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21 de março de 2025

“Não surtiu nenhum efeito”, diz Sarto sobre reunião com o governador Elmano 

Em entrevista ao OPINIÃO CE, o prefeito de Fortaleza fala do trabalho do Município na área da saúde e os planos para o último ano de sua primeira gestão
Prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), em visita ao Opinião CE. Foto: Natinho Rodrigues

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Com pré-candidatos à esquerda e à direita de olho nas eleições 2024, José Sarto (PDT) prefere falar dos feitos da gestão a discutir cenários eleitorais. O prefeito de Fortaleza mantém até os últimos dias de 2023 uma agenda cheia de inaugurações e anúncios, e garante que dará tempo de executar os planos traçados para 2024, quando a Capital terá orçamento recorde. “Pela primeira vez, vamos ter três dias de réveillon, com os cachês pagos pela iniciativa privada. Fortaleza terá o maior e melhor réveillon do Brasil”, afirmou o prefeito em entrevista exclusiva ao OPINIÃO CE. Na pauta, os desafios na saúde, a relação com o Governo do Estado, a relação com a população e, claro, o clima antecipado de disputa eleitoral.

OPINIÃO CE – O senhor é médico e atuou muito tempo em hospitais públicos e na periferia de Fortaleza. Se olharmos para a realidade do começo dos anos 1980, quando trabalhava no Frotinha da Barra do Ceará, e para a saúde da Fortaleza de 2023, o que mudou e o que permanece de desafio que ainda precisa ser superado?

José Sarto – O que persiste é a demanda que continua ou aumentando ou no mesmo patamar. Nesses 40 anos, hospitais fecharam e novos leitos foram abertos em outras unidades. Mas, se você fizer a contabilidade, é como se tivessem fechado uma certa quantidade de leitos e foram abertos o mesmo número de leitos. E a população crescendo. Com o crescimento populacional, cresce, estatisticamente, as doenças. Inclusive por conta da idade. A expectativa de vida aumentou. É normal que tenhamos mais problemas com AVC, colesterol alto, com quedas.

OPINIÃO CE – Foi um ano com muitas ações na área da saúde, mas também com desafios políticos. Qual o balanço que o senhor faz de 2023?

José Sarto – A gente tem a felicidade de ter dado um “up”. Demos um grande salto nos últimos sete a oito meses quando lançamos um programa para atenção básica para a saúde. Estamos construindo 16 novos postos de saúde, além das seis carretas das unidades móveis. Essas carretas não têm condições de sair (dos serviços municipais). A população não vai deixar. Portanto, em três anos nós vamos construir 22 postos de saúde.

Estamos reformando, do zero, nove. Estamos reformando 96 postos, 11 já entregues e 41 em reforma. Tudo isso a gente vai entregar até o final do próximo ano.

Dá tempo? Sim, brinco que nasci de sete meses, eu sou muito rápido nas decisões. Não sei se vocês viram, mas teve secretário que durou 15 dias. Entrou, não “pegou na chave”, aí tem que sair. Em Fortaleza, nós vamos ampliar as farmácias polo. Eram seis, vão passar a ser 15; já entreguei três. Temos a telemedicina, que é o Segunda Opinião, onde o médico do posto de saúde consulta um especialista. Temos o aplicativo chamado “Mais Saúde”, que você está no celular e olha se o posto Lineu Jucá tem o remédio que você tá tomando.

Temos o programa “Vem Saúde”, que são essas carretas e além delas, 30 triciclos elétricos. São aqueles Tuk-Tuks. O pessoal chama de “Tuk-Tuk do Sarto”. Cada um carrega 500 kg de material (médico) ou medicamento. Você multiplica 500 kg por 30 e nós vamos ter a capacidade de entregar 15 toneladas por dia. Nós já estamos com 16 aqui e o restante está chegando até o final deste mês. Pela primeira vez, na área da saúde, vamos ter o remédio entregue domiciliarmente.

Entregamos o Gonzaguinha do Zé Walter, vamos entregar o Frotinha de Messejana e o Gonzaguinha de Messejana. Só para se ter uma ideia, o Frotinha do José Walter foi o hospital público que mais fez partos deste ano no Ceará, o Hospital da Mulher, o Zilda Arns, foi o que mais realizou cirurgias eletivas deste ano no Ceará. Fora isso, nós já convocamos para mais de 500 concursados do Instituto José Frota [IJF], nós chamamos 91 médicos para comporem o programa Estratégia em Saúde da Família, além de ter entregue um Caps no Bom Jardim, além de ter convocado mais 63 profissionais da rede de atenção psicossocial, além de ter conveniado com o Iprede um programa fantástico onde investimos lá R$ 12,5 milhões para atender a 2 mil pacientes portadores do Transtorno do Espectro Autista [TEA]. Isso da saúde.

Fizemos convênio com a Universidade Federal, onde a gente vai ampliar o número de cirurgias, a gente tem cirurgias feitas pela rede própria, mas convenhamos com a Universidade para fazer cirurgia. Isso tem um valor que não é apenas numerado, nós contratamos 1.200 cirurgias, mas cada cirurgia feita no Hospital Universitário tem o treinamento de três ou quatro médicos, porque é um Hospital Universitário onde tem residentes. Nós também adicionamos um valor para a oncologia, e lembrando que 60% dos pacientes que atendemos são oriundos do interior do Estado, e a gente mantém o José Frota, atendendo 50% do interior do Estado e todo mês investindo no “Zé Frota”, e vamos continuar investindo, R$ 46,5 milhões. Que é basicamente o IPTU arrecadado aqui em Fortaleza.

