Que normalmente a temporada do futebol brasileiro é “atropelada”, todo mundo sabe. Jogos demais, descanso e treinamentos de menos. Neste ano a coisa piorou. Com a Copa do Mundo marcada para meados de novembro, o calendário ficou ainda mais achatado, com os times entrando em capo quase que ininterruptamente a cada três dias. O preço disso tem sido alto. O desgaste demasiado dos atletas, num esporte que já cobra bastante do físico, é agravado por gramados em péssimas condições, originando uma série de lesões. Alguns estádios brasileiros, como Maracanã, Castelão e Mineirão, são divididos por duas ou mais equipes. Apenas nas últimas duas semanas, três lesões que chamaram atenção, podem ter acontecido em decorrência dessa mescla perigosa. Bruno Henrique, do Flamengo, vai ficar cerca de um ano fora após torcer o joelho numa disputa de corpo. Robson, do Fortaleza, se machucou sozinho, ao fazer um giro para passar a bola.
Arboleda, do São Paulo, protagonizou a cena de uma contusão que dá embrulho no estômago só de olhar. Ainda temos visto departamentos médicos cheios de contusões musculares de desgaste, que pouco diferenciam o futebol nacional de um açougue televisionado. Para além disso, o nível do esporte praticado por aqui beira a bizarrice. Tirando o Palmeiras, que possui um elenco bastante numeroso com um staff munido de pessoas capacitadas e amparadas por tecnologia de ponta, é difícil apontar outra equipe nacional em que o futebol praticado reluza aos olhos do torcedor. Atlético-MG, atual campeão brasileiro e da Copa do Brasil, não é sequer sombra do que foi no ano passado. O bilionário Flamengo, por exemplo, tem performance que chega a doer aos olhos.
O Fortaleza, de histórica campanha na temporada derradeira, pena no Brasileirão. Nada disso é normal, mas nem por isso é coincidência. Não há mais condições de o nosso calendário seguir como está para as próximas temporadas. Se é pouco atrativo como o consumidor doméstico, quem dirá para expectadores de fora, acostumados a acompanhar os campeonatos europeus de ponta, onde se joga uma vez por semana, com raras exceções? É preciso rever o número de datas disponíveis para os modorrentos estaduais. É necessário que o Campeonato Brasileiro seja mais espaçado, e que se inicie logo no começo da temporada. É necessário que, nas datas FIFA, as competições tenham como parar para evitar desfalques dos times que cedem jogadores, e ainda mais desgaste dos que viajam para defender a Seleção.
Tudo isso demanda vontade política da CBF em peitar as federações estaduais, pressão dos clubes para preservar seus atletas e o direito do expectador de acompanhar um bom espetáculo e, talvez, boicote do torcedor, que pouca ou quase nenhuma voz tem nisso tudo. Do contrário é açougue, modorra e um abismo cada vez maior em relação ao futebol de primeira linha.