Na última sexta-feira, 1º, o Senado concluiu mais uma edição do programa Jovem Senador, em que estudantes do Ensino Médio público simulam a atuação dos parlamentares na discussão e elaboração de leis e na vivência de atividades da Casa. Um dos 27 selecionados foi Francisco Davi da Silva Pereira, 17, de Sobral – o cearense é aluno da Escola Estadual de Educação Profissional (EEEP) Professora Lysia Pimentel Gomes Sampaio. Ao fim da programação, o sobralense teve um projeto sobre Meio Ambiente aprovado na Casa.
Com o OPINIÃO CE, Davi Pereira compartilhou sua experiência no projeto, visões sobre igualdade social, política, Brasil polarizado e suas expectativas para o futuro, entre outros temas. Confira a entrevista:
OPINIÃO CE – Qual a sensação de ser o primeiro lugar na redação do Jovem Senador?
DAVI PEREIRA – A sensação de ser primeiro lugar foi indescritível. Primeiro, porque eu não esperava nem que a minha redação fosse escolhida dentro das três melhores de cada estado. Aí, ser escolhida a primeira nacional foi uma grande surpresa. Realmente, é um misto de emoções quando você recebe o telefonema. É como se fosse um baque muito forte mesmo.
OPINIÃO CE – O tema “200 anos de Independência: lições da história para a construção do amanhã” é bem complexo. Como você elencou as justificativas para fazer a redação?
DAVI PEREIRA – O tema foi histórico, né? Eu amo esse mundo das ciências humanas, e vendo esse tema percebi que daria para desenvolver um texto focando na questão da passividade da população brasileira desde o nosso processo de independência até os dias de hoje. Então, busquei analisar principalmente o que aconteceu lá atrás para que o povo até hoje esteja nesse processo de descrédito na política, que é a principal ferramenta de transformação da sociedade.
OPINIÃO CE – O que você propôs nesses quatro dias de experiência?
DAVI PEREIRA – Propus um projeto voltado para a questão ambiental no que se refere ao investimento para a reprodução de animais em perigo de extinção em cativeiros especializados. Isto vai consistir em direcionar investimentos para ONGs [Organizações Não Governamentais] e empresas que buscam se preocupar com a questão da fauna e flora brasileira. O projeto nasceu junto da ideia que tive depois de ver a notícia de que oito ararinhas azuis haviam sido soltas no céu do Brasil depois de 20 anos consideradas extintas.
OPINIÃO CE – Como estudante, o que você espera do Brasil para os próximos anos?
DAVI PEREIRA – Eu espero um país menos polarizado. Um Brasil que deixa ódios e paixões de lado e que busque ter razão na hora de escolher os seus representantes. O Brasil é um país gigante. Sempre dizem que “o gigante acordou”, mas esse gigante nunca nem fez cócegas no pé. Esse gigante está adormecido, e ele só vai acordar quando o povo entender que ódio, divisão e preconceito não nos levarão a lugar algum. Nós temos é que unir forças e somar forças porque o Brasil é belo. É forte porque é diverso. Quando a gente entender que projeto do país é maior que achar o político bonito, achar engraçado, a gente vai dar um grande salto na qualidade da política brasileira. Porque não existe nem a velha nem a nova política: existe a política de verdade e que não é feito no Brasil. Se é feito, isso acontece em raros casos. Principalmente em alguns casos municipais e estaduais, esse processo é mais escasso ainda. Mas há líderes que mostram que dá para fazer uma boa política, que é aquela que tem diálogo, tem projeto. Por exemplo, no Ceará, nós temos um projeto de educação. Então, isso mostra que, quando você tem um projeto, tem um foco, ele dá certo.
OPINIÃO CE – Você pretende se graduar em quê?
DAVI PEREIRA – Eu pretendo me formar em Direito, porque acho que necessita de pessoas que tenham um olhar de justiça social para a população e não só o que se refere à Justiça como um todo. Eu não sei a que área do direito pretendo me dedicar, mas tenho um olhar especial para a segurança pública por ver que, no Brasil, é urgente que se debata um novo modelo segurança pública para este país, pois não dá mais para continuar com esse modelo que a gente tem aqui. Está difícil demais.
