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8 de fevereiro de 2025

“Mandei caia meu sobrado: caiei, caiei caiei”

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Eita Gonzaguinha, obrigada. Minha avó paterna, rainha da minha vida, em vida, vivia com uma cantiga na ponta da língua. Vez ou outra no meio da bagunça da tarde, ela começava alguma, no meio da correria do dia. Lavando as roupas, descascando mandiocas ou descansando suas pernas, era para mim grande alegria assisti-la soltar sua voz.

Voz doce e forte (como é que pode?), resgatava dos tempos antigos a união — e a dor — da vida da família na roça. Tão distante de sua nova realidade, mas nunca tarde para recordar. Um tempo onde o trabalho era desafiador e árduo para se ter o que na mesa colocar.

Onde a noite durava pouco e o sol era sempre a maior companhia. Um tempo onde os pés eram rachados, as mãos continham calos e os olhos muitas vezes cansados pediam de alguém que talvez nem existisse um tantinho de alento. Ah, minha avó. Dos tempos que te vi cantar, saber que cantavas nestes momentos doloridos fazia meu coração se emocionar.

Eu pensava em silêncio, com a inocência e inteligência de uma criança: como pode alguém cantar tão belo em meio a dor e à desesperança? Tudo isso em mim reforça que quem saiu do Nordeste para o meio do mato e fez morada em cada um de nós jamais será esquecida. Sabe, vó Dalva?

A cantiga foi só uma desculpa: eu queria mesmo era falar de ti. Falar que carrego no peito quem você foi e o que me deu: a sua voz, a sua força e o seu coração… Nordestino.

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