Nos últimos dois meses, nunca se viu tantos aviões se esparramarem no chão mundo afora e no solo da Terra Brasilis. Segundo estudos e estatísticas divulgadas, “a probabilidade de morrer em um acidente de avião comercial é de 0,000017%. Pesquisas de Harvard constatam que a chance de alguém morrer em um acidente aéreo é de uma em 11 milhões”. Tudo bem, não precisa ser um expert no assunto para entender, inclusive pela experiência, que o meio considerado mais seguro para viajar longas distâncias é o avião. O meu saudoso pai, em suas observações, dizia: “O problema é que após o bicho subir um metro, não tem acostamento e, quando bate no chão, pode entregar a alma a Deus”.
Quando se trata de serviços terceirizados, nem me fale. Segundo as pesquisas, a maioria dos acidentes aéreos acontece com aviões privados e pequenos. Em verdade, não fiz muitas viagens aéreas, mas as poucas não foram muito confortáveis. Em 1997, naquela equiparação, um real valia um dólar, eu fui à Europa com uns amigos. Após aquela gigante máquina voadora, deixar o espaço aéreo nordestino ao Continente Africano alcançou uma altura assustadora. Quando olhei a imagem do computador acima da minha cadeira com as referências de altitude, velocidade, etc. e tal, chamei a aeromoça. Pedi um whisky e fiquei conjecturando: “Esse avião parece estar parado! Como vai ser o pouso dessa máquina tão pesada, além do peso extra de quase trezentos passageiros e suas bagagens?”. O pouso, surpreendentemente tranquilo, no aeroporto de Barcelona arrancou aplausos dos passageiros para o piloto.
Como marinheiro de primeira viagem, pensei: “Por que esses aplausos, se isso faz parte do trabalho cotidiano do piloto? Ou será que os aplausos foram pela ansiedade e alívio do medo?”. Parecia que não era só o cearense que estava temeroso. De fato, aquela foi a viagem mais tranquila que já fiz. As duas viagens mais assustadoras aconteceram por aqui mesmo à noite, em um pequeno avião de Recife a Petrolina, e a outra ao final da tarde, já chegando ao Cariri. O avião despencou como se os motores estivessem parados, creio que por mais de cem metros. O teto foi o destino de bagagens internas, água, bebidas, etc. Sujeira e choro para todo lado, de senhores de paletó, senhoras bem vestidas, de jovens e matutos e o meu coração quase saiu pela boca – os motores naquele rengo, rengo, o avião cai, não cai, conseguiu finalmente se estabilizar. Ao meu lado, um saudoso amigo e renomado professor levantou-se e, em voz alta, disse: “Macho, tu não tá levando gado não, filho de uma égua”. Puxei o braço dele sem saber se ria ou chorava e falei: “Senta, macho, vão pensar que a gente está com medo!”. Quando a situação se normalizou, outro saudoso amigo e também professor disse: “É melhor voltarmos de jumento, é mais seguro”. Ainda bem que tudo terminou bem e com certa segurança. E por falar em segurança e terminar bem, parece que a situação cotidiana do transporte aéreo no Brasil, tristemente, não está saindo muito bem, tanto em relação à mecânica das aeronaves quanto na convivência dos passageiros.
Recentemente, uma moça e uma mãe com uma filha ganharam o noticiário por causa de uma não aceitação de troca de poltrona. Semana passada, uma mãe e a filha foram agredidas por uma família inteira e tantos outros casos em relação aos maus-tratos nas companhias aéreas. Lula, em uma vigem de seu primeiro mandato, por ter escolhido caviar, se não me engano, ofertado pelo serviço de bordo, sofreu maus-tratos com palavras de uma aeromoça. O avião era para poucos abastados como meio de transporte e havia todo um glamour, uma estética – quase um desfile de moda, homens e mulheres bem vestidos, pilotos elegantes e lindas aeromoças. Hoje, a realidade é outra, o transporte aéreo se popularizou, virou transporte de massa, inclusive, para bandidos, traficantes que moram entre as elites em seus condomínios fechados de luxo. Em verdade, os mais abastados ou metidos a ricos, mal-educados, chatos e boçais nunca gostaram dessa popularização do transporte aéreo, e tão pouco de ter que dividir o espaço com passageiros de chinelo, bermuda, camiseta, que falam alto e muito menos de um presidente que fala a língua do povo. O que esperar de um país em que mais jovens não cedem assentos em transportes públicos aos mais velhos? Que seja necessária a criação de lei para que os transportes públicos tenham obrigatoriamente cadeiras para idosos? Empatia e altruísmo zero! Por que os brasileiros não gostam de cumprir leis e regras?