Está nas mãos do presidente Jair Bolsonaro (PL) a sorte de um setor que há quase 80 anos oscila entre a ilegalidade e a contravenção, com eventuais passagens pelo crime. É o da jogatina. Com a aprovação na Câmara dos Deputados de projeto que autoriza a exploração dos jogos de azar no Brasil – proibida em 1946, no governo de Eurico Gaspar Dutra -, sobrou para Bolsonaro a decisão de sancionar ou vetar o texto. Mas diga-se: não há de ser sorte nem acaso.
Façam suas apostas
Se sancionar a lei, Bolsonaro pode comprar briga com melindrosos segmentos religiosos e conservadores, dos quais cobiça os votos, embora possa alegar que visa à geração de empregos. Se vetar, pode se encrencar com corporações endinheiradas que há mais de 30 anos manobram no Congresso pela volta de cassinos e correlatos. Para Bolsonaro ainda resta uma possibilidade: vetar e articular com o Congresso a derrubada do próprio veto. Seria uma saída desonrosa, mas compatível com outras jogadas do Planalto.
Ao lado
Só para constar: a agenda do presidente da Assembleia Legislativa, deputado Evandro Leitão (PDT), também está em sintonia fina com a de Camilo e Izolda.
Licença poética e política
Pedimos licença à memória do poeta francês Stéphanne Mallarmé (1842-1898) para inseri-lo na nada poética política brasileira, citando um verso referencial para seguidas gerações na literatura ocidental: “Um lance de dados jamais abolirá o acaso”. Não foi por acaso, aliás, que há três décadas a família do senador bolsomorista Luís Eduardo Girão (Podemos) ergueu nas praias de Abreulândia (Fortaleza) e Canoa Quebrada (Aracati) estruturas hoteleiras que também serviriam para abrigar cassinos – até piscinas no formato dos naipes do baralho foram construídas. O tempo tratou de asfixar o projeto. Hoje, Girão posa de ativo adversário da legalização.
Estágio
O governador Camilo Santana (PT) tem feito questão da presença da vice, Izolda Cela (PDT), em toda a maratona de eventos que vem protagonizando nos últimos dias no Ceará. Há uma agenda de inaugurações aparentemente inesgotável. Izolda, já há oito anos em parceria com Camilo, vem encarando a rotina puxada com disposição de novata. É, afinal, o tipo de traquejo necessário a quem deve assumir as funções de titular em pouco mais de um mês.