OPINIÃO CE – Em agosto, o senhor foi um dos primeiros prefeitos a ser reunir com o governador Elmano de Freitas. Na ocasião, disse que ele havia “escancarado” as portas do Palácio da Abolição para o município. De lá para cá, quais foram os resultados concretos?

José Sarto – Lamentavelmente, (a conversa) não surtiu efeito. Eu tenho uma relação pessoal com o governador Elmano, que está preservada, entretanto, a relação administrativa, da visita que fiz ao Palácio [da Abolição] para cá, não surtiu nenhum efeito para o fortalezense. Acho que poderia ter sido feito muito mais.

Mas, pelo contrário, houve redução do repasse, por exemplo, para o transporte público, para o programa Nossas Guerreiras… O Estado participa ajudando o IJF [Instituto José Frota] com R$ 6 milhões, mas cortou R$ 200 mil nos primeiros meses e, agora, me parece que voltou aos R$ 6 milhões, enquanto a gente [Prefeitura] investe R$ 46,5 milhões, e atende a metade da população do Estado.

Então, lamentavelmente, administrativamente, não é o que eu achava que seria. De concreto tem os diversos pedidos de reunião que tive. Foi criado um Grupo de Trabalho, e me parece que só teve uma reunião, não mais do que isso. Nós temos demandado – eu mesmo –, demandei à bancada federal, a todos os deputados e deputadas, através de ofício. Aos que eu encontrava, eu pedia pessoalmente, para além do ofício, e para alguns eu telefonei. Tive, de alguns, resposta, e de outros, o silêncio.

OPINIÃO CE – Nesse contexto de conflito que existe no PDT e o rompimento histórico com o PT, o senhor se sente de alguma forma injustiçado ou acha que a população foi levada a entender sua gestão de uma forma distorcida?

José Sarto – Eu não me sinto injustiçado. Não tenho direito, porque em tudo na minha vida tenho tido muita a benção de Deus e eu acredito muito em destino. Fortaleza é objeto de revistas internacionais. O Financial Times, por exemplo, publicizou dados de Fortaleza. Recebemos da Fundação Bloomberg, mais de um US$ 1 milhão para incentivo à bicicleta. Inclusive, passamos Bogotá. Somos a capital que mais tem ciclofaixas e ciclovias do mundo, completaremos 500 km todas interligadas.

Fomos matéria da revista Forbes, fomos matérias de órgãos nacionais e internacionais. Então eu não me sinto injustiçado. Fortaleza é uma cidade vanguardista, uma cidade anti-hegemônica e Fortaleza está percebendo tudo que está acontecendo. Qualquer resultado que advir da eleição não será à toa. Existe o chamado inconsciente coletivo, que, de uma forma ou de outra, se manifestará no seu tempo devido. Nós temos aí 10 meses até a eleição. Muitas coisas vão acontecer.

OPINIÃO CE – O senhor fala sempre que sua preocupação é o trabalho na gestão, que o tema de eleições fica para o próximo ano. A campanha para 2024, contudo, já começou. Os nomes já estão colocados, falta apenas o do PT ser definido. Quando o Sarto vai entrar no campo, também, como candidato?

José Sarto – Eu tenho uma agenda muito demandada pelo fortalezense. A população de Fortaleza está mais preocupada se tem médico, se tem medicamento do posto, se a rua está limpa, se a escola é de qualidade, se a alimentação na escola é boa, se o transporte público não tem aumento de tarifa, se tem passe livre… Todo dia tem uma demanda, e essa demanda me é imposta. Não posso reverter essa lógica em detrimento do povo de Fortaleza.

O debate eleitoral é saudável e acontecerá quando a for o momento, da lei eleitoral aprazada. É por isso que tem o regramento eleitoral, que determina os limites. Evidentemente, tem uma conversa prévia, mas adiantar muito isso é trabalhar com cenários que são praticamente imprevisíveis. A agenda do dia é imposta pelas necessidades da população, então eu não posso, como prefeito da cidade, estar ausente, pensando em discutir política, quando eu tenho mesmo é que administrar o problema do fortalezense, porque ele me elegeu para resolver tirar o lixo da porta dele, limpar a rua dele, para fazer saneamento no bairro dele, para botar o médico e o medicamento lá no posto de saúde…

OPINIÃO CE – Como você vê a questão da colocação do nome do Roberto Cláudio como possível candidato do PDT, você acha que de alguma forma é uma estratégia para parecer que seu nome está fraco?

José Sarto – Particularmente, eu vejo como uma forma de reconhecimento ao grande trabalho que o Roberto Cláudio fez em Fortaleza. Para mim, sem sombra de dúvidas, o maior prefeito da história de Fortaleza. Se hoje eu tenho condições objetivas de, por exemplo, dar um salto triplo na qualidade da educação, é porque o Roberto deixou bases sólidas.

Eu vejo a citação do nome dele como um reconhecimento natural de quem foi um grande Prefeito, o maior prefeito da história. Modéstia à parte, pela amizade que tenho com ele, eu tô querendo ultrapassá-lo, no bom sentido, fazendo de Fortaleza uma cidade muito melhor, deixando a cidade muito melhor do que a que peguei, que é esse o objetivo do nosso grupo.

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