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4 de outubro de 2024

Mortes por diabetes crescem associadas à desigualdade social; Ceará tem redução nos óbitos

Estudo da Universidade Estadual do Ceará (Uece) aponta que a Estratégia Saúde da Família (ESF) e o investimento em Educação podem ser fatores-chave na redução da mortalidade por Diabetes Mellitus no Estado, enquanto desigualdades sociais contribuem para óbitos em todo o país
Foto: Reprodução/UECE/Sara Melo

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Pesquisadores da Universidade Estadual do Ceará (Uece) acabam de lançar um estudo científico que oferece novas perspectivas sobre a mortalidade por Diabetes Mellitus (DM) no Brasil, destacando uma relação preocupante entre desigualdade social e óbitos associados à doença. Publicado na Revista Latino-Americana de Enfermagem, o estudo revela dados intrigantes sobre o período de 2010 a 2020, com o Ceará emergindo como um exemplo positivo de redução nas taxas de mortalidade por diabetes, graças à Estratégia Saúde da Família (ESF) e investimentos na Educação.

De acordo com Thiago Garces, membro do Grupo de Pesquisa Epidemiologia, Cuidado em Cronicidades e Enfermagem (Grupecce/Uece) e coautor do estudo, a implantação da Estratégia Saúde da Família no Ceará contribuiu para uma redução anual de 2,2% na taxa de mortalidade por diabetes. Ele observa que essa abordagem de cuidados primários teve um impacto positivo na saúde da população cearense, especialmente no que diz respeito ao Diabetes Mellitus.

O aspecto educacional também se revelou crucial para a redução das taxas de mortalidade por diabetes no Ceará. A professora Thereza Magalhães, coordenadora do Grupecce/Uece e orientadora do estudo, enfatiza que o investimento substancial em Educação no Estado desempenhou um papel fundamental na prevenção desses óbitos. Indivíduos com maior escolaridade apresentaram menor taxa de mortalidade, demonstrando que a educação pode ser um fator protetor significativo contra a doença.

Além disso, a pesquisa enfatizou a desigualdade socioeconômica como um fator determinante nas condições e saúde da população, afetando desproporcionalmente os mais vulneráveis. Para a professora Thereza Magalhães, isso é um chamado de alerta para os governos e a sociedade, destacando a importância de abordagens mais equitativas na distribuição de renda como um meio de prevenção. “Os resultados mostram que a desigualdade vai, indiretamente, influenciar a condição de habitação, escolaridade e o próprio acesso à saúde. Então, ter governos que se preocupem com a distribuição de renda mais equitativa também contribui para a prevenção desses óbitos”.

POLÍTICAS PÚBLICAS

A pesquisa também ecoa a urgência de integrar essas descobertas às políticas públicas de saúde. O pesquisador Thiago Garces ressalta que estratégias intra e intersetoriais são essenciais para reduzir as disparidades sociais e melhorar o acesso aos serviços de saúde relacionados ao diabetes. Isso se torna ainda mais relevante à medida que os números de óbitos relacionados à doença ultrapassam 600 mil em todo o país.

Além das considerações de saúde, a pesquisa destaca que os determinantes sociais também desempenham um papel fundamental. A escolaridade, por exemplo, é um fator crucial que influencia o conhecimento sobre saúde e o autogerenciamento do diabetes. Thiago Garces salienta que a associação entre níveis educacionais e mortalidade por diabetes é evidente, apontando para a necessidade de estratégias educacionais focadas na prevenção e gerenciamento da doença.

SAÚDE COLETIVA

Outro alerta apontado pela pesquisa chama atenção para a situação nas diferentes regiões do Brasil. As taxas de mortalidade por diabetes variam significativamente, com o Nordeste liderando o quadro negativo. Estados como Amapá, Amazonas, Maranhão, Alagoas, Minas Gerais e outros apresentaram aumentos notáveis nas taxas de mortalidade. No entanto, o Ceará, o Rio de Janeiro e o Distrito Federal se destacam como exemplos de redução na mortalidade por diabetes.

“A relação entre a Estratégia de Saúde da Família (ESF) e a taxa de mortalidade pode ser explicada pela abordagem holística da ESF nos cuidados primários de saúde. Conforme a cobertura da ESF se expande, um maior número de indivíduos passa a ter acesso a serviços preventivos, de promoção da saúde e de acompanhamento contínuo. Dessa forma, o aumento na abrangência da ESF está correlacionado a uma redução nas mortes associadas ao Diabetes Mellitus, devido à detecção mais precoce, melhor controle e gerenciamento da doença”, completa o pesquisador Thiago Garces.

Os pesquisadores da Uece, autores do artigo, enfatizam a necessidade de considerar tanto os indicadores de saúde quanto os determinantes sociais ao avaliar o contexto de saúde coletiva. A pesquisa oferece um chamado de ação para governos e a sociedade em geral, destacando a importância de medidas equitativas na distribuição de renda e o papel crucial da educação na prevenção e gerenciamento do diabetes. O estudo, assim, oferece uma visão clara das complexas interconexões entre fatores sociais e de saúde, ressaltando a necessidade de abordagens integradas para enfrentar os desafios de saúde pública no Brasil.

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