Sou daquelas que fica buscando alegria e contentamento nas bobagens do dia. Aqui e ali, eu colho um sorriso pelo canto dos pássaros, um carinho em algum gato de rua, as borboletas, o formato das nuvens.
Eu precisaria fazer uma longa reflexão para pensar no dia mais feliz de toda a minha vida. Meus anos mais recentes foram cheios de um esforço grande para ser feliz, apesar de. Por isso, vou me apegar com o que lembro de mais recente.
Em um mês de julho, viajei para Jeri com meus filhos e minha mãe. Foi apenas uma pernoite. Chegamos de manhã e fomos embora na tarde seguinte. O lugar era bem simples, um quarto com uma cama de casal, uma de solteiro, um banheiro, ar-condicionado e uma TV. Era nos fundos de um pequeno restaurante. Uma ousadia para quem nunca se aventurou em nenhum tipo de turismo em lugar algum. Sempre viajei para visitar parentes.
Logo ao chegar, fomos para a praia. Nesse dia, a maré estava seca e com muitas algas. O banho de mar me deixou coberta com elas e tive que andar um bom pedaço para me molhar. Mas a paisagem parecia uma pintura. Que lugar lindo!
Voltamos para o quarto, almoçamos e esperamos o horário de subir a duna para o pôr-do-sol. Ainda não tinha sumido do mapa. Fui apenas com as crianças porque minha mãe não aguentou a subida. Eles não gostaram de nada lá, passaram o tempo todo reclamando. Eu tentei apreciar a vista. Na descida, enquanto o sol se punha, uma lua imensa nascia. E as cores eram muito diferentes de tudo o que eu já tinha visto. Não tinha como não se deslumbrar. Confusão entre eles até a hora de dormir. Minha mãe dormiu só na alta madrugada. Meus filhos não se deram com o ar-condicionado. Uma noite agitada e cansativa. Mas eu tinha meu trunfo planejado para o dia seguinte.
Coloquei o celular para despertar às 5h15. Vesti minha roupa de caminhada e segui para a rua. O restaurante onde eu fiquei hospedada era na rua principal. Empurrei a porta, segui caminhando no rumo da praia. Encontrei cachorros, alguns poucos festeiros indo para casa e o pessoal da limpeza. Me sentia um pouco insegura porque também era a primeira vez que eu caminhava sozinha em um lugar desconhecido. Mas fui seguindo.
Na praia, o mar estava mais limpo. A lua enorme se preparava para sumir e o sol ainda não tinha saído de trás da vila. Além dos funcionários da limpeza, um grupo de canoagem se preparava para entrar no mar. Mais adiante, duas mulheres subiam a duna. Eu acompanhei.
Quando cheguei no alto da duna, sentei na areia e fiquei aguardando o sol sair. Ele veio e esquentou meu corpo. Fechei os olhos, deitei na areia, ouvi o mar, o canto dos pássaros e senti uma paz profunda. Era assim que eu queria viver. Em paz, avistando esse tipo de coisa. Sem reclamações.
Não sei quanto tempo fiquei nessa contemplação, mas quando me dei conta estava sozinha na duna. Senti medo. Tratei de descer e a praia já mudava de paisagem. Os barraqueiros montando as cadeiras. Adentrei a rua principal novamente.
A padaria estava cheia. Aproveitei pra tomar um café com leite, com um croissant e terminar um livro de contos. Que delícia e que luxo poder fazer isso sozinha. No quarto, com certeza todos deveriam estar dormindo e nem perceberam que eu não estava. Segui para lá. Estava certa mesmo.
Vesti minha roupa de banho e segui para a praia. Tomei banho de mar, uma água de coco e fiquei tranquila observando. Acho que passei uma hora, mais ou menos. Voltei para o quarto e ainda dormiam. Era hora de outro banho e de me aprontar para o almoço, sairíamos às 14 horas.
A paz que eu sentia era um prenúncio de vida nova. Era a minha manhã mais feliz em muitos anos. Respirei fundo e acordei todos para almoçar e seguir com a vida.