Bolsonaro vem pregando neutralidade no conflito. Presidente é simpático a Vladimir Putin, com quem se reuniu no último dia 16

Presidenciáveis da chamada terceira via divulgaram nesta terça-feira, 1º, um manifesto conjunto em apoio à Ucrânia após a invasão do país pela Rússia. O texto, que foi escrito em detrimento do silêncio do Palácio do Planalto, é assinado por Sergio Moro (Podemos), João Doria (PSDB), Simone Tebet (MDB) e Felipe d’Avila (Novo).
“Pedimos ao governo brasileiro que se posicione, unindo-se às nações que defendem a soberania da Ucrânia e a solução pacífica do conflito”, diz o manifesto em tom de cobrança ao presidente Jair Bolsonaro (PL).
Bolsonaro vem pregando neutralidade no conflito. O presidente, no entanto, é simpático ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, com quem se reuniu no último dia 16, em viagem diplomática, que constou na agenda oficial da Presidência da República.
“Nós, pré-candidatos à Presidência da República, tornamos público o nosso repúdio à invasão da Ucrânia e oferecemos a nossa solidariedade ao povo ucraniano. Pedimos à Rússia que retome o caminho da diplomacia para a restauração da paz”, afirma o texto.
“A defesa da paz, soberania nacional e da legitimidade da ordem internacional sempre pautaram a política externa brasileira. Quando esses princípios cardeais são violados, não há espaço para neutralidade. É preciso defendê-los de maneira inequívoca por meio de nossas escolhas e ações”, declaram os presidenciáveis.
“O ataque militar à Ucrânia, país soberano, pela Rússia, é uma tentativa condenável de mudar status quo da Europa por meio da força, estimula a retomada de uma corrida armamentista e coloca em risco a soberania de países que lutaram contra tiranias por liberdade e inserção na comunidade das nações”, completam.
GUERRA É ASSUNTO NO MUNDO TODO
A guerra na Ucrânia já é considerada um assunto incontornável na corrida presidencial, mesmo que as consequências e a duração do conflito ainda sejam desconhecidas. O combate na Europa opôs os principais presidenciáveis, evidenciou contradições e influenciará planos de governo.
Também nesta terça, dezenas de diplomatas do Mundo todo boicotaram dois discursos do ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, proferidos durante painéis da Organização das Nações Unidas (ONU) em Genebra, na Suíça. Vídeos do protesto mostram que o representante do Brasil não se juntou ao grupo. Também não o fizeram diplomatas de países como Venezuela, Iêmen, Argélia, Síria, Tunísia e China.
A reportagem questionou o Ministério das Relações Exteriores do Brasil sobre a postura do país diante do boicote, mas não obteve resposta até a publicação deste conteúdo. A posição do Brasil, até aqui, tem sido ambígua em relação à guerra na Ucrânia.
Ao mesmo tempo em que o país condena a invasão russa em fóruns internacionais, o presidente Jair Bolsonaro tem repetido que a posição do país é de neutralidade. Dois discursos de Lavrov, gravados em vídeo, foram transmitidos em Genebra. O primeiro, na Conferência sobre Desarmamento, e o segundo, no Conselho de Direitos Humanos, ambos instâncias da ONU.
Nas duas ocasiões, o chanceler usou o espaço para justificar a guerra empenhada pela Rússia na Ucrânia. A plenária da Conferência de Desarmamento ficou quase vazia após mais de cem diplomatas de 40 países ocidentais e aliados se retiraram da sala. Menos de uma hora depois, no Conselho de Direitos Humanos, a cena se repetiu, e os diplomatas que realizaram o protesto se reuniram com uma bandeira da Ucrânia. (Folhapress)