Com cerca de 20 mil pessoas beneficiadas com o projeto Costurando o Futuro, da Prefeitura de Fortaleza, já dá para ter uma ideia como se deu o percurso da linha e da agulha que entrelaçam as vidas de milhares de mulheres em situação de vulnerabilidade social. Para além da possibilidade da renda extra, a iniciativa consegue criar vínculos de amizade e parceria que nenhuma tesoura é capaz de cortar. Lucineide Amorim, entrevistada por esta reportagem, faz questão de dizer “estou ajudando minhas colegas e me sinto honrada por isso”. Ela é moradora do bairro Barra do Ceará e está há um ano assiduamente frequentando o ateliê do bairro.
Sandra Helena, também do Ateliê Costurando o Futuro da Barra do Ceará, declarou que chegou na curiosidade e foi só para querer ficar mais e mais. “Entrei aqui por curiosidade e gostei muito do que vi aqui: cada uma ensina o que sabe às outras. Eu, que sempre gostei de bordar, tive o prazer de transmitir para as minhas companheiras. Isso é muito prazeroso”, comemora.
No outro ponto, cruzando a cidade, no José Walter, Neuza Maria, conhecida como Baiana, comemora pelas amigas. Para Maria, é como trazer novamente dignidade às mulheres do bairro e um ponto crucial: autoestima.
“Me sinto feliz em hoje poder ajudar, através da costura, as mulheres do meu bairro visando melhoria de vida, financeira, social e levando renda para os seus lares. Tenho a dizer que acredito no Projeto Costurando o Futuro na minha vida e de todas as mulheres em situação de vulnerabilidade que buscam uma melhoria de vida social, independência financeira”, enfatiza Baiana.
Na última semana, a prefeitura inaugurou o ateliê colaborativo do Projeto Costurando o Futuro na Pracinha da Cultura do Vicente Pinzón. Este é o 10º equipamento entregue pela Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal do Desenvolvimento Econômico (SDE), que disponibiliza máquinas de costura para promover a inclusão produtiva, economia criativa e o desenvolvimento econômico do entorno. A iniciativa conta com o apoio da Secretaria Municipal da Juventude e Rede Juv.
Como destacou o prefeito em exercício Élcio Batista (PSDB), o Costurando o Futuro reflete a cultura empreendedora dos fortalezenses. Élcio também comentou sobre a oportunidade de crédito fornecida por outro programa da Prefeitura, o Nossas Guerreiras.
“O Costurando o Futuro é um Projeto que qualifica e capacita para fortalecer oportunidades de pequenos empreendedores. Nós temos uma cultura empreendedora em Fortaleza e as pessoas querem ter livre-iniciativa para terem seus negócios, ter seu próprio trabalho e melhorar de vida. Esse é um programa que se alia, por exemplo, ao Nossas Guerreiras, no qual mulheres chefes de família têm acesso até a R$ 3 mil de empréstimo orientado com condições de crédito facilitada, sem juros e com carência de seis meses”, destaca o vice-prefeito em nota enviada ao OPINIÃO CE.
O Costurando o Futuro segue a lógica de coworking, ou seja, um espaço compartilhado e colaborativo, gratuito e voltado para as atividades de corte e costura, produzido por pessoas em situação de vulnerabilidade social. Dessa forma, o território Vicente Pinzón, no Grande Mucuripe, foi reconhecido pela SDE como um polo de produção de costura, e devido à demanda existente de aluguel de equipamentos, a população passou a contar com as máquinas em sistema de revezamento.
“Estamos inaugurando o décimo equipamento, faltando apenas mais cinco, pois vamos fechar a gestão com, no mínimo, os quinze planejados pelo Plano de Governo. Cabe lembrar que as mulheres podem usar esse equipamento livremente, sem pagar nada, em regime de coworking. Já contamos com 180 mulheres cadastradas e, nesta unidade, temos doze máquinas. Além disso, temos um projeto de consultoria que estamos desenvolvendo para que esses espaços se tornem cooperativas. Dessa forma, as costureiras poderão vender diretamente ao mercado, e contarão com uma capacitação de vendas e gestão para ter um melhor fruto desse trabalho”, explica o secretário de Desenvolvimento Econômico, Rodrigo Nogueira.
PIONEIRISMO
Com a iniciativa, Fortaleza sai à frente em relação a outras capitais, não apenas pelo espaço que promove a inclusão e a independência financeira, mas por atingir principalmente mulheres que possam sofrer de violência patrimonial. As usuárias também podem trocar experiências entre si e formar uma rede de contatos.
O ateliê disponibiliza máquinas profissionais do tipo reta, overloque, galoneira, bordado e máquina de corte. Em Fortaleza, os equipamentos estão localizados no Bom Jardim, Vila União, Ancuri, Jangurussu, Vila Velha, José Walter, Pirambu, Conjunto Ceará e Barra do Ceará. Parte da matéria-prima utilizada no ateliê, a exemplo de retalhos, vem de doações de empresas.