A morte da rainha da Inglaterra, Elizabeth II, nesta quinta-feira, 8) pode trazer mudanças pontuais na economia do Brasil, bem como na política econômica externa, mas não devem ser drásticas, já que o cargo é muito mais simbólico do que executivo, avaliam especialistas ouvidos pelo OPINIÃO CE.
Da forma como se organiza a dinâmica do Reino Unido, a monarca era chefe de Estado, função diferente da de chefe de Governo, posição que pertence ao primeiro-ministro, eleito pelo Parlamento. A monarquia é vista pelos súditos como algo que os une, apesar de suas diferenças de opinião, ideológica e partidária, por exemplo, lista Fran Bezerra, economista conselheiro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), que acredita que não haverá mudanças que possam culminar numa possível crise econômica.
“A ascensão do Rei Charles III não deverá influenciar os rumos econômicos, quer da economia doméstica do Reino Unido e dos demais países onde ocupa a chefia de Estado, quer de seus parceiros no resto do mundo, inclusive no Brasil.”
Ainda segundo o especialista, não é segredo para ninguém o apoio do agora Rei Charles III às causas ambientais. Com isso, é possível que o Palácio de Buckingham venha a emitir discretos sinais de apoio a eventuais propostas legislativas de incremento de exigências ambientais, tanto nos processos de produção das empresas sediadas no Reino Unido e na forma de consumo e descarte de resíduos de sua população quanto nas relações comerciais com outros países.
“Nesse caso, o Brasil, que já vem sendo observado com preocupação, no tocante a esse quesito, pela comunidade e governos Europeus e do Reino Unido, em particular, pode vir a ser prejudicado em suas atividades comerciais, sobretudo o agronegócio, que responde por parte importante desse fluxo comercial”, avalia o conselheiro.
Na quarta-feira, 7, a libra caiu para o valor mais baixo em 37 anos em relação ao dólar. A moeda caiu 0,5%, para uma baixa de US$ 1,14, em um patamar inferior ao de março de 2020, quando a pandemia começou. O possível impacto na moeda britânica soma-se ao contexto complexo de crise energética e aumento do custo de vida.
Em julho, a inflação no Reino Unido atingiu um novo recorde de 40 anos, superando a marca de 10% pela primeira vez desde 1982. Todavia, em suma, a mudança do monarca formalmente não deve ter qualquer impacto sobre a economia do próprio Reino Unido, tampouco do resto do mundo e do Brasil, porém “é interessante acompanharmos porque, mesmo não sendo chefe de Governo, um rei possui opiniões, que tendem a ser respeitadas pelo Parlamento, quando encontram eco em seus súditos.”
O também economista Ricardo Coimbra concorda que o impacto econômico não terá efeitos grandes para política interna e externa do Brasil. “É interessante observarmos que o país já passa por um processo de transição política, como a posse recente da primeira-ministra Liz Truss. No entanto, a monarquia deve continuar tendo esse papel muito mais relacionado à sociedade mundial, mas sem nenhum tipo de interferência sobre os destinos da economia”, pontua.
Ainda de acordo com o economista, na Inglaterra, o processo inflacionário já está elevado, de fato, por outras questões econômicas, como Brexit e a inflação, e não seria a morte da monarca que mudaria o problema que já existe. “As relações comerciais e estratégicas com o Brasil e, sobretudo, com o Ceará devem permanecer. A família vai continuar reinando normalmente, com o agora rei Charles III”, finaliza o especialista e também conselheiro do Corecon-CE.