Gerar uma vida e ser responsável por ela exige maturidade, preparo, orientação. Muitas correntes de formação educacional e humana defendem, inclusive, que devemos estudar para ser mãe. É verdade! Hoje, há inúmeros recursos, inclusive digitais e gratuitos, que abrem horizontes, disseminam informações, estimulam o pensar e o agir de forma a encontrar o equilíbrio entre aquilo que acreditamos, escolhemos e aquilo que pode tornar os nosso filhos mais seguros, desenvolvidos e felizes.
Neste fim de semana, que celebramos o dia das mães, proponho um olhar sensível às mães sertanejas. Em 21 anos de jornalismo, percorrendo o Nordeste e visitando minhas próprias raízes, me deparei com cenas comoventes que mostram que maternar também é instintivo, intenso, visceral.
Culturalmente temos diferenças bem marcantes entre a mãe urbana e a mãe rural, a começar pelo ambiente. No interior, há contato com a natureza, liberdade, pé no chão, experiências potentes que aguçam os sentidos e geram mães potencialmente livres de amarras sociais.
Por outro lado, as mães sertanejas muitas vezes não têm o afago necessário, a tão falada rede de apoio. Elas reproduzem a criação dos filhos como quem segue uma tradição. A mãe sertaneja carrega consigo a aridez da terra e a força da natureza humana e ambiental.
É bonito ver o instinto atuar. É bonito se despir das imposições urbanas, modernas. É bonito entender e respeitar as diferenças. Mas essa leitura de mundo também sofreu mutações. Tecnologia, internet… os tempos modernos geraram mudanças. As gerações sertanejas estão minimamente informatizadas e bebendo em outras fontes.
Talvez essa união de “dois mundos” possa resultar em possibilidades diferentes de construção materna. Mãe é amor e força, é sorriso e lágrima, é dúvida e certeza, é vendaval e calmaria. As dualidades se aplicam a qualquer estilo, a qualquer meio, a qualquer versão, porque mãe, antes de tudo, é instinto e instinto não é razão, é emoção.
O caminho é o respeito, a empatia, a troca. Nisso, os tempos modernos ajudam. Aprender e ensinar, falar e ouvir, gritar e calar. Que as mães sertanejas espalhem sua essência e que as mães urbanas imprimam sua identidade. Que se possa abolir a rigidez para abrir espaço para a fluidez da entrega maternal tão inteira e tão desafiadora.