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22 de março de 2025

No trânsito, nem todos são pedestres da mesma forma

Pessoas que pegam o carro dentro da garagem de casa ou do condomínio, e param no estacionamento para o trabalho, shopping, supermercado, etc, não são o mesmo tipo de pedestre que faz todo um caminho a pé

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Existe uma frase famosa, que é utilizada em propagandas de veículos motorizados ou por órgãos de trânsito em campanhas de educação, que diz: “No trânsito, somos todos pedestres”. A intenção é compreensível, de tentar que condutores tenham mais empatia com pedestres, porque em algum momento todos andam a pé. E apesar de parecer que é uma verdade absoluta, já que todo mundo caminha (exceto, obviamente, pessoas impossibilitadas), ela pode ser considerada uma meia verdade.

Pessoas que pegam o carro dentro da garagem de casa ou do condomínio, e param no estacionamento para o trabalho, shopping, supermercado, etc, não são o mesmo tipo de pedestre que faz todo um caminho a pé, ou que utiliza transporte público. Talvez não precise sequer atravessar ruas, e só caminha por dentro de estacionamentos privados, então desconhece bastante das condições das calçadas, dificuldades de certas travessias, e hostilidade de alguns motoristas e motociclistas.

Provavelmente não sabe da péssima localização de alguns pontos de ônibus, que obriga os passageiros a andar por lugares hostis. Tampouco se incomoda com a falta de educação de quem estaciona seus (cada vez maiores) carros nas calçadas. Nunca viu a realidade dos longos tempos que é necessário esperar um semáforo (quando tem) para atravessar alguma avenida, ou do quanto o caminho e o esforço aumentam quando a única opção de travessia é uma passarela.

Aponto essas diferenças porque é sabido que sempre falta vontade política para melhorar a mobilidade para os pedestres (ou ciclistas ou usuários de transporte público), mas os problemas para motoristas, mesmo que sejam apenas buracos nas vias, sempre são resolvidos com rapidez, especialmente em época de eleições. Como exemplo posso citar o amplo programa “tapa buracos” sendo posto em prática pela prefeitura de Fortaleza para dar manutenção no asfalto este ano. Realmente, as vias foram bem castigadas pelo longo período chuvoso, mas nunca houve esforço similar para melhorar ciclovias ou calçadas.

Seria interessante termos técnicos e políticos que experimentassem a realidade de outros modos de transporte, para terem outro ponto de vista.

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