais países do Mundo.

Entre elas, a defesa da eletrificação do transporte público no Brasil (principal fonte de poluição do ar nas grandes cidades), o reforço da legislação ambiental no ambiente urbano e o apoio à conversão das frotas de transporte de carga a diesel aos combustíveis sustentáveis.

O debate mapeará também os casos de sucesso do transporte limpo no Brasil, como o pioneirismo de São Paulo nas frotas de trólebus elétricos na América Latina, há mais de 50 anos, a Lei Municipal 16.802/2018, que tem como meta converter os 14.400 ônibus paulistanos a diesel em veículos de baixa emissão, e as primeiras iniciativas de serviços de táxis com veículos elétricos e híbridos, entre outros.

ALUGAR É UMA ALTERNATIVA
A ideia de ter um carro elétrico e confortável à disposição sem precisar comprar um é, em geral, o que move usuários dos Veículos Alternativos para Mobilidade (Vamo), que opera na Capital desde 2016. No mapa de estações, disponível no site do serviço, estão sinalizadas 12 estações, que somam 38 vagas para os carros do sistema. Até março deste ano, foram realizadas 760 viagens, uma média de 8 por dia.

O total de usuários que aderiram ao sistema chegou, em 2020, a 5.990. De acordo com a site da Serttel, o Vamo funciona em todos os dias da semana, das 5h às 23h59 para retirada do carro, e 24 horas por dia para devolução. Para viajar por uma hora, por exemplo, é preciso desembolsar R$ 44. Para três horas, o valor chegava a R$ 110.

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