OPINIÃO CE – Se você um dia for um senador, o que você faria pelo Ceará?
DAVI PEREIRA – Se eu, um dia, fosse senador do Ceará, acho que teria um olhar especial principalmente para o potencial do nosso Estado no que se refere à questão da sustentabilidade, de energias renováveis. Acho que eu focaria nisso, mas não só nisso. Buscaria levar mais esperança ainda ao povo das regiões do Sertão, levar infraestrutura aonde não se tem. O Ceará é nota em educação e em diversos outros quesitos, mas a gente ainda tem um probleminha com a segurança pública. Então, a gente tem que ver onde é que a gente está errando. A gente tem que tomar muito cuidado com isso de achar que, pelo fato de a segurança pública no Ceará não estar boa, a gente deve fazer uma loucura no nosso Estado. Não é assim: a gente tem que ter calma, ver onde é que a gente está errando e consertar. E não virar a cabeça e acabar cometendo um erro que pode fazer a gente se arrepender. Acho que, se eu fosse senador pelo Ceará, teria essa cautela. E novamente entra em pauta o diálogo, a questão da pluralidade, a questão da mudança real e concreta. Acho que o diálogo é a principal raiz de qualquer líder que busque fazer do seu estado, do seu país, da sua cidade um lugar melhor.
OPINIÃO CE – Como você avalia os governos federal, estadual e municipal?
DAVI PEREIRA – Eu sou de Sobral e, ao falar do governo municipal, ele é nota mil. Ninguém é perfeito. Têm erros aqui e acolá, mas o Ivo Gomes [PDT] é um prefeito que tem carisma, luta pela educação pública, assim como Izolda Cela, a primeira governadora mulher do Ceará, acredita na educação pública. Então, a esses dois, no âmbito estadual e no âmbito municipal, a minha eterna gratidão por eles acreditarem na educação. Vai valer e está valendo demais. Sou fruto desse projeto de educação, dessa fé na juventude, dessa fé no educador. Sobre o Governo Federal é um desastre total. O Governo Federal que nós temos, hoje, no Brasil é omisso, flerta com o nazi-fascismo e não tem empatia alguma pelo povo. É um governo populista que se autodenomina claramente cheio de preconceitos. É um governo que não representa o Brasil. Esse governo nasceu e chegou ao poder por causa da revolta do povo. O povo escolheu este governo como uma forma de revolta, como uma forma de punição aos governos anteriores ditos de esquerda.
OPINIÃO CE – Como você vê o Brasil daqui a dez anos?
DAVI PEREIRA – Estando junto com outros 26 jovens em Brasília, saí de lá com a esperança renovada demais. Conversando com eles, percebi que a maioria tem o mesmo sentimento que o meu, de que o Brasil não cabe mais nessa nessa polarização de ódio e de que tem vida lá fora, sabe? Tem uma luz no fim do túnel. Depois de ver o discurso de muitos deles, depois de ver a preocupação deles com a política do futuro, tenho fé de que a juventude ainda vai transformar este país. E vai ser nesses mesmos pilares: no diálogo, na pluralidade, na mudança completa e real. Mas tem que dar voz a todos e não a poucos raros grupos. A gente tem que entender que um prato de comida, um teto, um emprego digno, a saúde, a educação, a segurança, o transporte público e o respeito aos ecossistemas são valores essenciais. Não importa se você é de esquerda, de direita, de centro-esquerda, de centro-direita: o que você tem que ter dentro do seu coração e da sua razão é uma coisa: o básico é essencial para o nosso povo. Então, o que eu posso dizer é que eu espero muito que, daqui a dez anos, o Brasil seja um país bem melhor. Eu firmo esse comprometimento de estar ao lado dos jovens de hoje para construção de um país melhor. Quando me perguntam se eu pretendo entrar na política, não escondo. Pretendo, sim. Pretendo lutar para que o Brasil se liberte do ódio, do rancor e que possa desenvolver um projeto de nação, e não de pequenos grupos políticos.